sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Love is in the air

Como em todas as profissões, também na aviação há muitos casais que trabalham e voam juntos. Eu mesmo conheci minha mulher quando fazíamos parte da mesma tripulação num vôo para Fortaleza, em 1989. Eu era o co-piloto do Airbus, e ela uma das comissárias. Voávamos na mesma empresa, e fizemos alguns vôos juntos, mas foi por pouco tempo, pois naquele ano mesmo, ela mudou para melhor, foi voar na British Airways. Atualmente trabalhamos em diferentes companhias, em aviões diferentes, mas volta e meia quando estamos voando, estamos separados por apenas poucas milhas. Esta semana mesmo estivemos bem próximos, eu indo de Guarulhos para Fortaleza e ela indo para Londres. Já na saída, durante o procedimento de taxi em preparativos para a decolagem, “meu avião” estava imediatamente à frente do “avião dela”, separados por apenas alguns metros. Eu e o co-piloto estávamos mais concentrados que o normal e nos preparando para a decolagem, pois o tempo estava ruim, com chuva, vento forte e turbulência, enquanto ela também se preparava na cabine do Jumbo 747, verificando se estava tudo em ordem com passageiros, materiais a bordo etc.. O jumbo da British decolou apenas 3 minutos atrás de nós, e seguimos pela mesma rota por um bom tempo, sendo ele pouco mais abaixo de nós, porém como ele é aproximadamente 85Km/h mais veloz, (Mach 0.86 x Mach 0.78) fomos ultrapassados em um ponto onde as rotas divergem um pouco, proporcionando um belo visual. Já que estávamos próximos, efetuei um contato pelo rádio com os pilotos do British Airways e disse que minha mulher era uma das comissárias brasileiras e que quando pudessem transmitissem a ela o recado que eu estava por perto e que eu a amava. LOVE IS IN THE AIR! Eu segui para Fortaleza enquanto ela prosseguiu para Londres. Já tinha feito este tipo de contato outras vezes, sendo que em um deles, enquanto ela servia as refeições aos passageiros, o Comandante do avião anunciou pelo sistema de som da cabine que o marido dela estava no rádio e mandava recados de amor. Como todos os passageiros ouviram, seguiu-se uma salva de palmas na cabine! A estória mais legal foi certa vez em que estava vindo de Recife, e ela saindo de São Paulo para Londres. Coincidentemente, os pilotos do avião dela não estavam conseguindo se comunicar com os órgãos de controle, então eu fiz o que chamamos de uma “ponte”, transmitindo as informações e instruções do centro de controle para o British e vice-versa. Após a ponte, pedi ao British para passar para uma freqüência alternativa, onde me apresentei e mais uma vez pedi para mandar mensagens para minha mulher. O Comandante, bem humorado, pediu para eu aguardar um pouco na freqüência, pois iria chamar minha mulher na cabine para falar no rádio comigo. Minutos depois, estávamos batendo um papinho pelo rádio, e naquele exato momento pude avistar, vindo em sentido contrário, um pouco à esquerda e relativamente perto, o avião dela. Recém tinha anoitecido, então deu para ver claramente as luzes do interior da cabine de passageiro do Jumbo. Foi bacana, foi emocionante. Assim que terminamos nossa breve conversa, com “eu te amo” e “saudades”, as outras aeronaves que estavam na área, e acompanharam o episódio, começaram a fazer comentários do tipo: -“Também quero”.- “O amor é lindo!” - “Beijinhos” e “fiu fiu!” Então o Comandante da British disse na fonia: - Hold your hearts guys! No outro dia, pelo telefone, minha mulher contou que estava trabalhando no corredor do avião quando veio aquele chamado para ela comparecer imediatamente na cabine de comando. Os demais tripulantes ficaram curiosos, afinal, por que o Comandante estaria solicitando a presença dela na cabine? Depois quando ela explicou que era apenas seu marido, comandante em outro vôo, que queria falar com ela, foi a maior sensação, especialmente entre as comissárias. Então ela teve que dizer: Hold your hearts girls!

3 comentários: