domingo, 25 de maio de 2014

Rio Branco, ontem e hoje.

Quando em 1989 eu passei a voar o Boeing 737-200, um dos destinos frequentes era Rio Branco, capital do Acre.  Gostava do pernoite e sempre arrumava o que fazer, até porque, a 25 anos atrás não havia internet e nem todos os hotéis possuíam TV a cabo. Ficávamos no melhor hotel da cidade, o Pinheiro Palace Hotel, que chamávamos de Pinheiro "Parece" Hotel.

Na época em que há horário de verão, Rio Branco fica três horas mais cedo que o horário de Brasília, o que trazia algumas dificuldades para os tripulantes; se acordávamos às 8 da manhã do horário de Brasília, ainda não havia café da manhã no hotel. Se desejássemos almoçar a uma da tarde, portanto dez da manhã em Rio Branco, dificilmente encontrávamos um restaurante.  

Certa vez, junto com o copiloto, sai para procurar um local para tomar uma cervejinha. Já era noite pelo horário de Brasília, final da tarde em Rio Branco quando nos embrenhamos num misto de área residencial, com um pouco de comércio, e uns botecos. Tudo isso sobre palafitas às margens do Rio Acre. Foi um dos locais mais estranhos em que eu já estive; cachorros maltratados passando, lá embaixo ratos circulando, e a cerveja muito gelada. Apelidei aquele local de Shopping Palafitas. Em 1997 passei a voar o 737-300 e deixei de voar para Rio branco.

No ano passado, portanto 16 anos depois, tive um pernoite em Rio Branco. Quanta mudança! A começar pelo aeroporto, que foi desativado e um novo construído numa área mais afastada da cidade. O antigo ficava bem próximo ao centro da cidade e numa época em que só havia 2 voos por dia da Varig, era comum a decolagem ter um pequeno atraso, pois uns poucos e assíduos passageiros aguardavam o avião sobrevoar a cidade para então se dirigirem ao aeroporto, causando atraso no “fechamento do voo”.

A cidade cresceu e melhorou bastante. As praças estão bem cuidadas e uma grande área chamada Parque da Maternidade foi criada. A margem do Rio Acre junto ao centro da cidade foi revitalizada com a construção de uma passarela ligando um lado ao outro da cidade e com a reforma do mercado onde há restaurantes botecos e comércio. E o “Shopping Palafitas” não existe mais.

Em minha caminhada pela cidade fiz questão de visitar o Pinheiro Parece Hotel, digo, Palace Hotel. Não satisfeito fui caminhando até o local onde era o antigo aeroporto. Foi estranho caminhar pelo pátio onde por tantas vezes taxiei o 737 “Breguinha”. Onde era a pista agora é uma avenida, a torre de controle está abandonada, bem como o que antes era o aeroporto propriamente dito.

Em meio a tantas mudanças, uma coisa continua igual em Rio Branco: a excelente qualidade do serviço de “catering”. Até 97,o responsável pelo embarque das refeições era o Seu Lima, um senhor baixinho que era só simpatia e fazia o possível e o impossível para agradar os tripulantes. Quando passávamos por Rio Branco no “voo da subida”, RG 484 São Paulo/Manaus com escalas, fazíamos nosso pedido de refeição para o voo da volta, que geralmente era um ou dois dias depois. Filé à Parmegiana, peixe, massa e outros pedidos que o Seu Lima fornecia em quantidades fartas. No voo da subida embarcava o clássico de Rio Branco; um bolinho de aipim e um quibe para cada um dos tripulantes. Bolinho é maneira de dizer, pois eles eram bem grandes e quase sempre levávamos para o hotel em Manaus para comer na hora da fome. E o bom era que eles vinham embrulhados em papel alumínio, então bastava colocar no abajur ou na arandela do quarto que o bolinho ficava incrivelmente aquecido. Coisa de tripulantes.

O Seu Lima não trabalha mais por lá, deve ter se aposentado, mas não apenas a refeição embarcada em Rio Branco continua deliciosa, tanto na qualidade quanto na quantidade, como também a dupla de bolinhos continua a ser fornecida aos tripulantes.

Viva Rio Branco!