Os pilotos são incentivados pelas empresas aéreas a fazerem anúncios aos passageiros durante o vôo de cruzeiro, seja para mantê-los informados a respeito de atrasos ou outras situações fo
ra da rotina, ou apenas para informar o horário estimado de chegada no destino e outras informações da rota. Geralmente os anúncios, ou “speeches”, são muito parecidos, do tipo: - Senhoras e Senhores, com sua licença, aqui é o comandante para algumas informações sobre o nosso vôo. Fala o básico, dizendo a temperatura do ar externo e a velocidade do avião, terminando seu anúncio com um – E pela sua atenção, obrigado. Em minha opinião, este tipo de “speech” é muito mecânico, sem emoção, e os passageiros já não prestam atenção. Em 1986, quando eu comecei a voar o Electra na Ponte Aérea, meu instrutor, Cmt Ronald Wendorff, já me incentivava a fazer anúncios aos passageiros, praticando assim a comunicação com eles. De lá para cá meus speeches se tornaram bem agradáveis aos passageiros, e,modéstia à parte, tenho recebido comentários bem positivos por parte dos passageiros e comissários. Durante o desembarque costumo me despedir dos passageiros, momento em que alguns pedem para visitar a cabine, tiram fotos sentados no assento do comandante e fazem elogios. Os elogios por escrito são mais raros, mas de vez em quando eles acontecem. O melhor deles ocorreu em dezembro de 99. Voava na Ponte Aérea em um dia difícil no eixo SP/RJ, com chuva, aeroporto fechado e vôos atrasados e conseguimos encerrar o embarque no Santos Dumont por volta de meia noite. Antes da partida dos motores dei as boas vindas, pedindo desculpas pelo atraso e expliquei as razões para tal demora. Durante o vôo e após o pouso em Guarulhos (Congonhas já havia encerrado as operações daquele dia) por volta d
e uma hora da madrugada, fiz mais uns anúncios e no desembarque saí da cabine e fiquei em pé junto à porta me despedindo de todos. Um senhor me abordou, me parabenizou pelo trabalho, dizendo que eu havia salvado a noite para a Varig, e que lamentava não estar de posse de seu “cartão-estrela” para poder me entregar. Este “cartão-estrela” era entregue aos “frequent flyers” para que dessem aos funcionários que eles julgassem ter superado as expectativas. Já havia recebido um cartão parecido em uma campanha similar aonde na maioria das vezes quem era presenteado com estes cartões eram os funcionários de check-in e comissários, pois são quem estão na linha de frente, lidando diretamente com os clientes. Pois bem, dias depois daquele vôo, recebi em casa uma encomenda via correio. Era um envelope grande, do tal passageiro, que depois, fiquei sabendo que era um alto executivo, membro do Conselho de Administração de diversas empresas. Na carta, com cópia para o Presidente da Varig, ele reiterava os elogios pelo meu desempenho naquela noite, ressaltando minha cordialidade, habilidade e consideração pelos passageiros, e aproveitou para desejar um feliz Natal e Ano Novo. Além disso, no envelope estava o tal “cartão estrela”, além de um livro ilustrado sobre a MBP instrumental, com 2 CDs dentro e uma carteira de couro! Fiquei muito orgulhoso e contente, especialmente porque dezembro é o mês de dissídio coletivo da categoria dos aeronautas, mês em que o sindicato luta por melhores reajustes, enquanto as empresas não querem dar nada. Esta semana, durante a escala em Porto Alegre, um casal foi na cabine. Tiraram fotos, fizeram perguntas e etc. No desembarque me passaram um bilhetinho, que, por ser mais curto, reproduzo a seguir:
Comandan
te Carvalho e sua equipe: Obrigado por transformar esta viagem mais alegre e divertida. Sua experiência transmite a calma e paciência que muitas vezes precisamos para voar com sentimento mais seguro. Seu humor modifica nosso humor e proporciona uma viagem descontraída. Isso faz a diferença, e melhor, contagia a equipe que também nos contagia. Grande abraço. Sorte para todos. Edilce e Alexandre.
Fico muito feliz, pois de fato, minha comunicação tem sido bem recebida e com isso o trabalho dos comissários fica muito mais fácil. Este reconhecimento por parte dos passageiros, vê-los desembarcando contentes é um dos motivos pelo qual eu amo minha profissão.