O tempo ideal
entre um pouso e uma decolagem, o “trânsito” dentro de uma programação, é de
cerca de 45 minutos. Neste tempo é possível efetuar os preparativos para a
etapa seguinte com calma, dá para fazer um lanchinho na cabine, ir ao banheiro
e até fechar os olhos por alguns minutos. Menos de 45 minutos fica um pouco
corrido e mais que isso, “quebra” o ritmo de trabalho, a menos que se faça algo
produtivo. Neste ano que recém começou já tive dois trânsitos longos que foram
para lá de produtivos, um em Viracopos, Campinas e o outro em Navegantes, SC.
No primeiro caso,
decolamos de Curitiba para Campinas e lá chegando ficaríamos parados por quase
duas horas. O que fazer neste tempo? Um lanche no saguão do aeroporto, bater
papo com os colegas, ler um livro ou talvez um belo e grande NADA. Porém,
quando lá pousamos, ao invés de pararmos próximo ao terminal de passageiros,
fomos orientados a seguir para o pátio de cargas e com isso, a opção de dar um
“rolê” no saguão foi excluída. Viracopos é um terminal de cargas ultra
movimentado e para minha sorte, no mesmo pátio em que estávamos, havia um Jumbo
747-400 cargueiro da empresa Atlas e pousando naquele instante vinha um MD-11
da FedEx. - Essa é a nossa chance de um passeio dignos dos “tarados pela aviação”!
– Pensei eu.
Deixando o avião
sob a responsabilidade do pessoal da manutenção, chamei o copiloto para dar uma
volta pelo pátio. Nosso primeiro destino foi o Jumbo da Atlas Cargo que estava
em processo de desembarque/embarque de carga. A Atlas Cargo possui um total de
44 aviões cargueiros, sendo 36 Jumbos. Devidamente identificados, fomos
autorizados a subir no cockpit do Jumbo, onde havia apenas um senhor
responsável pela limpeza e abastecimento do material de comissária. Foi incrível, havia uns bons anos que eu não
entrava na cabine de um Jumbo! Como é alta a cabine, como é lindo o 747. O
Jumbo é o sonho do piloto de cargueiros, pois o “upper deck” é todo destinado
aos pilotos, com amplo espaço para poltronas, galleys, e as camas para o repouso.
Caminhamos pelo estreito espaço entre os “pallets” de carga e a lateral do
avião e pudemos ver o “nariz” do 747 se abrindo.
Saindo do 747,
continuamos nossa caminhada passando em frente ao MD-11 da Centurion Cargo;
aquele que interditou a pista de Viracopos por quase 48 horas no ano passado.
Ele continua lá, cheio de material em volta para o conserto. Também passamos em
frente a um velho guerreiro: um Boeing 727 cargueiro da FedEx. A FedEx possui
644 aviões, muitos deles de pequeno porte para atender às pequenas cidades
americanas. O próximo objetivo seria tentar entrar em um dos 64 MD-11s da frota
da FedEx. Sabia que não era um bom momento para visitas, pois os três pilotos
estavam chegando naquele instante e com certeza tinham muito a fazer. Mesmo
assim o comandante foi muito gentil e não apenas nos convidou para subir a
bordo, mas também fez questão que sentássemos nos assentos deles enquanto ele
cuidava de outras tarefas. Eu parecia criança e sorri contente ao me sentar no
assento da esquerda. Por um breve instante voltei alguns anos no tempo e
recordei os bons anos em que eu era comandante de MD-11, tendo inclusive feito
voos cargueiros como aquele. Fotografamos, agradecemos e retornamos ao “nosso
Boeinguinho”. Decolamos para o Galeão e
na sequência, de volta para Guarulhos.
Na semana seguinte
foi a vez de uma escala prolongada em Navegantes/SC. Naquela manhã eu tinha
acordado às 03:30 hs, então aquele tempo parado seria perfeito para um bom
cochilo, porém...Olhei para o lado e observei os hangares da Lider, onde,
naquele horário das oito da manhã, os helicópteros estavam sendo preparados
para mais um dia de voos até as plataformas, distantes até 200 quilômetros da
costa. Chamei o copiloto e lá fomos para um “tour”. Primeiro fomos recepcionados
por um dos mecânicos da Lider que nos mostrou os helicópteros e respondeu às
nossas perguntas. Depois foi a vez de um dos comandantes nos contar detalhes
das operações nas plataformas da Petrobrás. Incrível, os helicópteros que de
longe parecem pequenos, na verdade são muito grandes e sofisticados. O
comandante nos deu detalhes de como funciona o pouso nas plataformas em dias de
ventos fortes e das dificuldades adicionais por conta da oscilação das
plataformas em dias de mar mexido.
Faltando quarenta
minutos para a nossa decolagem, mais uma vez agradeci s e, junto com o
copiloto, seguimos nosso caminho para regressar a Congonhas.
Foi muito legal,
em menos de dez dias, dois trânsitos longos que eu soube aproveitar bem.