No mês de agosto ocorre em São Paulo
a Labace, Latin American Business Aviation Conference & Exhibition, que é
um evento voltado para a aviação executiva, com vários aviões e helicópteros
expostos em um grande pátio do aeroporto de Congonhas. O visitante pode ver de
perto um Robinson 22, helicóptero para 2 pessoas, um Bombardier Global 6000, um
Gulfstream G650, ou um Falcon 7X, que estão entre os maiores jatos executivos
com capacidade de transportar até 4 tripulantes e 18 passageiros em voo de São
Paulo para Moscou sem escalas! Há também stands de diversos prestadores de
serviços para a aviação executiva.
Estive por lá nesta última edição, e
além de poder entrar em alguns aviões que há tempos eu gostaria conhecer, foi
muito legal reencontrar colegas de profissão e conversar com aqueles que já
foram da aviação comercial e que migraram para a aviação executiva. Atualmente
estes pilotos da aviação executiva, especialmente os que voam os maiores
jatos, ganham um salário bem superior ao que se paga na aviação comercial.
Também pudera, pois ao contrário da aviação comercial onde a estrutura de apoio
está sempre funcionando, bastando ao piloto comparecer ao avião e exercer o
ofício de piloto, na aviação executiva, embora haja uma estrutura a disposição,
cabe ao piloto gerenciar estes recursos de maneira correta e acioná-los no
tempo certo. Planejamento do voo, análise da quantidade de combustível,
autorizações de sobrevoos, serviços aduaneiros, limpeza da aeronave, programas
de manutenção, local de pernoite do avião e tantos outros itens são
preocupações dos pilotos da executiva. Se as coisas não saírem direito o patrão
não vai gostar, por isso ele paga bem aos seus pilotos!
Esta é uma aviação onde a discrição
é fundamental, eles nunca revelam quem são os patrões, detalhes do avião ou
quem foram os passageiros de determinada viagem.
ÔNUS E BÔNUS
Como quase tudo na vida, para
cada bônus há um ônus, e as estórias que os pilotos da aviação executiva contam
são interessantíssimas.

Aspen, no
Colorado, é outro destino que os milionários (bilionários parece mais adequado)
adoram, principalmente no inverno. Dia 20 de dezembro um destes jatos de
30 milhões de dólares decola para uma temporada de inverno nas estações de
esqui americanas. Para os seletos passageiros uma verdadeira farra, para os
pilotos nem tanto assim. Eles não podem alugar um par de esqui e descer as
montanhas, afinal, se alguém for quebrar a perna é o patrão e seus convidados,
e os pilotos devem estar prontos para transportá-los para onde for necessário.
Um dos comandantes, sabendo que eles não regressariam ao Brasil antes do dia 5
de janeiro, consegue com muito jeito perguntar ao patrão se ele se importaria
em liberá-lo para regressar ao Brasil em avião comercial, com a promessa de
estar de volta no dia 2 de janeiro. O patrão diz que vai pensar, mas no mesmo
dia diz que prefere que ele fique em Aspen, pois a qualquer momento os planos
podem mudar.
Os planos mudam muito nesta aviação
executiva. Um dos patrões mais folclóricos é um senhor do ramo do dinheiro, um
renomado banqueiro. Dizem que os pilotos deste patrão nunca sabem para onde vão
até que chegam ao avião. Certa vez havia uma viagem programada para decolar ao
meio dia, assim, logo cedo os pilotos, e em muitos aviões a comissária também,
já estavam no aeroporto para deixar tudo pronto e impecável. Acontece que
quando se tem um avião particular, quem determina os horários é o dono, e foi
somente no final da tarde que o patrão apareceu e embarcou. Neste momento o
comandante cumprimentou seu patrão comentando que ele estava aguardando-o há
horas. Já na Europa, ao desembarcar, o patrão teria dito ao comandante para
regressar em avião comercial e passar na empresa para receber as contas, pois
no dia em que ele, patrão, tiver que dar satisfação ao motorista, digo, ao
piloto, ele se aposentaria.
Um outro colega, que voa um
avião de médio porte, daqueles para 10 passageiros, de alcance médio e que
custa apenas 17 milhões de dólares, comentou que a rotina é bem variada. Voa-se
para tudo quanto é lugar, com programações que podem ser de 5 dias mas que
também podem ser de 40 dias! Eles ficam rodando e quando não é o patrão que
está viajando, muitas vezes eles estão transportando outros empresários,
políticos, a nora, a sogra e os amigos do patrão. Em um mês o valor das
gratificações e diárias de alimentação chegam a seis mil dólares!

A aviação executiva é assim,
sempre à disposição. Para estes grandes jatos executivos, o mundo fica
realmente pequeno e nesta aviação há dia para sair, mas não há uma data certa
para o regresso, e não cabe ao piloto perguntar ao patrão quando é que ele
pretende voltar.
Há mais estórias que em breve eu vou contar.
Sensacional, Roberto!
ResponderExcluirSão todas histórias que, para aspirantes a pilotos jovens como sou, é de brilhar os olhos. De toda forma, imagino como difícil deve ser viver em uma situação assim. Família então, nem pensar, né?
Vamos ver para que rumo a aviação vai me levar! Por enquanto, não me cabe escolha a não ser a que me permitir voar!
Um abraço!
eu sempre tive curiosidade sobre a rotina na Aviação Executiva, ou melhor, acho que cabe dizer...a ausência de rotina!
ResponderExcluirAbraço Beto,
Que histórias heim comandante.. É realmente uma vida de muitas abstenções, porém financeiramente é ótimo heim.
ResponderExcluirAbraços,
Rafael Moura
Um amigo que pilotava executivo na década de 1980 me falou que o pior acontecia quando o patrão perdia dinheiro e precisava trocar de avião. Da noite para o dia o piloto era obrigado a abandonar o avião que já conhecia por outro mais antigo, com muito mais ciclos e de manutenção alheia. Simplesmente o patrão ou a empresa trocava o dinnheiro do patrimônio, que recebia a vista, pela conta mais cara de manutenção e consumo, que pagava a prazo mas que era menor do que a taxa de juros. Essa tipo de operação sempre onerava seu volume de trabalho. Nunca participava dessas decisões e chegou a se demitir mais de uma vez por esse motivo. Ainda contou que o contrário, a troca por uma aeronave melhor era sempre mais rara, pois era intercalada por três ou quatro "downgrade".
ResponderExcluirEu sempre fui apaixonado pela aviação, mas a vida me levou para outro caminho. Hoje sou piloto, mas voo apenas por prazer. Lendo essas estórias vejo que eu não me adaptaria a essa aviação. Sou um cara caseiro, gosto de estar com a família, planejar viagens. E não gosto de ser submisso a alguém desta forma. Tratar outra pessoa assim, a meu ver, é desumano, não importa quem você seja ou quanto de dinheiro você tenha no banco. No meu meio tambem há muita soberba e arrogância (judiciário) e isso freqüentemente me entristece. A aviação comercial, acredito eu, é um pouco diferente. Há escalas determinadas com certa antecedência, e o comandante não tem que lidar diariamente com alguém que tem o rei na barriga. Para mim, dinheiro nenhum paga minha paz de espirito. Grande abraço!
ResponderExcluirBeto, desculpe postar esta pergunta aqui. É que despertou em mim o desejo de ser piloto e estou pensando com carinho sobre. Teu blog me incentiva e muito em seguir carreira. Só tenho um receio: Sofro de rinite alérgica. Gostaria de saber se você sofre de rinite, ou sabe se no meio da aviação existem pilotos com rinite, e se isso influenciaria consideravelmente na minha qualidade de vida. Já sei que o exame médico é bem rigoroso. Abraço!!
ResponderExcluirjão, eu tenho rinite e tenho os certificados médicos exigidos... até hj não foi problema! Abç
ExcluirObrigado Padu. Bons voos!
ExcluirCaro Jão, é como o Padu disse, a renite pode incomodar mas não vai impedir de seguir na profissão. Um abraço, Beto.
ExcluirOlá,
ExcluirVocê pode consultar a RBAC 67 na página da ANAC (http://www2.anac.gov.br/biblioteca/rbha.asp). Lá tem todos os requisitos mínimos para aprovação no exame médico.
Histórias muito pitorescas cmte!
ResponderExcluirObrigado por compartilha-las conosco!
abs
belissimo post!! mais uma vez nos deliciamos com suas estórias!!!
ResponderExcluirConcordo com comentario de que viver de uma forma semi escravizada não é bom!!
ResponderExcluirSei que as pessoas tem seus compromissos,mas da forma que foi contada certas passagens(a viagem para Monaco)fica parecendo que o comandante era um capacho ou um fatoche!!!
Dinheiro é muito bom,mas familia,respeito,dignidade estão acima,e gente muito rica pensa que é "deus"!!
Eu amo,adoro aviação,mas penso que nestas circuntancias teria muita dificuldade de me adaptar!!
De toda maneira o post foi excelente,nos mostrando mais uma faceta deste mundo incrivel da aviação!!
Só nos resta agradecer a voce Comandante Carvalho por nos abrir as portas desse universo com tanto talento!!!
Sendo solteiro e não tendo família, esse seria um estilo de vida (no mínimo) interessante. :)
ResponderExcluirEu não sou piloto (sou analista de suporte, apenas amante da aviação), mas já trabalhei para um chefe instável. No menor dos problemas que, facilmente poderiam ser resolvidos por telefone ou remotamente, eu precisava pegar o carro da empresa e me deslocar até outra(s) cidade(s) para acompanhar alguma manutenção ou resolução de outra pessoa.
Era divertido (financeiramente também, diária$!), mas tem hora que cansa.
Prezado Cmdte,
ResponderExcluirUma dúvida de quem não trabalha no ramo. As regras de horas de vôo por semana/mês/ano que se aplicam na aviação comercial não existem na executiva? E quando os vôos são maiores que 10 horas, é obrigatório tripulação reserva?
Abraços,
Tibúrcio Barros
Caro Tibúrcio esta sua dúvida é bem pertinente. A definição de AERONAUTA, segundo a lei, é aquele que exerce função a bordo de aeronaves, então o piloto de aviação executiva e particular é um aeronauta. As regras são mais flexíveis para estes pilotos, mas a verdade é que eles não seguem. Ouvi dizer inclusive que a ANAC tem estado no pé dos taxis aéreos. Voos longos, esperas infindáveis nos aeroportos, jornadas malucas fazem parte desta aviação. Lei da selva. Abç, Roberto.
ExcluirMuito show Beto!
ResponderExcluirEssas histórias da executiva me fascinam, escreva mais quando puder! Só uma dúvida, no caso de Paris-NY-Paris, os pilotos não estouraram a jornada de trabalho?
Abraço
Estouram sim.
ExcluirÓtimos relatos comandante.
ResponderExcluirIsto me faz pensar muito se quero ser empregado ou patrão, admito que ser patrão é mais interessante rs.
Eu o vi na LABACE, mas parecia apressado, então preferi não incomodar.
Do mesmo jeito, bons voos.
Athos Gabriel.
Nossa, demitiu o cara porque ele perguntou onde o patrão tinha ido? Quanta ignorância... esses magnatas são uns estúpidos. Com motoristas, empregados, pilotos, seja lá quem for, são sempre assim.
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