Na “velha” Varig o copiloto ao iniciar a
carreira voava nas linhas nacionais e usava nos ombros uma divisa com duas
faixas. Ao ser promovido para os voos internacionais passava à categoria de
copiloto 3, recebia um adicional no salário e passava a usar divisa com 3
faixas. Quando chegava o momento de
iniciar o treinamento para ser promovido à função de comandante, o copiloto 3
voltava para os voos nacionais e iniciava a instrução voando com um comandante
instrutor. Pilotar um avião sentando no assento esquerdo ou direito é,
mecanicamente falando, praticamente a mesma coisa, é como dirigir um carro na
Inglaterra; nos primeiros minutos é estranho, mas a mente e o corpo logo se
adaptam.
Ocupar
o assento da esquerda dá ao piloto, além o controle do avião nas movimentações
no solo, algumas atribuições normalmente sob responsabilidade do comandante,
tais como dar a partida nos motores, o contato rádio com a manutenção e o
pedido de alguns checklists.
Pois bem, esses dias eu encontrei com um
colega contemporâneo de Varig e durante nosso longo bate papo relembramos as
coisas que fizemos em nossa época de copiloto e que não deveríamos ter feito.
Ele me contou uma estória que aconteceu com ele há quase 25 anos atrás quando
ele era maduro, “pero no mucho”.
Após voar por alguns anos como copiloto 3 nos voos internacionais ele voltou para os voos nacionais para voar ocupando o assento da direita aguardando o momento de iniciar o treinamento para a futura promoção a comandante. Como ele usava 3 faixas nos ombros era comum os comandantes acharem que ele já havia iniciado o processo de instrução e ofereciam a ele o assento da esquerda. Nestas ocasiões ele sempre dizia que ainda não era a hora, que deveria sentar no assento da direita exercendo plenamente as funções do copiloto. Mas um dia um comandante insistiu para ele efetuar o voo sentado na esquerda para que já se acostumasse à nova fase que em breve chegaria. Foi como ofertar um bifinho a um cachorro faminto!
Havia
3 comandantes que sempre deixavam ele fazer os voos na esquerda, já em ritmo de
instrução. Esses 3 comandantes haviam iniciado suas carreiras na Cruzeiro do
Sul, empresa que fora adquirida pela Varig,
e cujo grupo de pilotos tinham uma postura mais liberal e despreocupada.
Como ele tinha 3 faixas nos ombros ninguém percebia a irregularidade, pois
achavam que se tratava de um copiloto em instrução. Até que um dia algo
aconteceu.
Após o pouso em Brasília, logo ao
iniciar o desembarque dos passageiros, eles observaram que justamente o comandante
chefe da instrução, que estava em outro avião a cerca de 200 metros de
distância, ia caminhando em direção a eles. Trocaram rapidamente de assento,
mas já era tarde demais. O chefe da instrução, já sabendo a resposta, perguntou
a este meu colega se ele já havia iniciado a instrução para comandante e diante
da resposta foi conversar com o comandante do voo. Passou uma bela
descompostura nele e disse que só não iria levar o caso adiante em respeito à
amizade que havia entre eles, mas que era bom ele saber que aquela ocorrência
poderia bem resultar em uma demissão. Com cara de quem fez coisa errada, eles
concluíram o voo até São Paulo.
Assim que ele chegou em casa já havia uma mensagem da empresa para que no
dia seguinte comparecesse no hotel onde o comandante chefe da instrução estava
hospedado. Contou o caso para sua esposa
e ainda naquela noite recebeu o primeiro sermão. No dia seguinte fez a barba e
foi preparado para receber o segundo sermão. Ouviu calado, aceitou a bronca,
reconheceu o erro e pediu desculpas. O chefe da instrução concluiu o “sabão”
dizendo que tinha certeza que o nosso amigo seria um dia promovido a
comandante, mas que estivesse preparado e estudasse bastante, pois não iria ser
fácil.
Durante muito tempo ele guardou certo rancor, e até receio do comandante chefe da instrução. Mas o tempo passou e ele percebeu que na verdade o comandante foi muito legal por não ter levado o caso adiante e se contentado ao chamar a atenção dele e do comandante que havia permitido a troca de assentos. Como chefe da instrução ele jamais poderia deixar de ter uma atitude após ter percebido o que eles haviam feito.
Parecia que ele tinha aprendido a lição,
até que passado um tempo ele foi voar com uma daqueles três comandantes
“legais”. O comandante ofereceu o assento da esquerda. Ele agradeceu, mas
recusou a oferta. O comandante insistiu. Ele olhou para um lado, para o
outro... E o cachorro abocanhou o bifinho!
Sei lá, mas estou com a sensação de que este caso está mal contado... Será que o tal copiloto não era você?
ResponderExcluirCmte,
ResponderExcluirMuito interessante essa "causo".
Abraços e bons vôos.
Ahaha, "anônimo", ou o caso está mal contado... ou está muito bem contado, com tamanha riqueza de detalhes, que só quem estava no vôo poderia saber kkkkk
ResponderExcluirBrincadeira de lado, não nos deixe por muito tempo seu suas "estórias".
Em tempo, apesar de não ser um grande comandante de um boeing, esse mês iniciei meu curso de piloto de planador...
Não tem acionamento dos motores, nem portas em automático, muito menos interceptação de ils...
mas... voa também!
grande abraço!
Carvalho, você estava andando de bicicleta com um capacete a noite, junto a manifestação próximo a Berrine ontem? (Segunda).
ResponderExcluirSe não era, era muito semelhante.
Abraços.
Estava sim, foi muito bacana. Quem pergunta?
ExcluirAh, desculpe-me pelo Anonimo. Meu nome é Rafael(https://www.facebook.com/rafaelfernandes.azevedo)
ExcluirAcompanho a pouco tempo seu blog, mas já li até 2009 rs. Te reconheci, mas não quis incomodar seu exercício/passeio. Mas na "próxima" vou pedir uma foto heim? haha.
Foi realmente muito bacana todo o movimento. Grande abraço!
Olá Cmte,
ResponderExcluirJá a algum tempo que não passo pelo blog. Achei a história bastante interessante. Parabéns pelo texto.
Aqui se aplica o velho ditado: manda quem pode obedece quem tem juízo!! Mas convenhamos quem nunca transgrediu uma norma!! Há alguns dias fiz um voo em um experimental e me deram o privilegio de ficar a esquerda,ponderei com o "instrutor" um amigo meu piloto da Trip que o correto era o contrario,mas ele insistiu e eu fiz igual ao copiloto da historia "peguei o bife" Rsss!!
ResponderExcluirMuito bom post comandante Roberto,valeu por mais está historia e causo de aviação!!
Ola comandante Roberto, tudo bem com o senhor, estava um pouco afastado devido ao trabalho porém sempre divulgando seu Blog pelo facebook, meu Blog etc..... o senhor é uma fonte de inspiração para nós pobres simuleiros que sonham voando pelo chão, mais uma historia rica de detalhes que nos remetem numa grande imersão.
ResponderExcluirComandante estamos aguardando o senhor lançar um livro com as historias do BLOG, tenho certeza que um dia sai.
Ederson
Blumenau SC
http://projeto737ng.blogspot.com.br/
kkkkk ele fez de novo kk!! Muito bom!!!Abração forte!!!
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