terça-feira, 30 de agosto de 2011

Férias 2011

Estou de férias e amanhã vou fazer uma viagem. Vou para Munique e Praga, na República Checa. Vou de British Airways e regressarei dia 15 de setembro com mais uma estória para o Blog. É isso, até lá!

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Ponte Aérea, uniforme e chinelo de dedo.

Era um voo da Ponte Aérea, ainda na época do Electra. Já era noite e durante o embarque a porta da cabine de comando permanecia aberta enquanto os tripulantes efetuavam os preparativos para a partida e decolagem. Um dos passageiros, o Jô Soares, que além de assíduo na Ponte Aérea era também um grande entusiasta do Electra, adentrou a cabine de comando e após saudar a tripulação perguntou ao comandante qual era a hora prevista de chegada em São Paulo. O comandante disse que seria por volta de dez e meia a onze horas da noite. Diante da imprecisão da informação, Jô Soares comentou: - Dez e meia, onze horas...Não está muito preciso este estimado. O comandante Cezar foi rápido, e disse que a chegada em São Paulo estava igual ao programa do Jô que começava onze meia, meia noite e às vezes até mais tarde.

Após acordar em Salvador antes do nascer do sol, chegamos em Foz do Iguaçu por volta de meio dia. Chegamos famintos e ao efetuar o check-in no hotel não perdemos tempo para ir a uma churrascaria que havia do outro lado da estrada. Para não perder tempo eu e o copiloto tiramos as divisas da camisa de voo e deixamos o quepe e a mala na recepção do hotel. Era uma típica churrascaria de beira de estrada: dois ônibus estacionados no pátio, vários turistas brasileiros e argentinos e um cantor com um repertório duvidoso. Sentamos numa mesa de canto e desfrutamos de um belo churrasco. Na hora de pedir a conta veio a surpresa: O garçom, nos julgando pelos nossos uniformes (sapato preto, calça azul marinho e camisa branca), achou que éramos os motoristas dos ônibus de excursão, e disse que o almoço era uma cortesia, que éramos da casa. Agradecemos e saímos “de fininho”.
Uniforme de piloto é assim; quando completo, ficamos elegantes, mas em compensação, sem quepe e faixas douradas podemos facilmente passar por motoristas, zeladores ou porteiros. Há uns anos atrás, após chegar em casa vindo do aeroporto, precisei comprar umas lâmpadas, fita isolante e interruptores elétricos. Tirei as faixas douradas, o quepe, a gravata e o paletó e fui a pé até numa casa de materiais de construções. Escolhidos os produtos, ao me dirigir ao caixa eu soube da novidade: o vendedor me perguntou qual era o prédio em que eu trabalhava, pois porteiros e zeladores ganham um desconto especial sobre o valor da venda!
No dia a dia de um tripulante estamos constantemente agindo conforme os diversos regulamentos e normas que regem a aviação comercial. No entanto, algumas normas são, ou pelo menos, eram extremamente anacrônicas, por isso, desde que não afete a segurança do voo, e justamente para não causar maiores transtornos e atrasos à viagem, pode acontecer do comandante “fechar os olhos” para certas regras.
Um exemplo desta situação ocorria em decorrência de uma norma em que não permitia que o passageiro viajasse com chinelo de dedo ou camiseta tipo “regata”. Até pouco tempo atrás alguns poucos comandantes levavam muito a sério esta determinação e não raro impediam o embarque de passageiros nesta condição. Uma tremenda falta de sensibilidade, especialmente porque geralmente isso ocorria com passageiros menos favorecidos, embarcando em localidades com Cruzeiro do Sul, Marabá ou Tabatinga. Ainda bem que é uma norma antiga que não vigora mais,  pois como desembarcar tanta gente de bem, e até passageiros famosos que viajam de sandálias Havaianas? Além do mais, hoje em dia qualquer um pode voar!
Certa vez, ao pousar no Santos Dumont, fui procurado pelo pessoal do despacho de passageiros que precisava da minha ajuda para solucionar um problema. Havia um passageiro que tinha sido impedido, pelo comandante da Ponte Aérea anterior, de embarcar para São Paulo. O passageiro era um cantor baiano que fez sucesso nos anos 80 com músicas do estilo “axé-reggae-pop” e que, não sei por qual motivo, estava descalço! A despachante disse que ele tinha desembarcado no Galeão e que sua mala havia sido extraviada e que ele já estava há horas no saguão tentando embarcar. Ainda assim eu não conseguia compreender o porquê dele estar descalço, mas como ele estava se tornando um problema para a empresa e acreditando que devemos solucionar os problemas e não aumenta-los, resolvi autorizar o embarque do cidadão. Ele estava acompanhado e pedi para que ele e o amigo embarcassem antes dos demais passageiros e que fosse reservado a eles o assento junto à janela e o imediatamente ao lado. As comissárias não gostaram da minha decisão, e menos ainda ao medir o passageiro da cabeça aos pés, que por sinal, estavam sujos como se há muito não fosse lavado! Eu disse a ele que ao autorizar o embarque eu estava abrindo uma exceção para resolver o problema. Por isso ele deveria sentar junto à janela, cobrir as pernas e os pés com uma manta e só se levantar para o desembarque após todos os demais passageiros terem desembarcado. E assim foi feito, o problema foi solucionado sem prejuízo aos demais passageiros.
   Ao contar o caso para a minha mulher, ela disse que anos antes, em 1988, este mesmo cantor tinha viajado num voo dela, e que ele ficava descalço no avião, era uma característica dele!    
Em outra ocasião, também na Ponte Aérea, presenciei um flagrante desrespeito às regras e desta vez, ameaçando a segurança. Durante o embarque dos passageiros, numa época em que não havia as pontes de embarque, um cidadão acende tranquilamente um cigarro enquanto aguarda na fila para subir a escada do avião. Uma tremenda falta de respeito e de bom senso, afinal, um cigarro aceso no pátio é um risco a segurança, pois há diversas aeronaves sendo abastecidas e possíveis vapores de combustível no ar. Imediatamente abri a janela da cabine de comando e gesticulei para que ele apagasse o cigarro! Ele deu uma longa tragada, jogou o cigarro no chão e pisou para então apaga-lo.
Fiquei bravo com o passageiro que continuava na fila para embarcar. O copiloto aproveitou para dizer que achava que eu deveria impedir o embarque do passageiro, pois se ele estava fumando no pátio, era bem capaz de acender um cigarro durante o voo. Bem que ele merecia, porém, para impedir o embarque dele, eu teria que chamar o pessoal do despacho, teria que confrontar o passageiro e possivelmente chamar a Polícia Federal. Isso evidentemente causaria atraso no voo, transtorno aos demais passageiros, e um stress desnecessário. É verdade que o tal passageiro desrespeitou uma norma de segurança, mas foi fora do avião, fora da área de minha responsabilidade, e não poderia recusa-lo baseado no pressuposto que ele iria acender um cigarro durante a viagem. Como eu acredito que não devemos causar mais problemas, e sim, resolve-los, apenas aguardei o passageiro na porta do avião e passei uma leve descompostura nele. Decolar emocionalmente estressado é péssimo, e mesmo um caso simples como este fez com que durante o taxi eu ainda estivesse um pouco estressado, imagine se eu  tivesse sido rigoroso e impedido o embarque do cidadão?
O voo trancorreu normalmente, sendo que no desembarque o passageiro reiterou o pedido de desculpas alegando que estava desatento no momento que acendeu o cigarro. 

                                                                                        

terça-feira, 16 de agosto de 2011

A Estrela Brasileira

  Estive no lançamento do livro Estrela Brasileira, editora KindleBookBr, escrito pela Cláudia Vasconcelos, ex-comissária da Varig. Já conhecia um pouco das estórias dela através do Blog que ela mantém e agora tive o prazer de ler o livro, que embora já estivesse a um tempo no formato eletrônico (e-book), só recentemente foi lançado em papel.

O livro é ótimo! Minha mulher foi a primeira a tomar conta e leu em um fim de semana, em seguida eu li em três ou quatro dias. A Cláudia entrou na Varig em 1972 e com isso voou o Boeing 707 quando este era o maior avião da Varig, acompanhou a chegada do DC-10, bem como dos Jumbos. Esteve no baseamento em Hong Kong e em Los Angeles. São muitas estórias: de cidades, de passageiros, de acidentes, do serviço de bordo e de uma aviação que não volta mais. Ela fala da vida dela e da estória da Varig até o seu encerramento. 

Um excelente livro que com certeza vai agradar aqueles que gostam da aviação, aqueles que já foram passageiros da Varig e principalmente os que trabalharam na "velha" Varig. Ele pode ser adquirido na Livraria Cultura ou ainda através de pedido pela internet. No Blog dela ( http://aestrelabrasileira.blogspot.com/ ) há os links para pedidos. Parabéns Cláudia!

Agora estou lendo o Perda Total, editora Objetiva, do escritor Ivan Sant`Anna. O Ivan Sant`Anna é um apaixonado pela aviação e já havia escrito o livro Caixa Preta em que contava e estória de outros três acidentes com aeronaves comerciais brasileiras, além de um livro sobre os atentados de 11 de setembro. No Perda Total ele conta sobre os dois acidentes com aviões da Tam (Fokker 100 que caiu no Jabaquara e Airbus que caiu na Av. Washington Luiz) e o Boeing da Gol que foi derrubado pelo jato Legacy.

As estórias dos acidentes não são novidade, já que são recentes, mas o que torna a leitura interessante é que o escritor conta um pouco da vida de alguns personagens envolvidos nestas tragédias. Apesar de serem estórias cujo final já sabemos, vale à pena ler.



domingo, 7 de agosto de 2011

Hóspede ou tripulante?


As empresas aéreas, ao fecharem contrato de hospedagem dos tripulantes com os hotéis, incluem o serviço de lavanderia para uma peça de roupa por tripulante. Isto é ótimo, para não dizer essencial, principalmente para aquelas programações de cinco dias voando pelo Brasil. Assim, sair para voar com apenas uma camisa de voo é suficiente, embora os mais previdentes sempre carreguem uma extra na mala. Essa precaução é bem vinda, especialmente nos casos dos comissários(as) cujos uniformes estão mais expostos a “acidentes”  durante o trabalho.

Ao entrar no apartamento uma das primeiras providências é preencher o “rol de lavanderia” e deixar a camisa (vestido, calça, ou qualquer outra peça do uniforme) do lado de fora do apartamento. Confusões e enganos ocorrem de vez em quando e pode acontecer de, ao se arrumar para um voo, descobrir que a camisa que o serviço de lavanderia devolveu não é a sua! Um número maior ou menor, ou ainda da mesma numeração, mas que não era a sua. Nestes casos, é um “tal” de tentar localizar o outro tripulante que também recebeu uma camisa errada por engano. Outra coisa chata que acontece é que muitas vezes estamos no melhor do sono quando somos acordados para receber a tal camisa de voo.

Na época da velha Varig tínhamos direito a dois refrigerantes ou garrafinhas de água por diária, hoje em dia é só uma garrafinha de água e ponto final!  Alguns hotéis dão um “vale drink”, que vale mais pela capacidade de agregar os tripulantes que pela bebida em si. Em Recife, nos “velhos tempos”, era uma delícia encontrar os colegas que se reuniam para tomar uma caipirinha antes de saírem para jantar. 

Um dos hotéis que sempre se esmerou no atendimento é a rede Meliá. Em Madri era quase obrigatório tomar uma taça de vinho ou de cerveja no lobby do hotel antes de sair para passear pela cidade. Em Londres os comandantes podiam desfrutar de um buffet que funcionava o dia inteiro e servia bebidas, canapés variados, salmão, queijos e outros petiscos. Havia colegas que passavam dias em Londres só se alimentando neste buffet, e assim não gastavam um tostão com comida. Em Caracas os pilotos ficam em apartamentos “superiores” onde encontram, a título de boas vindas, um balde com duas garrafinhas de cerveja no gelo e uma bandeja com torradas, queijos, presunto de Parma e salmão. Uma delícia.

Uma das coisas que os tripulantes mais prezam nos hotéis é o café da manhã. Come-se muito, até porque, geralmente depois do café da manhã o tripulante quer fazer apenas uma refeição por dia, ou o almoço ou o jantar. É o famoso “almojantar”. Por isso, quanto mais tarde o café da manhã for encerrado, melhor será. Comemos muito mais que pães, frutas, e cereais nos hotéis. Comemos nos hotéis o que jamais comeríamos em nossas próprias casas: ovos mexidos, omeletes, tapiocas, queijos na chapa, carne seca, salmão, salsichas, linguiças, bacon e até arroz com feijão eu já andei comendo por aí!  


Na época em que eu voava  Airbus , o café da manhã do hotel em Fortaleza era uma verdadeira festa; eram várias tripulações que se reuniam diariamente no restaurante do hotel. Outro café da manhã que era concorrido, era o oferecido pelo Hotel Tropical em Manaus. Diariamente, dezenas de tripulantes esticavam o bate papo até não dar mais. Em Manaus, nos meses em que há horário de verão no Brasil, o café da manhã vai até o meio dia, horário de Brasília, o que é uma mão na roda para aqueles tripulantes que chegam de voo muito tarde. Antigamente alguns hotéis ofereciam, sem custo adicional para o tripulante, o café da manhã servido no apartamento até as onze da manhã para os que chegassem na madrugada, assim  podíamos dormir até um pouco mais tarde. 

Outro café da manhã antológico era no Hotel Nacional em Brasília. O salão ficava repleto de políticos, os garçons eram da época da inauguração da cidade, assim como eram os talheres  de prata, os bules e açucareiros. E os pães de queijo estavam sempre quentinhos.

Nos voos com pernoite nos EUA e Europa, em função da diferença de fuso horário, nem sempre o café da manhã estava incluso na diária. Nestes casos recebíamos uma quantia em dinheiro para nos alimentarmos pela manhã. Em Miami, comer torradas com ovos fritos no “Cubano” era o costume entre os tripulantes e em Frankfurt, comer um Bratwurst (cachorro quente) com muita mostarda era fantástico. 

De um modo geral, os tripulantes são bem tratados nos hotéis em que são hospedados. Há desconto nos restaurantes, internet sem custo e outras regalias. Mas há também ocasiões em que parece que somos tratados como um hóspede de segunda classe.  Talvez por estar a serviço o tripulante se comporta como um turista acidental e por isso raramente deixa gorjeta para os funcionários.

É comum o pessoal do hotel perguntar se somos hóspedes ou tripulantes! Ora, tripulante não é um hóspede?  Um colega nosso, ao ouvir esta pergunta, a respondeu com outra pergunta:  Por acaso o hotel voa?- Como assim? perguntou o funcionário da recepção. Ora – explicou o colega –  se hotel voa, então eu sou um tripulante, mas se hotel não voa, neste caso eu sou um hóspede!



quarta-feira, 3 de agosto de 2011

???



Olha só o comentário que o meu amigo Moraes enviou à respeito da postagem "Trânsito legal":


Grande Carvalhinho, 

Muito embora esse seja um blog "família", ao mencionar trânsito legal não podemos nos esquecer daquele vôo do Breguinha que chegava em Campo Grande depois da meia-noite e decolava por volta das 5 da manhã.

Muita gente aproveitava esse tempo para dormir dentro do avião, mas alguns mais descontraídos passavam a noite na Boite Enigma, cujo dono era amigo do Gordo, o mecânico da base.

Trocava-se apenas a camisa e íamos para lá na Kombi da manutenção, ou seja, mesmo sem o uniforme, todas as moças do local sabiam que éramos tripulantes.

Embora não pudéssemos beber, passávamos umas horas bastante divertidas naquele lugar e, por vêzes, tinhamos a sorte de assistir a um "show do iogurte", sendo que soube de gente que não se contentou em ser apenas um mero espectador...

Vou parando por aqui porque a continuação dessa estória é assunto para outro tipo de blog.

Um grande abraço,

Moraes


Que situação, Moraes! Agora eu tenho que explicar para a minha mulher que eu nunca ouvi falar desta estória (eu juro!), e que aliás, eu nunca fiz este voo. Pelo visto era um "voo do cabide". O mecânico da base que eu me lembro é o Beltrão, que inclusive, continua por lá. Como o Moraes era baseado no Rio de Janeiro, só posso concluir que este pernoite era privilégio dos cariocas. 


Mas gostei da estória e fico imaginando o que deveria ser este "show do iogurte"! Ao encontrar os colegas "das antigas" e em especial aqueles que eram Base Rio, vou perguntar a eles sobre este voo do cabide com escapada para a Boite Enigma.