Nevoeiro na região de São Paulo é algo bastante comum, principalmente no inverno e no aeroporto de
Guarulhos, aliás, dizem que a palavra "
cumbica" significa nuvens baixas, em
Tupi-Guarani. Nesta última quinta feira saí para fazer um voo com destino a Natal, decolando de
Guarulhos à meia noite. Como o tempo estava bom, céu claro e temperatura de 13 graus, parecia que seria mais um voo tranquilo,
exceto pela luta para se manter acordado na cabine. O embarque estava quase terminando, quando em menos de 20 minutos uma forte névoa tomou conta do aeroporto, se transformando em um denso nevoeiro que reduziu a visibilidade para 300 metros ao longo da pista. Os aviões que vinham para pouso não conseguiam avistar a pista, e foi uma sucessão de arremetidas. Um após o outro, os aviões na aproximação subiam novamente, prosseguindo para suas alternativas, que são, de um modo geral, Campinas e Galeão no Rio de Janeiro. Como o valor de visibilidade requerido para as operações de
decolagem são inferiores aos valores necessários para pouso, fomos autorizados a iniciar nossa movimentação e
taxi para a cabeceira da pista. Com a visibilidade tão restrita, a
movimentação das aeronaves nos pátios e
taxiways requer uma atenção redobrada para não errar o caminho, e principalmente para não entrar na pista em uso. Entrar inadvertidamente na pista em uso é o que na aviação chamamos de "
runway incursion", sendo que acidentes terríveis já ocorreram por causa disso, entre eles, uma colisão entre 2
jumbos, um da
KLM e outro da
PanAm, em 1979 nas ilhas Canárias. Morreram todos os 500 e tantos ocupantes dos aviões, foi o acidente aéreo com mais vítimas na história da aviação. Na
decolagem ficamos bem atentos, pois correndo pela pista a 220
quilômetros por hora, com apenas 300 metros de visibilidade, mal podemos piscar os olhos. Assim que ganhamos altura já saímos do nevoeiro, voando novamente em céu claro e tempo bom, com as luzes da cidade sob a vasta camada de
nuvens. No regresso de Natal para São Paulo,
decolamos com 2 horas de atraso, pois o aeroporto de
Guarulhos continuava fechado para pousos. Foi um verdadeiro caos na aviação aquela manhã de sexta feira. Conseguimos autorização para
decolar com destino ao Galeão no Rio de Janeiro, e a
idéia era que, em voo, caso
Guarulhos abrisse, seguir para lá ou pelo menos para
Viracopos em Campinas. Como
ninguém conseguia pousar em São Paulo (
Congonhas também amanheceu com nevoeiro), os pátios dos aeroportos do Galeão, Campinas e Confins-
BH ficaram lotados e o controle de tráfego aéreo estava determinando que as aeronaves prosseguissem para outras alternativas, sendo que Brasília também estava ficando
impraticável, devido à superlotação nos pátios. Teve um
voo que foi desviado para
Uberlãndia! Nós
continuavamos com autorização para seguir para o Galeão, e chegando mais perto pedimos para seguir com destino a
Guarulhos. Fomos autorizados, mas como ainda estava fechado, ficamos cerca de 30 minutos voando em círculos sobre o mar na região de
Ubatuba. Um lindo visual das praias, e não pude deixar de pensar no meu irmão ao ver a praia de
Itamambuca onde ele mora. Ele devia estar lá no maior
sossego, pisando na areia naquela manhã tão linda na região. E eu lá, voando em
círculos,
monitorando o consumo e quantidade de combustível, falando com os passageiros e com a companhia aérea. Chegou um momento em que não dava mais para esperar, então
conseguimos autorização para prosseguir para
Viracopos. Fizemos a descida com velocidade reduzida na expectativa de abertura de
Guarulhos. Lá pelas tantas, já sobrevoando a cidade de São Paulo, as operações para
Guarulhos foram retomadas, pois a visibilidade tinha melhorado um pouco. Porém havia uma sequência para aproximação, e caso desejássemos entrar na fila, teríamos pelo menos mais 45 minutos de espera. Não tínhamos tanto combustível, então seguimos para pousar
em Viracopos. Lá, pudemos observar que realmente o pátio estava lotado.
Jumbo da British
Airways e
Lufthansa e aviões da
Gol,
Tam, Azul e de outras empresas que não tinham conseguido pousar em São Paulo, além dos inúmeros aviões cargueiros que lá pousam regularmente. O aeroporto de
Viracopos não tem
infra-estrutura para atender a tantos aviões e passageiros ao mesmo tempo, então, após estacionarmos, tivemos que aguardar pelo menos 30 minutos até que um
ônibus da
Infraero chegasse para o desembarque dos passageiros. De
Viracopos, seguimos todos em
ônibus, para quase 2 horas depois chegar em São Paulo-
Guarulhos, pois o
trãnsito na Marginal
Tietê estava terrível! Lá peguei o carro para novamente enfrentar a Marginal na volta para casa. Mais uma hora e meia de
trãnsito, e por volta de 14:30h
s, cheguei exausto em casa.
Direto para um banho, almoço e cama, pois havia
saído para trabalhar, após um dia longo, às 9 horas da noite do dia anterior! Nevoeiro em São Paulo atrapalha bastante, mas não costuma ser tão
intenso quanto o da semana passada, e é por isso que mesmo naqueles dias em que o tempo parece estar lindo, que tudo indica que vai ser mais um dia de trabalho fácil, temos que estar descansados e preparados para surpresas.