Ao se apresentar para um voo os
tripulantes se reúnem para um briefing onde o comandante deve abordar alguns
aspectos da rotina, informar se há previsão de mau tempo, enfatizar algum
procedimento que possa ter sido alterado recentemente e outros aspectos do voo
a ser realizado. Quando há tempo disponível, além dos itens técnicos previstos para o briefing, eu gosto de bater um breve papo com os tripulantes; de onde
são, se estão descansados e quais são os planos para o pernoite. Esta é uma
excelente maneira para os tripulantes se conhecerem e para que o comandante
desfaça eventuais barreiras na comunicação entre os pilotos e os comissários.
O dia havia começado cedo, com o
despertador tocando ainda na madrugada, já que a decolagem de Guarulhos estava
programada para as seis da manhã. Junto com os demais tripulantes me apresentei as 05:15 hs e para aquele voo, e não consegui realizar o briefing do jeito que
eu gosto pois além de não haver tempo de sobra, era sem dúvida um horário de
pouca animação.
Seguimos para o avião e decolamos no
horário com destino a Salvador onde o tempo também estava bom. Em Salvador, após uma hora de solo, decolamos
para o Galeão, no Rio de Janeiro. O tempo na Cidade Maravilhosa estava nublado,
com chuva leve, mas nada que atrapalhasse a nossa chegada naquela manhã.
Acontece que com o tempo nublado, o aeroporto Santos Dumont estava fechado para
pousos, assim como aeroporto de Jacarepaguá, que é usado pela aviação
“pequena”. Com isso, a quantidade de aviões querendo pousar no Galeão era grande
e ao abandonar o nível de cruzeiro no início da descida fomos orientados a
manter o sobrevoo da divisa dos estados de Minas Gerais com o Rio de janeiro em
procedimento de espera.
Tínhamos uma boa quantidade de combustível
extra e enquanto aguardávamos verificamos as condições meteorológicas das
possíveis alternativas (São Paulo, Belo Horizonte e Vitória). Para piorar a
situação, um pequeno avião que se destinava a Jacarepaguá declarou situação de
emergência por escassez de combustível solicitando prioridade para pousar no
Galeão. Enquanto este avião não pousasse, todas as operações de aproximação
estavam suspensas. Quem não pode mais aguardar, seguiu para a alternativa, nós, que estávamos bem, continuamos em espera passando as informações necessárias
aos comissários e passageiros, ponderando e calculando: combustível disponível,
possibilidade de deterioração das condições atmosféricas e etc. Quando, após
meia hora de espera, as operações foram retomadas, havia apenas uma aeronave à
nossa frente na sequência de aproximação. Pousamos debaixo de chuva leve.
A última etapa do voo foi com destino a Aracaju e
quando decolamos à uma da tarde, o cansaço dava sinais. Cafezinho, bate-papo,
uma esticada na perna e logo tínhamos Salvador à nossa esquerda, sinalizando
que estávamos próximos do destino. Não víamos a hora de chegar no hotel,
escovar os dentes e, com ou sem banho, cair na cama e dormir.
Há programações e até sequências de
programações de voos em que a tendência do tripulante é entrar no esquema
“trabalhar, comer e dormir”. Naquele pernoite isso tinha tudo para acontecer e
de fato aconteceu para o copiloto, que dormiu até às nove da noite, pediu uma
comida no quarto, só conseguiu dormir às duas da madrugada e no dia
seguinte, após o café da manhã, voltou a dormir até o momento de sairmos do hotel
para mais um dia de voo. Esta “trinca”,
embora inevitável em certas ocasiões, é terrível quando ocorre repetidamente e
para que isso não ocorra, deve-se recorrer à dupla "lazer e atividade física".
Naquela tarde em Aracaju eu dormi pesado, mas deixei o despertador ajustado.
Sabe quando o despertador toca e você demora uns instantes para saber onde
está, que horas são e até quem é você? Foi o que aconteceu comigo naquele final
de tarde. Abri a cortina e o sol ainda não havia se posto, lavei o rosto,
coloquei um tênis e sai para uma caminhada no calçadão da praia de Atalaia.
Sábia decisão. Com o sol se pondo, uma lua
cheia surgindo no horizonte e uma temperatura agradável, caminhei por uma hora, voltando a tempo de tomar um banho e encontrar os colegas para jantar
uma carne de sol. Dormi bem e na manhã seguinte, desta vez bem descansado e
disposto, além de caminhar pelo calçadão, sobrou tempo para curtir uma praia,
dar um mergulho e tomar uma água de coco. Antes de regressar ao hotel passei
num supermercado para comprar um lanche e às duas da tarde, junto com os demais
tripulantes estava fazendo o check-out.
Foram três etapas, todas elas no horário e
sem qualquer dificuldade. Chequei em casa por volta de meia noite e no dia
seguinte... nada de exercício, apenas descansar e curtir a família.