Estavamos chegando de Buenos Aires para pouso em Guarulhos por volta de meia noite, quando acompanhamos a comunicação entre o controle de tráfego aéreo e uma aeronave com problemas técnicos. A aeronave em questão estava sem indicações que confirmassem que o trem de pouso estava abaixado e travado.
O sistema de indicação é composto de luzes que ficam verdes quando as rodas estão abaixadas e travadas (neste caso, 2 luzes para os trens de pouso situados sob as asas e uma luz para o trem de pouso do nariz do avião) ou vermelhas que indicam que o trem de pouso não desceu, ou que desceu, mas não está corretamente travado em baixo. Os aviões geralmente possuem dois sistemas de indicação, independentes um do outro. Quando há apenas um sistema, existe uma maneira alternativa de verificar a situação dos trens de pouso através de visores no piso do avião, onde por meio de um jogo de espelhos pode-se efetuar uma confirmação visual.
Os pilotos daquele vôo, por não terem a indicação de que as rodas estavam em posição correta para o pouso, estavam efetuando espera sobre a região de Atibaia. Estudavam a situação, efetuando os “check-lists” apropriados para de alguma maneira eliminar aquela pane. Eles estavam quase certos de que o trem de pouso estava abaixado e travado, mas não obtendo a indicação pelo painel, solicitaram ao controle de aproximação para efetuar uma passagem baixa sobre a pista de pouso para que a torre do aeroporto efetuasse uma verificação visual.
Nós seguimos em nossa aproximação e pouso, porém após liberar a pista em uso, tivemos que aguardar um tempão para prosseguir o taxi para o local de estacionamento. Isso porque a passagem baixa da aeronave seria pela pista mais próxima à torre de controle (Guarulhos possui 2 pistas paralelas) que normalmente é usada para decolagens. Com as decolagens suspensas temporariamente, logo se formou um congestionamento no pátio, travando completamente a movimentação dos aviões que chegassem ou que pretendiam decolar.
Ficamos parados com uma visão perfeita da aproximação final, na expectativa de ver o rasante que iria acontecer em breve, pois a passagem baixa nada mais é que um rasante sobre a pista.
De repente, lá vinha o Boeing na final! Ele vinha com os faróis de pouso ligados, e isto dificultava a visualização do trem de pouso. Peguei o microfone e na freqüência da torre de controle falei: - Desligue os faróis de pouso e ligue as “Wheel Well Lights”! Estas são as luzes que iluminam o interior do alojamento dos trens de pouso. Imediatamente eles corresponderam à solicitação, voando baixo sobre a pista de Guarulhos. Uma bela passagem em que claramente observamos as rodas em baixo, aparentemente sem problema algum. Outros aviões nas proximidades, bem como a torre e uma equipe dos Bombeiros estrategicamente posicionada, tiveram a mesma percepção, que foi informada ao Comandante do vôo.
O avião circulou novamente para se preparar para o pouso. Havendo uma razoável certeza de que estava tudo OK, que era apenas uma falha no sistema de indicação, não houve necessidade de declarar uma situação de emergência por parte do Boeing. Tão pouco a tripulação deve ter preparado os passageiros para uma condição anormal no pouso. Mas pelo sim ou pelo não, os passageiros mais atentos devem ter dado uma olhada com atenção no cartão com instruções de emergência, aqueles cartões que na maioria das vezes, ninguém dá a devida importância. Toda a tripulação também deve ter revisado os procedimentos de emergência e evacuação para o caso de algo sair errado.
Eu já tinha desembarcado quando observei o avião pousando normalmente. No final das contas, o problema era somente a falta de indicação, o trem de pouso estava corretamente abaixado e travado. Não passou de um pouco de emoção em mais um dia na rotina agitada de um grande aeroporto.
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Há 20 horas
No caso se o trem não tivesse baixo o piloto podia dar uns solavancos pra tentar baixar por gravidade, certo? Isso sim ia deixar os passageiros ligados!
ResponderExcluirViagens de avião sempre tem algo que acontece diferente. Aqui em Londrina, vira e meche aviões vão entrar no gate, e percebem que estão entrando no errado, viram totalmente e vão para o outro do lado. E o pior, o balizador tá lá no outro gate!
ResponderExcluirEsses tempos, fiz um voo de B737, olhei pela janela e ví em cima da asa escrito: "Não pise".. Pensei.. e achei melhor obedecer... hehehehe
Boas comandante!
ResponderExcluirDesde ja queria deixar os PARABENS pelo Blog. Sendo que na aviaçao por melhores que forem as notas e bons pilotos sejamos, o que mais conta é a experiencia. Experiencia essa que o senhor vai nos transmitindo.
Eu nasci em Brasilia mas bem novinho fui morar para a Argentina. Sou filho de pai brasileiro e mae Argentina! ( nem queram imaginar minha casa quando da jogo Brasil vs Argentina). Actualmente moro em Lisboa, Portugal. Estou pensando em arrancar com a carreira de piloto ano que vem. no aerodromo de tires em cascais (uma zona espectacular, com um circuito padrao que engloba serra praia e cidade). O meu contacto é richard_cas10@hotmail.com (msn). Gostava de trocar umas ideias em relaçao a esta grande grande profissao que me facina desde sempre. Abraço
Caro Diego, neste tipo de avião (B737) não adianta tentar baixar no tranco. Há um gancho no alojamento do trem de pouso, que ao ser comandado libera o trem que cai por gravidade e trava em baixo. Trancos não vão liberar este gancho. Se o trem estiver em baixo mas não travado, uns trancos pode até resolver, mas em princípio seria uma "tentativa desesperada" pois o peso do conjunto deveria ser suficiente para traválo em baixo. Um abç Roberto
ResponderExcluirConheço o caso de um Avião da Eastern que cumpria o voo 401 para Miami,que teve um problema muito parecido com este, a tripulação já pronta para o pouso teve indicação de o trem
ResponderExcluirde pouso não estava corretamente posicionado e iniciou orbitas sobre os Everglades, o avião era um Tristar L 1011,enquanto tentavam determinar se o trem de pouso estava no lugar correto o comandante se impacientou e ao deixar seu posto bateu contra o manche desativando o piloto automatico e colocando a aeronave em uma atitude picada,estavam a apenas 2000 pés e em pouco tempo entraram voando no pantano!!
Pode se perceber que mesmo uma pequena emergencia deve ser bem gerenciada para se evitar grandes acidentes.
Quem quiser ler a historia toda é só acessar www.jetsite.com.br, o fato é veridico!!
Nossa... agora que reparei na foto.. Um 737-300 com EFIS de cristal líquido... Legal!! Ficou massa!
ResponderExcluirCaro Carvalho, parabéns pela percepção técnica do ocorrido, própria dos bons profissionais como você. Permita-me acrescentar humildes detalhes. A luz verde do trem de pouso do nariz não acendera, apesar de apresentar teste normal ao ser pressionada. Pela brevidade de tempo, optamos por interromper a aproximação para efetuarmos os checklists necessários bem como as comunicações com a manutenção, controle de tráfego, companhia, comissários e passageiros. O visor do trem estava com pouca transparência e o arriamento manual também não adiantou. Declaramos emergência e preparamos os passageiros para uma eventual emergência após o pouso, tudo "by the book".
ResponderExcluirMas após o pouso o nosso velho e querido 737 acendeu a luz tão esperada, nos pregando uma pegadinha.
Valeu pela lembrança, aquele abraço e bons voos.
Há também pela cantada dos faróis !