terça-feira, 29 de setembro de 2009

Voo Local

Quando vamos iniciar o treinamento para voar um determinado tipo de avião, além do curso teórico envolvendo os diversos sistemas deste avião e mais várias sessões em simulador de vôo para a prática de manobras e procedimentos anormais e de emergência; a legislação aeronáutica exige a realização de um vôo local. Este vôo local é feito na área do aeroporto, onde o piloto em treinamento efetua 5 pousos e decolagens (toca na pista, continua a corrida e sobe novamente sem parada).Se familiarizando assim com o avião antes de seguir para a rota, onde terá mais uma fase de instrução voando acompanhado de um comandante-instrutor. Com o alto nível de sofisticação e realismo dos simuladores modernos, atualmente este vôo local é todo feito sem sair do chão, mas até 1990 era diferente, tinha que ser feito no próprio avião para desespero das empresas aéreas e alegria dos pilotos. Era uma dificuldade tremenda para as companhias ter que tirar um avião da malha aérea e disponibilizá-lo para este treinamento, além do custo com combustível, freio, pneu e etc...Para o vôo local a tripulação era composta de um comandante-instrutor e um co-piloto, e mais 5 ou 6 “alunos” para cada um fazer seus pousos. Havia um pequeno prazer em poder voar sem uniforme, de calça jeans e tênis e enquanto estava aguardando a vez para efetuar os pousos, tínhamos a cabine de passageiros inteira para curtir. Em 1985 no Bandeirante da Rio Sul fiz o vôo local no aeroporto Salgado Filho em Porto Alegre. Lembro que na ocasião eu suava muito, pois além do calor infernal do verão gaúcho, o sistema de ar-condicionado tinha que ficar desligado durante as manobras de pousos e decolagens. Já em 86 no Electra, o treinamento foi em Campinas-Viracopos, onde a pista é grande e o ar-condicionado do velho Electra funcionava perfeitamente. Em 88 foi a vez do vôo local no Airbus A-300. Foi muito legal, pois além do avião ser grande, o A-300 era extremamente moderno em relação ao Bandeirante e o Electra, e a área escolhida foi a base aérea de Santa Cruz, próximo à cidade do Rio de Janeiro. Uma bela pista onde operam os caças da FAB, com uma aproximação linda sobre o mar sobre a Restinga da Marambaia, sendo que a cada pouso e decolagem podíamos curtir o visual de um enorme hangar construído para abrigar os antigos Zeppelins que antigamente lá pousavam. No ano seguinte foi o voo local no 737 em Viracopos. Mas isto é passado, hoje em dia o primeiro pouso de um piloto em determinado avião será em um vôo de linha, acompanhado de um instrutor, é verdade, e cheio de passageiros que, evidentemente, irão desconhecer este fato.

  • A primeira foto mostra a aproximação final para pouso na Base Aérea de Santa Cruz, com o hangar do lado direito da pista, ao fundo.
  • As outra duas eu peguei da internet, sendo que a preto e branco, mostra do dirigível Hindenburg.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Visitas na cabine. Parte II

No período em que voei na Ponte Aérea, a partir de 1998, as visitas aumentaram. Nas noites de sábado, no último voo que vinha do RJ para SP, era comum embarcarem os apresentadores do Jornal Nacional, quando eles provavelmente saiam do Jardim Botânico às 9 e pouco para pegar a Ponte Aérea das 10 da noite e voltar para suas casas. Quando a “aviação” estava tranquila eu ficava na porta da cabine recepcionando os passageiros, então, quando o apresentador Carlos Nascimento embarcava, eu perguntava se havia alguma notícia bombástica. Ele dizia que não, sábado é dia de notícias leves e agradáveis. Sandra Annemberg havia sido minha colega de colégio, porém como ela é mais jovem que eu, e talvez por não estar certa do meu nome, quando eu a cumprimentava ela me saudava me chamando de "caro colega".


Outro jornalista que apresentava o Jornal Nacional aos sábados, que não é o William Bonner mas que também é casado com uma apresentadora de telejornais, aceitou o convite para viajar na cabine. Era uma noite de tempo bom na rota, e ainda em solo ele se acomodou com bastante desenvoltura no assento extra que há na cabine de comando. Ao oferecermos a ele um lanchinho, não só aceitou como pediu para acompanhar um whisky, duplo! Naquela época havia bebida alcóolica para os passageiros, e as doses eram generosas. Uma cara bastante agradável e bom de conversa, sempre que eu vejo ele apresentando notícias na televisão eu me lembro daquele voo.

Um certo corredor de Formula 1, que recém tinha assinado contrato com uma grande escuderia, vinha caminhando pelo pátio (não havia as "pontes de embarque") para embarcar em Congonhas. Abri a janela da cabine, e com uma saudação convidei-o para vir na cabine. Ele aceitou, trazendo com ele um amigo que faz parte da sua equipe. Lá pelas tantas eu perguntei a ele como ele iria lidar com o "Alemão". -Vamos dar um "pau" nele! foi sua resposta. Marisa Orth, que também foi minha colega de colégio, nunca veio na cabine pois morria de medo de avião.

Gisele Itié, quando ainda era uma estreante na Globo, também viajou do Rio para São Paulo na cabine. Rita Lee não aceitou o convite, mas mandou seu representante e marido (também meu xará). Ganhei dele uma palheta com o nome gravado: Roberto de Carvalho. Em outra ocasião, ao pousar em Congonhas, já finalizando o desembarque puxei prosa com a Fernanda Torres e a Débora Bloch que na época estavam com uma peça no teatro Cultura Artística. Ganhei um par de convites e fiz um programa cultural com minha mulher.

Marisa Monte, numa quinta feira indo para SP pois tinha apresentação no fim de semana, também viajou na cabine. Perguntei a ela como fazer para comprar ingresso, pois quando tentava comprar, ou os ingressos estavam esgotados ou ainda não estavam vendendo para a próxima semana. Ganhei um par de ingressos e fui com minha mulher. Na quinta feira seguinte ela embarcou novamente, e desta vez sua irmã/assistente é quem veio na cabine. O copiloto e eu ganhamos um par de ingressos cada um, e desta vez com o convite para dar um pulo no camarim após o show. Levei minha irmã caçula e foi muito bacana, nosso assento era na terceira fileira, bem próximo ao palco. Após o show fomos ao camarim onde parabenizamos a Marisa Monte pelo espetáculo e tiramos fotos com ela. Na quinta feira seguinte, acreditem, novamente ela embarcou no meu voo com destino a SP! Desta vez só a cumprimentei, pois a esta altura ela deve ter pensado que eu era um fã louco, obcecado, e quem sabe, perigoso.

Mais uma estória de VIP,e desta vez internacional: Estávamos aguardando o tempo passar para fazer a última Ponte RJ/SP, quando ouvimos pelo rádio do avião que um helicóptero que havia decolado do Galeão, estava solicitando à torre de controle, autorização para sobrevoar o Cristo e a lagoa Rodrigo de Freitas antes de seguir para pouso no Santos Dumont. Minutos depois, o funcionário de terra responsável pelo embarque veio me perguntar se podia antecipar o embarque de uma passageira que havia chegado de helicóptero e estava aguardando dentro de uma condução junto à escada do avião. -Sem problemas, mas quem é a passageira? Ele leu num pedaço de papel: Queiti Moz, respondeu o despachante. Kate Moss! Wellcome on board!

Ela é uma modelo inglesa famosíssima. Viajou na cabine ela e a sua agente, enquanto sua mãe ficou junto com os demais passageiros. Bonita a moça, e sabe falar inglês direitinho.





segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Visitas na cabine. Parte I

Sempre gostei de receber visitas na cabine de comando, principalmente de crianças, sendo que até setembro de 2001, visitas não só eram permitidas como também vistas como uma espécie de marketing pelas empresas de aviação. Em 86 iniciei o treinamento para copiloto de Electra com meu instrutor, Cmt Ronald Wendorff, aliás, um cara extremamente sociável que gostava de interagir com os passageiros e com os próprios colegas de empresa, então era muito comum termos a presença de visitas na cabine. A cabine do Electra era enorme, além de 4 tripulantes (comandante; copiloto; mecãnico de voo e um tripulante extra) sentados, cabiam uns tantos em pé. Certa vez embarcou em São Paulo a atriz Cláudia Raia e seu namorado, o ator Alexandre Frota e, incentivado pelo meu instrutor, me dirigi à ela convidando-a para visitar a cabine de comando após a decolagem. Ela foi educada e agradeceu o convite enquanto seu namorado me encarava com um olhar nada amistoso. Pousamos no Santos Dumont sem que ela desse o ar da graça! Em outra ocasião, durante o embarque, este meu instrutor estava para subir a escada do avião quando avistou e abordou um passageiro na fila que carregava um violão nas costas. Puxou prosa dizendo que gostava de música e poesia, convidando-o para dar um pulo na cabine quando em voo, e que levasse seu violão. Nem ele nem o mecânico de voo conheciam o passageiro, e assim que ele entrou na cabine eu o reconheci. Era o Jards Macalé, um músico e cantor de MPB. Durante o procedimento de descida no Rio de Janeiro, ele ia dedilhando seu violão, parecia um pouco nervoso pois voávamos dentro das nuvens. Quando finalmente saímos das nuvens, já sobre o mar, com o visual da restinga da Marambaia, Recreio dos Bandeirantes e Barra da tijuca, e a Pedra da Gávea à frente, ele se animou e exclamou: Terra à vista, sinto a alegria de Cabral! Fizemos uma aproximação linda, com as praias pelo lado esquerdo, até cruzar sobre Copacabana, sobrevoar o Shopping Rio Sul, deixando o Cristo à esquerda, o Pão de Açucar à direita, voando baixo sobre a enseada de Botagogo e o pouso no Santos Dumont. Isso tudo com o Macalé tocando e cantando o Samba do Avião: "Minha alma canta; vejo o Rio de Janeiro...Cristo Redentor braços abertos sobre a Guanabara...dentro de mais um minuto estaremos pousando...aperte o cinto, vamos chegar, agua brilhando, olha a pista chegando e vamos nós pousar...". Foi muito legal! Dias depois, também com meu instrutor, mas no trecho RJ-SP, novamente o Jards Macalé foi na cabine, porém sem seu violão. Na chegada em São Paulo, saindo das nuvens sobre a Av. Faria Lima para pouso em Congonhas, noite de garôa na cidade e ele cantarolando a melô de São Paulo: Ê São Paulo, ê São Paulo, São Paulo da garôa, São Paulo terra bôa. As perguntas dos passageiros costumam ser as mesmas: Como conseguimos saber a função de todos os "reloginhos", a quantos anos estamos voando, ou se o tempo está bom no destino. Hoje em dia, com todos os programas de "flight simulator" da microsoft, muitos passageiros possuem uma boa noção dos instrumentos da cabine, e principalmente os jovens surpreendem com perguntas bastante específicas relativas as técnicas de pilotagem. Muitas vezes quando o tempo de voo era longo, e a rota estava boa, sem turbulência, eu fazia uma saudação aos passageiros e dizia que a cabine estava à disposição para visitas. Era uma festa, a fila se formava no corredor, sendo que quando eram crianças os visitantes, tínhamos que controlá-los bem, pois se dependesse deles, eles mexeriam em tudo. Na maioria das vezes eram visitantes anônimos, mas de vez em quando vinha um político, que sempre dizia estar atento para os problemas da aviação, prometendo que estava lutando por nós. Mas as melhores estórias ficam por conta dos VIPs, famosos e Globais, que quando voltei para a Ponte Aérea em 1998, visitaram a cabine no trecho SP/RJ/SP. São tantas que ficam para a parte II.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Emergência no voo

Hoje sai para um voo de Congonhas para o Galeão no Rio de Janeiro, mas não consegui chegar lá! Já na decolagem, quando ainda estavamos a aproximadamente 140 Km/h, tivemos uma falha no motor, ele simplesmente apagou. Imediatamente interrompemos a decolagem! Sem dúvida um susto para todos, mas após as devidas explicações, voltamos para o estacionamento e entregamos o avião para a manutenção. Problema solucionado e vamos novamente, sendo que desta vez a decolagem transcorreu sem problema algum. Porém, durante a subida, percebemos um problema no sistema de pressurização, e interrompemos momentaneamente a ascenção ao nível de cruzeiro, para efetuarmos o "check-list" pertinente, solucionando assim a pane. Mas o sistema de pressurização estava de fato predestinado a uma falha, e quando voando tranquilamente em nível de cruzeiro, tivemos uma súbita despressurização da cabine. O copiloto e eu rapidamente colocamos nossas máscaras de oxigênio, e tentamos reestabelecer a pressurização. Também na cabine de passageiros as máscaras cairam, e não obtendo sucesso em normalizar a situação, decidimos realizar uma descida de emergência para uma altitude onde todos pudessemos respirar sem auxílio de máscaras. Uma descida abrupta e tensa para todos. Após nivelarmos e podermos retirar as máscaras, entramos em contato com os comissários para saber qual era a situação dos passageiros. Estavam todos bem, exceto um senhor que bateu a cabeça e estava muito nervoso. Fiz um anúncio a todos explicando o que ocorrera, e informei que estavamos seguindo para pouso em Guarulhos. Mas as surpresas não haviam terminado, pois quando estávamos na aproximação, tivemos uma dupla falha hidráulica devido ao completo vazamento de fluído hidráulico. Mais uma sequência de "check-lists" e procedimentos antes de poder seguir para o pouso. Com dupla falha hidráulica, os flapes e trem de pouso necessitam de métodos alternativos para serem movimentados, e após o pouso, não temos como taxiar o avião, então um reboque se faz necessário. Pousamos com segurança, quase uma hora após a decolagem de Congonhas. E 10 minutos depois já nos preparávamos para uma nova decolagem. Um grande susto? Não, foi apenas uma sessão de simulador de voo. Anualmente temos 3 dias de recilagem com treinamento e avaliação nos simulador, onde revisamos, praticamos e aprendemos manobras e procedimentos. Espero nunca ter estas panes na vida real, e provavelmente não as terei em toda a minha carreira, mas se acontecer...

  1. Ambas as fotos mostram um simulador de voo, a cabine que é igual ao avião e visto por fora, com sua "patas" que sobem e descem para dar a sensação de movimento de voo.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Há algo mais nos céus além dos aviões de carreira

Ontem pela manhã, domingo antes das 7 hs, estava chegando para pouso em São Paulo-Guarulhos quando pudemos avistar vários balões no céu. Na aproximação final, no trecho próximo à Serra da Cantareira, sobre a zona norte da cidade, havia pelo menos 3. Já sobre a cidade de Guarulhos, vimos mais 2 balões"decolando" e além do aeroporto, na trajetória de decolagem, mais uns 3. No total eu contei 11 balões! Além do risco de incêndio nas matas e edificações, eles são um perigo para a aviação, pois podem chegar a 30 metros de altura, sendo que sua estrutura possui ferro, botijões de gás, muitas vezes eles carregam fogos de artifício, suspendendo bandeiras e faixas e outras surpresas. À noite, eles podem carregar lãmpadas e mais lãmpadas para ficarem bem iluminados. Aqui em São Paulo e principalmente no Rio de Janeiro, os balões são muito comuns de serem avistados nas manhãs de domingo quando o dia amanhece com tempo bom e vento calmo. No mês de julho, com as festas juninas, a incidência é maior, mas nem precisa ser em julho, se o domingo for uma data especial, tipo dia das mães, dos pais ou das crianças, o número deles aumenta, sendo que nestas ocasiões eles carregam faixas com mensagens. Se o Corinthians for campeão, nem se fala! Agora imagine um domingo no Rio de Janeiro, Flamengo campeão, dia das mães nos mês de julho...é melhor não voar, ou pelo menos esperar que os pilotos estejam de olhos bem abertos na cabine. Como eles costumam ser bem grandes, e os baloeiros só os soltam com tempo bom, não fica difícil para os pilotos avistarem com certa antecedência e desviarem, mas ainda assim são uma grande ameaça aos aviões, já que uma colisão, seja ela com o nariz, asa ou motores do avião podem ter consequências sérias. Há um tempo atrás, havia uma outra espécie de balões nos céus do eixo SP/RJ. Eram uma espécie de saco de lixo, em forma tubular e bem comprido, preto, de plástico bem fino e leve que ao serem enchidos com ar, e na medida que eles eram aquecidos com o próprio calor do dia, eles subiam e seguiam ao sabor dos ventos. Eram muitos, dezenas, centenas deles! Decolávamos de Congonhas para o Santos Dumont-RJ e durante todo o voo eles estavam por perto. Na volta idem, acho que eles eram soltos aqui em SP e seguiam para o RJ pelos ventos. No céu, eles se enrolavam neles mesmos, ficando na forma de um espiral, parecendo fragmentos de DNAs gigantes. Já que não possuem estrutura alguma, são apenas grandes sacos de ar, o perigo talvez não seja tão grande, mas nem pensar em atropelar um desses, pois sabe-se lá o que pode acontecer! Um pedaço do saco entupindo um tubo de Pitot, ou enroscado nas asas pertubando o fluxo de ar não seria tão improvável de ocorrer. Balões são bonitos, mas muito perigosos.

  • A primeira foto mostra os "balangandans" que um balão pode carregar.

A segunda é para ter uma noção do tamanho destes brinquedos, sendo que eles podem ser bem maior que um carro de passeio

A última eu tirei ontem no aeroporto de Guarulhos. Notem que há 2 balões que recém haviam sido soltos.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

1984

O 1º semestre de 84 seguia sem muitas novidades, acumulei mais horas de voo e tirei a licença de Piloto Comercial, para poder exercer a profissão. Fazia voos de instrução e simulador de voo para o passo seguinte que seria obter a licença de IFR, ou seja, voo por instrumentos. Foi no final do semestre que mais uma vez meu pai me deu uma força, um empurrão seria a palavra mais adequada, que foi fundamental, e por isso, mais uma vez sou muito agradecido à ele. Ele leu em algum lugar sobre cursos que a Varig estava dando em Porto Alegre, e me perguntou se eu sabia de algo a respeito, insistindo para que eu me informasse se realmente havia estes cursos, e caso positivo, procurasse saber os requisitos necessários, vagas, valores e etc. Na hora não dei muita importãncia, até porque, justamente naquele momento, estava surgindo uma oportunidade de um emprego de copiloto em um avião do Bradesco. Mas meu pai insistiu, dizendo com razão que empregos poderiam surgir mais tarde, e que um curso na Varig seria uma oportunidade única. Então lá fui eu de ônibus para Porto Alegre atrás das informações necessárias. Estavam abertas as inscrições para a 5ª turma do Curso de Atualização e Aperfeiçoamento para Piloto Comercial, o 5ºCAA. Nos últimos 10 anos a Varig crescera muito pouco, e aliado à incorporação da Cruzeiro do Sul em 1975, quase não houve admissões nem promoções neste tempo, porém um período de crescimento estava chegando e a Varig iria precisar de muitos pilotos nos próximos anos. Assim a EVAER (Escola Varig de Aviação) foi reativada com os CAAs, que ao todo foram 6, e foi uma espécie de cursinho para quando a Varig abrisse vagas para pilotos. Quando houvesse os exames de admissão de pilotos, a Varig já possuiria uma quantidade de profissionais com uma boa base teórica e um certo conhecimento da empresa e suas operações. O curso era pago e não havia nenhuma garantia de emprego, mas mesmo assim seria certamente um diferencial na minha formação para mais tarde conseguir um emprego na aviação. Quando decidi ser piloto aos 12 anos de idade, não pensava em um emprego específico, queria se piloto e voar o que fosse! Se pudesse ser o Concorde seria bom, mas se fosse um aviãozinho de um fazendeiro, ou um taxi-aéreo seria bom também. Nos meus sonhos mais audaciosos eu imaginava poder um dia voar na Vasp, mas a Varig realmente não passava pela minha cabeça, achava que era impossível, coisa para Gaucho! Voltei para São Paulo com os formulários necessários para me inscrever no curso que tinha duração de 6 meses, de julho a dezembro, sendo que para pagar o curso que custava 240 ORTNs (obrigações reajustáveis do tesouro nacional), vendi meu Chevete 81 que havia ganhado do meu pai no ano anterior. Me mudei para Porto Alegre, me juntando a outros 19 pilotos com idade entre 19 e 30 anos. Além das matérias de aviação, tinhamos aulas de matemática, física, inglês, etiqueta (parece piada, mas tinha mesmo!), educação física, marinharia(sobrevivência no mar), sobrevivência na selva e palestras diversas. Como eu recém havia concluido o 2º grau, estas matérias eram fáceis (com relação à etiqueta, as vezes dou meus deslizes, o que mostra que as aulas foram inúteis), mas como o grupo era muito heterogêneo, as matérias tinham sua razão de ser. Em setembro de 84 houve uma prova para admissão, mas somente 5 colegas da turma puderam fazê-la, pois a maior parte do grupo, assim como eu, ainda não tinha os requisitos necessários. No meu caso ainda faltava a licença de IFR e Multimotor, então continuei no curso com a turma desfalcada em 2 colegas que passaram na prova e naquele mês mesmo foram admitidos de copiloto na Varig. Sobre o curso, as aulas e a vida lá em Porto Alegre, eu conto mais para frente.