terça-feira, 14 de julho de 2009

Voos panorâmicos

Uma das coisas mais legais nos vôos, é curtir o visual, seja ele a 35 mil pés de altitude ou a apenas mil e quinhentos pés. Aqui no Brasil, principalmente antigamente, conseguíamos belos vôos panorâmicos. Voar para Foz do Iguaçu de dia e quando o tempo estava bom, era quase que obrigatório fazer um sobrevôo das cataratas. O consumo adicional de combustível existe, mas é muito pouco, e principalmente na chegada, ao ter certeza das boas condições para o pouso e já estando o avião mais leve, este tempo e consumo adicional são compensados com um belo visual. Bem, pelo menos nós acreditávamos que valia à pena, pois hoje em dia as empresas não querem este tipo de custo, por isso que antigamente este tipo de vôo era muito mais comum. Na Amazônia, também é possível ter belos visuais. Nas chegadas em Manaus para curtir o encontro das águas, ou sobrevoando o Hotel Tropical. Por outro lado, quando estávamos lá pernoitando, curtindo uma piscina, era um visual legal ver os aviões passando baixo em direção a pista. Em Santarém programávamos uma descida antecipada para poder ver com mais detalhes as praias de rios, e a região de Alter do Chão, com suas areias quase que amarelas. Também na chegada em Porto Trombetas-Oriximinás, era possível curtir a floresta. Antes de chegar sobre o aeroporto, voávamos por alguns minutos, baixo sobre a mata procurando malocas de índios. Havia um vôo de Natal para Recife, que é um trecho curto, onde muitas vezes o controlador de tráfego aéreo propunha uma aproximação que era informalmente chamada de Aproximação V.I.P. (vôo informal panorâmico) onde voávamos em nível de vôo visual (bem mais baixo que o normal) pela linha do litoral, sendo que o controlador que era da região, nos informava sobre qual praia ou região estávamos passando, informando inclusive quando sobrevoávamos a praia de Tambaba, famosa por ser praia de nudismo. Na saída de Salvador um sobrevôo no farol da barra, chegada em Fortaleza com passagem sobre a Praia do Futuro e Iracema. Chegando em Cuiabá, era muito gostoso fazer um visual pela Chapada dos Guimarães. Chegando em Florianópolis com tempo bom, segue-se pelo litoral, acompanhando as praias. O problema é que ao pousar, dá vontade de desembarcar por ali. Outro trecho gostoso de fazer panorâmico era de Ilhéus para Salvador. Morro São Paulo, Itaparica e na chegada o visual da cidade. Voando de Joinville para Itajaí/Navegantes, também podíamos curtir um visual voando mais baixo. Ma o grande visual, o mais belo e impressionante de todos são os efetuados na área do Rio de Janeiro - Santos Dumont, mas que fica para outro dia.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Acrobacias no Planalto Central

Quando estou em Brasília aproveito para encontrar meu cunhado Gerard. Naquela ocasião ele me buscou no aeroporto à noite, e em vez de seguir para o hotel com a tripulação, fui dormir na casa dele. No dia seguinte saímos cedo para um programa diferente. Junto com dois outros amigos, um deles dono de um aviãozinho de acrobacia, decolamos no avião do meu cunhado do aeroporto internacional em direção a Luziânia. O avião, um RV-10 para 4 pessoas, fez o percurso em pouco mais de 15 minutos até a pista do aeroclube em Luziânia, onde o amigo dele, o Broda, possui junto com outro aviador, um Bucker reformado e super bem cuidado. O Bucker é um avião bi-plano, projeto alemão de 1930, usado pela Luftwaffe como avião de treinamento na 2º Grande Guerra, portanto altamente adequado a manobras de acrobacia. O Broda, foi comandante na Transbrasil, e atualmente pilota jatos executivos, além de qualquer outro aviãozinho pequeno que aparecer pela frente. Digo isso, pois estes foram meus argumentos para tranqüilizar minha mulher e filha que ficaram preocupadas, ou melhor, enlouquecidas com meu passeio, achando que eu fui super irresponsável! Além disso, como argumento pró segurança, durante o vôo, usamos pára-quedas! Segundo o Broda, o avião não tem possibilidade de quebrar, porém há sempre uma possibilidade, ainda que remota, de durante alguma manobra haver uma colisão com outro aviãozinho, afinal as manobras são realizadas próximo a área do aeroclube. Antes da decolagem, o piloto dá uma explicação das manobras a serem realizadas, bem como o procedimento para caso de emergência. Como desafivelar o cinto de segurança corretamente, e após pular, como ativar o pára-quedas, e em caso de falha, com ativar o pára-quedas reserva. O interessante é que ele diz que se houver uma necessidade de saltar, ele vai gritar: SALTA! Porém o que eu provavelmente vou ouvir será : SALTAaaaaaaaa.... Significando que ele já saltou! Outra coisa que é enfatizada antes do vôo, é que é normal algumas pessoas enjoarem, e que se isto acontecer, é bom avisar logo, não esperar a situação ficar crítica, caso contrário, corre-se o risco de passar o dia inteiro enjoado, além da possível sujeira naquele aviãozinho tão bem cuidado. Decolamos, ou melhor, ele decolou. Eu no assento da frente e ele no de trás, com touca e óculos, me sentindo o Barão Vermelho. As manobras são loopings, parafusos, vôo de cabeça para baixo e outras piruetas não tão radicais. Ele pilotando e eu curtindo, sendo que no vôo de cabeça para baixo, sentimos a pressão do cinto de segurança nos segurando pelos ombros. Foi final do vôo quando ele me instruiu para comandar as manobras que eu comecei a ficar enjoado. Talvez por deixar de olhar para fora curtindo o visual, tendo que dividir minha atenção para o painel, olhando para o velocímetro e outras informações, meu labirinto ficou confuso. Dei o sinal que não estava me sentindo muito bem, que estava satisfeito com o passeio. Acho que não foi tanto por mim, mas sim temendo que eu sujasse tudo, com o agravante que ele, o Broda, estava no assento de trás, correndo o risco de receber aquilo que eu pudesse por para fora. Sei que em menos de 2 minutos já estávamos pousando de volta, e 30 minutos depois já estava bem novamente. Enquanto eu me recuperava ele saiu para outro vôo, este sim com manobras para lá de radicais. Mais tarde decolamos no RV-10 do Gerard de volta à Brasília. Esta não tinha sido a primeira vez que eu fazia vôo de acrobacia, mas certamente foi a melhor experiência!


  • Reparem na primeira foto como está lindo o Bucker.
  • Na segunda foto dá para observar ao fundo o RV-10 do meu cunhado Gerard.
  • A última mostra o sofisticado painel de instrumentos.






terça-feira, 7 de julho de 2009

17 de fevereiro de1982

O ano de 81 estava chegando ao fim, e eu terminando o 2º colegial. No começo do ano viajei para os EUA em programa de intercâmbio, em julho fui para Recife com os amigos, e só pensava em sair com a turma, aguardando as férias de verão. Foi quando meu pai me disse: - Filho! Puxa, isso me lembra uma música... Meu pai me perguntou se não era o momento de procurar um aeroclube pra tirar o Brevet. Naquele momento a última coisa que eu queria era arrumar compromisso com horário e estudos, então eu desconversei. Mas ele insistiu no assunto, e eu agradeço por sua insistência e apoio, pois então eu fui ao Aeroclube de São Paulo, no Campo de Marte, e me matriculei no curso teórico para Piloto Privado, dando assim o primeiro passo. Três meses de curso, de segunda à sexta feira das 19 às 23 horas, para no final fazer a prova do DAC com as matérias de regulamentos, teoria de vôo, conhecimentos gerais de motores, navegação e meteorologia. Ao mesmo tempo poderia iniciar as aulas práticas em avião Piper 28 para duas pessoas. Previsão de 40 horas de vôo para então se aprovado em vôo de check, tirar o Brevet. No dia 17 de fevereiro, já de posse do exame médico feito no Hospital da Aeronáutica (um bom tema pra um próximo Post) fui para o aeroclube para meu primeiro vôo. Os instrutores eram também bastante jovens, e o escalado foi o Ottoni, que foi com quem fiz também o meu segundo vôo. Os vôos duravam em média 60 minutos, e a área de treinamento naquele dia foi a região de Franco da Rocha, próximo a Mairiporã. Fizemos umas manobras básicas, curva para um ledo, curva para o outro, enfim, uma familiarização com o vôo. Este instrutor foi mais tarde meu colega de Varig, quando fomos colegas no B 737 e MD-11, aliás, não só ele, mas vários outros colegas de Aeroclube. Após uma hora de vôo, pousamos de volta. Foi maravilhoso! Voltei eufórico para casa , e fui me encontrar com os amigos (Olavo, Cymbalista, Fábio Mantegari e Cali) em um barzinho, sendo que me lembro até hoje da camisa que estava usando. Foi um dia mágico. Assim o ano de 82 passou voando para mim. Cursando o terceiro colegial, seria natural que eu estivesse preocupado com o vestibular, mas meu foco era a aviação, assim em maio fui aprovado no exame teórico do DAC. Nos finais de semana quando ficava em São Paulo, ia para o Aeroclube fazer mais uma horinha de vôo. Meu pai bancou o custo das horas de vôo, mas também tive contribuições de minha mãe, e meus avós. Com cerca de 20 horas de vôo, fazíamos o primeiro vôo solo, quando o instrutor descia do avião (geralmente isso acontecia em Jundiaí, que era a principal área de treino) e então saíamos para um vôo de 15 minutos sozinho.Em dezembro de 82, com 17 anos tirei o Brevet de piloto privado, ao mesmo tempo em que passei e me matriculei no curso de Administração de Empresas na PUC em São Paulo. Tinha habilitação para pilotar um avião sobre a cidade de São Paulo, mas não podia dirigir até a esquina de casa. Mais um verão chegou e eu já estava pensando no próximo passo: Brevet de Piloto Comercial, para poder exercer a profissão.