sexta-feira, 6 de julho de 2012

Carta para a mamãe


Mãezinha querida, viajar na condição de tripulante é fácil demais! Tirando o trajeto casa-aeroporto, que é sempre uma incógnita, a gente chega no aeroporto uma hora antes do horário previsto da decolagem, não tem que fazer check-in, não pega fila para o controle de raio X e nem para o controle de passaporte. Já os passageiros...

Nosso voo tinha partida prevista para as dez horas da noite e seguindo a recomendação da empresa para se apresentar para o check-in com três horas de antecedência, saímos de casa bem cedo, prevendo um tempo de uma hora e vinte minutos para chegar em Guarulhos. São Paulo é terrível, e mesmo numa quinta feira de tempo bom, sem acidentes na marginal ou qualquer outra coisa que justificasse, levamos duas horas no trajeto para o aeroporto. Foi estresse. Mas tudo bem, mesmo assim estávamos com bastante antecedência.

A fila do check-in estava pequena e logo na entrada fomos informados que o voo sofreria um atraso de duas horas. Bom, pelo menos teríamos tempo para comer alguma coisa antes de embarcar. Só que a pequena fila não andava e só conseguimos nossos cartões de embarque depois de uma hora e meia! Por conta do atraso do voo, recebemos um “voucher” de alimentação e fomos logo comer alguma coisa antes de seguir para o próximo desafio: controle de segurança (raio X) e passaportes.

O Brasil está irmanado com a Argentina onde também há filas enormes para embarcar. É Incrível a ineficiência dos aeroportos brasileiros, foi uma hora de fila para o “raio” do raio X e quase uma hora para o controle de passaporte! Foi inevitável pensar que talvez nas próximas férias seja melhor fazer uma viagem de carro, ou pelo menos evitar um voo internacional. Outro pensamento que passou pela minha cabeça e provavelmente pela cabeça de todos os demais passageiros foi com relação ao caos que vai ser durante a copa do mundo de futebol!

Mais um atraso além do previsto e, com o cansaço estampado em nossos rostos, o embarque foi iniciado. Já acomodados, após um tempo ainda havia alguns passageiros em pé enquanto o pessoal de terra junto com a tripulação tentavam acomodar todos num voo que estava completamente cheio. Lá pelas tantas a comissária chefe de equipe surge e diz para o funcionário de terra: “just put them anywhere, this is crazy!” Pelo visto a tripulação também estava cansada. Decolamos a uma hora da manhã, ou seja, sete horas e vinte minutos depois de sair de casa!

Na primeira hora de voo eu não consegui dormir, pois entre outros motivos, a passageira ao meu lado exalava um forte cheiro de “perfume barato” misturado com maquilagem. Não aceitei o serviço de bordo pois a prioridade era descansar, só que a passageira ao meu lado aceitou e o cheiro de comida de avião se misturou ao ambiente. Mãezinha querida, a senhora sempre me ensinou que não devemos ser ou parecer esnobes, me perdoe pelo comentário, mas viajar na classe econômica é muito ruim!  Fui vencido pelo cansaço e dormi do jeito que deu.

Pousamos em Washington e desembarcamos preparados para mais filas. Não havia e em pouco mais de quinze minutos fizemos a imigração. Como havíamos perdido nosso voo de conexão, tivemos que ficar circulando pelo aeroporto por mais de três horas! Ainda bem que as crianças cresceram e não deram trabalho, pelo contrário, até ajudaram a manter o bom humor. De Washington para São Francisco foram mais cinco horas e tanto de voo, que horror! Do aeroporto pegamos um taxi para o hotel onde chegamos as cinco da tarde no horário local, ou seja, 27 horas depois de sair de casa.

É bom eu curtir a viagem e nem pensar no que poderá ser a volta e a chegada no Brasil. Passageiro sofre!