sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Dupla saudável


Ao se apresentar para um voo os tripulantes se reúnem para um briefing onde o comandante deve abordar alguns aspectos da rotina, informar se há previsão de mau tempo, enfatizar algum procedimento que possa ter sido alterado recentemente e outros aspectos do voo a ser realizado. Quando há tempo disponível, além dos itens técnicos previstos para o briefing, eu gosto de bater um breve papo com os tripulantes; de onde são, se estão descansados e quais são os planos para o pernoite. Esta é uma excelente maneira para os tripulantes se conhecerem e para que o comandante desfaça eventuais barreiras na comunicação entre os pilotos e os comissários.

O dia havia começado cedo, com o despertador tocando ainda na madrugada, já que a decolagem de Guarulhos estava programada para as seis da manhã. Junto com os demais tripulantes me apresentei as 05:15 hs e para aquele voo, e não consegui realizar o briefing do jeito que eu gosto pois além de não haver tempo de sobra, era sem dúvida um horário de pouca animação. 

Seguimos para o avião e decolamos no horário com destino a Salvador onde o tempo também estava bom.  Em Salvador, após uma hora de solo, decolamos para o Galeão, no Rio de Janeiro. O tempo na Cidade Maravilhosa estava nublado, com chuva leve, mas nada que atrapalhasse a nossa chegada naquela manhã. Acontece que com o tempo nublado, o aeroporto Santos Dumont estava fechado para pousos, assim como aeroporto de Jacarepaguá, que é usado pela aviação “pequena”. Com isso, a quantidade de aviões querendo pousar no Galeão era grande e ao abandonar o nível de cruzeiro no início da descida fomos orientados a manter o sobrevoo da divisa dos estados de Minas Gerais com o Rio de janeiro em procedimento de espera.

Tínhamos uma boa quantidade de combustível extra e enquanto aguardávamos verificamos as condições meteorológicas das possíveis alternativas (São Paulo, Belo Horizonte e Vitória). Para piorar a situação, um pequeno avião que se destinava a Jacarepaguá declarou situação de emergência por escassez de combustível solicitando prioridade para pousar no Galeão. Enquanto este avião não pousasse, todas as operações de aproximação estavam suspensas. Quem não pode mais aguardar, seguiu para a alternativa, nós, que estávamos bem, continuamos em espera passando as informações necessárias aos comissários e passageiros, ponderando e calculando: combustível disponível, possibilidade de deterioração das condições atmosféricas e etc. Quando, após meia hora de espera, as operações foram retomadas, havia apenas uma aeronave à nossa frente na sequência de aproximação. Pousamos debaixo de chuva leve.

A última etapa do voo foi com destino a Aracaju e quando decolamos à uma da tarde, o cansaço dava sinais. Cafezinho, bate-papo, uma esticada na perna e logo tínhamos Salvador à nossa esquerda, sinalizando que estávamos próximos do destino. Não víamos a hora de chegar no hotel, escovar os dentes e, com ou sem banho, cair na cama e dormir.

Há programações e até sequências de programações de voos em que a tendência do tripulante é entrar no esquema “trabalhar, comer e dormir”. Naquele pernoite isso tinha tudo para acontecer e de fato aconteceu para o copiloto, que dormiu até às nove da noite, pediu uma comida no quarto, só conseguiu dormir às duas da madrugada e no dia seguinte, após o café da manhã, voltou a dormir até o momento de sairmos do hotel para mais um dia de voo.  Esta “trinca”, embora inevitável em certas ocasiões, é terrível quando ocorre repetidamente e para que isso não ocorra, deve-se recorrer à dupla "lazer e atividade física". Naquela tarde em Aracaju eu dormi pesado, mas deixei o despertador ajustado. Sabe quando o despertador toca e você demora uns instantes para saber onde está, que horas são e até quem é você? Foi o que aconteceu comigo naquele final de tarde. Abri a cortina e o sol ainda não havia se posto, lavei o rosto, coloquei um tênis e sai para uma caminhada no calçadão da praia de Atalaia.

Sábia decisão. Com o sol se pondo, uma lua cheia surgindo no horizonte e uma temperatura agradável, caminhei por uma hora, voltando a tempo de tomar um banho e encontrar os colegas para jantar uma carne de sol. Dormi bem e na manhã seguinte, desta vez bem descansado e disposto, além de caminhar pelo calçadão, sobrou tempo para curtir uma praia, dar um mergulho e tomar uma água de coco. Antes de regressar ao hotel passei num supermercado para comprar um lanche e às duas da tarde, junto com os demais tripulantes estava fazendo o check-out.

Foram três etapas, todas elas no horário e sem qualquer dificuldade. Chequei em casa por volta de meia noite e no dia seguinte... nada de exercício, apenas descansar e curtir a família.