sábado, 14 de abril de 2012

Nomes e números


Durante os voos os pilotos estão em constante comunicação com os órgãos de controle de tráfego aéreo. Números e nomes de posições nas aerovias estão presentes em praticamente todas as autorizações e devem ser perfeitamente compreendidas pelos pilotos e controladores, não há muita margem para equívocos.

Os nomes dos pontos que balizam as aerovias, rotas geograficamente definidas no espaço aéreo, são os mais variados e esquisitos possíveis: XOGEN, KAKOL, BIBIL, KILER e UGAGA, só para citar alguns. Quem define estes nomes são os departamentos de controle de tráfego aéreo de cada país e, imagino eu, a reunião para definir estes nomes deve ser muito divertida! Tem uma posição que se chama DRINK, e outra que chama WISKY. Por quê uma posição se chama OSAMU? E a posição ELEFA, qual será a inspiração para este nome? Algumas parecem terem sido nomeadas em homenagem a pessoas: SILVA, LUCAS, SAVIO, SUSAN, PIRES. Eu me sinto honrado ao passar na posição CARVA. Há a posição BOTOM e abaixo dela a posição MOTOB. Algumas posições possuem nomes simples, mas que quando o piloto informa ao controle, fica no mínimo engraçado. É o caso da posição LIXA, que fica no procedimento de chegada para o Santos Dumont: - Controle Rio, voo “tal” passando LIXA.

De tempos em tempos há mudanças no espaço aéreo, algumas posições desaparecem e novas surgem. Pode parecer bobagem, mas para mim, a extinção de algumas delas é quase que um atentado ao patrimônio aeronáutico! Foi o que aconteceu há anos atrás com a posição MAVKA, que era na saída de São Paulo, próximo a Mogi das Cruzes. A Aeronáutica também extinguiu o INDIO, ou melhor, a posição INDIO, próximo à cidade de Lajes/SC Não gosto de passar na posição ADOLF e a posição KILER tem nome no mínimo sinistro.

Pode acontecer de haver mais de uma posição com o mesmo nome, mas nestes casos elas estão longe umas das outras, muitas vezes em diferentes países, hemisférios e até continentes. Complicado é quando os nomes são muito parecidos e as posições próximas. Vejam alguns casos: MUBSA, MUBSI, MUBSO e MUBSU; MUBOD, MUBOG E MUBOK.  Fácil de ocorrer uma confusão né? Estes nomes todos devem ser possíveis de ser pronunciados e compreendidos por pilotos e controladores de todas as nacionalidades, sendo que aqui no Brasil devem ser falados em português ou inglês.

Quanto aos números, a dificuldade é outra. Há muitos voos com numerações parecidas e voando na mesma área ao mesmo tempo. Por exemplo: voo 5443 e voo 5543, voos 1873 e voo 8873, 7676 e 7766.

Antigamente o número de voos era menor, e voando na Varig, havendo vários aviões diferentes, os pilotos voavam por alguns anos em um determinado equipamento, fazendo não mais que 30 voos com seus respectivos números. Assim, os nossos ouvidos estavam acostumados a estes números, tornando fácil a identificação pelo rádio. Hoje em dia, concorro a uma quantidade muito grande de voos, é difícil se familiarizar com tantos números. É comum o controle de tráfego aéreo chamar pelo voo e eu, ou o copiloto, demorar um pouco a perceber que estamos sendo chamados no rádio.

As frequências de rádio a que somos instruídos a chamar requerem ouvidos atentos e dedos rápidos para anotar os números. Aqui no Brasil é um pouco mais tranquilo, pois as frequências possuem apenas cinco dígitos (por exemplo, 127.15, que é transmitida “uno dois sete uno cinco”), mas há localidades em que as frequências possuem seis dígitos. É incrível como nossos ouvidos, e principalmente nosso cérebro, demora a se acostumar com um mísero número a mais! 

A pronta identificação e compreensão de nomes e números é fundamental, especialmente quando voando em áreas de tráfego aéreo intenso e durante os procedimentos de partidas e chegadas. Nestas fases, além de uma cabine de comando silenciosa e fones de ouvido, ter em mãos as cartas de rota para um constante acompanhamento do voo facilita muito o trabalho dos pilotos.


20 comentários:

  1. Boa Noite

    Concordo com o Sr vira uma bagunça durante os primeiros dias da mudança, é controlador embolando fixo piloto perguntando qual era o nome antigo, pior quando muda os procedimentos ex: ILS X da 16 de Confins antes os fixos de entrada eram CF367 CF368 CF369 ai do nada mudaram para CF009 CF007 CF008 neste dia foi uma bagunça pior de tudo algumas Cias ainda não tinham modificados seus NAVDATA's ai era um tal de, “ Ô Controle BH esse "CF009" era o antigo CF369?”
    E por ai vai, há poucos dias toda a TMA BH e outras pelo Brasil foram modificadas, ai foi uma confusão, e os nomes os mais esquisitos possivel
    Foi a época que para pouso na Pampulha se fazia um arco DME 9 aproava PALE e dai era visual época boa.

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  2. Comandante Carvalho,

    Qual a sua opnião sobre as mudanças das aerovias no espaço aéreo brasileiro?
    Eu acho que por um lado ficou melhor, mais rotas diretas entre dois destinos, porém considero um "atentado ao patrimônio aeronâutico" o que fizeram com as minhas aerovias preferidas: UW58, UW62 e UW13

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    1. Caro Diego, mudanças costumam ser bem vindas e acho que o espaço aéreo brasileiro está mais funcional. Mais aerovias e rumos diretos encurtam os voos e geram economia. No entanto esta última mudança com nomes de posições muito similares e próximas umas das outras ficou confuso. Acho que uma nova mudança virá para corrigir o que eu considero que foi um grande equívoco. Veremos...

      Abç, Roberto

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  3. Eu vi uma carta antiga com um fixo chamado SUSTO, não sei se ainda existe!

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    1. Marcos Bonin Villela23 de maio de 2012 às 20:39

      O fixo SUSTO ficava na posição S20°39,97/W045°01,01, no cruzamento entre as aerovias UB678 e UA317/UA565. Peguei esses dados na ERC H1/H2 com a data de 10/AUG/00.

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Cmdt, estava agora acessando seu blog justamente para compartilhar um vídeo que encontrei e me deparo com esse post sobre aerovias. Grata coincidência! Veja só que filmagem interessante
    http://www.youtube.com/watch?v=4enbQYuGIkc&feature=related
    acredito que seja uma visão muito comum para os pilotos, mas me deixou maravilhada (apesar de que eu confesso me sentir mais segura vendo isso aqui sentada no meu sofá, hehehe).

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    1. Bacana. O legal é quando em função do vento lateral, apesar dos aviões se aproximarem no mesmo eixo, por eles estarem corrigindo o efeito do vento parece que o avião se aproxima pelo lado.

      Abç, Roberto.

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  6. Beto, caso esteja por aqui neste fim de semana, teremos a comemoração de 38 anos do Aeroclube de Brasília, exposições, shows aéreos, e até a Esquadrilha da Fumaça. Vai ser em Luziânia-GO, mais detalhes em www.aeroclubedebrasilia.org.br

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    1. Obrigado pelo convite, mas ainda não vai ser desta vez. Estarei em SP no sábado e RJ no domingo.

      Abç, Roberto

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  7. Como faço escuta diaria da faixa aerea ouço muitos nomes de fixos,não sabia que os nomes eram criados aleatoriamente,aqui em Minas Gerais ouço muito reporte pra posicão "Sagaz" de aeronaves indo para o norte,havia como já foi dito Pale,Pesca,Minas,Odim,entre muitas outras,as vezes ouço as tripulações dizendo:Confirme a posição.
    Mais acho bonito e achava um pouco enigmatico,com o tempo de escuta e algumas cartas entendi um pouco melhor e agora com o post do Comandante Roberto ficou mais facil entender!!
    Sei tambem de um episodio de acidente devido a erro com fixo,Veja:

    FATO: Uma aeronave numa aproximação por instrumentos para a cidade de Joinvile após iniciar a aproximação final do desvia e colide com um morro.


    EVIDÊNCIAS: Como ilustrado, o nome do fixo para bloqueio próximo da cabeceira é PP Iririu (freq. 225 Khz). No GPS foi encontrado como próximo ponto a ser voado: PP.

    Por que então o avião desviou para a direita colidindo com o morro?

    Foram analisados várias hipóteses e o fato mais surpreendente é de que: o PP ao qual a aeronave estava aproando (voando na direção) coincidia exatamente para o PP (metro) de São Paulo, uma posição para aproximação na pista 35 de Congonhas.
    É preciso ficar atento,esta acidente ocorreu devido ao uso incorreto do GPS,o piloto observou apenas a ordem alfabetica e não confirmou as coordendas!!

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    1. Não conhecia a estória deste acidente. Realmente ao selecionar determinada posição tem que ter muito cuidado. Geralmente o FMC ordena posições de mesmo nome colocando a mais próxima como a primeira, mas mesmo assim deve ser conferida a coordenada geográfia e em seguida o rumo/distância.

      Abç, Roberto.

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  8. Caro Comte,
    Isso pode ser até bem perigoso...
    Foi um erro de input no FMC de um fixo/radio homônimo que causou a colisão de um 757 da American AA 965 de Miami a Cali em 1995. Eles foram autorizados a voar via NDB "Rozo" para a aproximação final não precisão, acontece que "Rozo" estava identificado apenas como "R" na carta e no FMC ao digitarem apenas "R" o FMC identificou "R" do NDB Romeu em Bogotá e passou despercebido. O Avião então aproou "R" para a direita rumando justamente para um morro de 9800 pés e com os spoiler abertos... aí sabe o que deu?
    "produção de luz e calor" como dizia meu prof de regulamentos. Veja as coincidencias e detalhes desse vôo: http://en.wikipedia.org/wiki/American_Airlines_Flight_965

    Claudio

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  9. Me parece ainda, ao ler os documentos da investigação que foi este acidente em Cali que levou ao desenvolvimento do EGPWS(cujos mínimos de alertas foram extendido) e se não me engano também a Boeing começou a incluir no manual de operações que se mantenha a mão na alavanca de speedbrake durante todo tempo de acionamento (parece que antes era apenas um procedimento que algumas companhias adotaram por conta própria, inclusive aqui no Brasil começou depois daquele Transbrasil 707 na final da 09 em GRU que despencou por causa do speedbrake aberto).
    Não tenho certeza disso mas parece-me ter lido em algum lugar isso, corrijam-me se estiver enganado...
    http://www.youtube.com/watch?v=vLpNvodcZLA&feature=related

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    1. Caro Cláudio, você está muuuito bem informado. Abç, Roberto.

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  10. Boa Tarde
    Comandante
    Este final de semana o blog da minha turma de manutenção de aeronaves ficou pronto, este e destinado a debater sobre o mundo aeronáutico informar os novos alunos do curso, alem disto procuro postar informações sobre aeronaves, motores, empresas, noticias e afins.

    Gostaria muito que o Sr visitasse nosso blog e participasse dele

    Este e o nosso endereço; http://manutencaodeaeronaves2011-2013.blogspot.com.br/

    e claro faço um convite a todos os presentes.

    Atenciosamente,
    Carlos Henrique Peroni Junior
    chperonij@oi.com.br

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  11. Boa tarde Cmte!
    Criei um blog junto com um grupo de amigos e entusiastas da aviação após muito tempo de ler aqui no betocarva,vou deixar o endereço aqui se caso o senhor queira visita-lo,agradeço desde já,post excelente como sempre

    www.cartaerea01.blogspot.com.br

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  12. Ótima postagem!

    Você com certeza já deve ter visto o fixo GORDO, não? Fica naquela rota BH-Rio (snme a UW2...), que passa por RIOH e PAI... Falando em Drink, em POA tem o Juice...

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  13. Em Londrina tem um fixo chamado BOLO

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  14. Esses fixos de nomes semelhantes podem causar serios incidentes de trafego aéreo caso nós controladores e pilotos (agora posso falar que sou ambos os casos pois iniciei meu PP :) ) então, se não entender pergunte para esclarecer! E outra dica: sempre atento ao cotejamento pois ele está ai para nossa segurança!

    Comandante quando passar por SBTE não esqueça de ver se estou de serviço. Sera um imenso prazer lhe convidar para um café na torre!

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