Os policiais me informaram que através do serviço telefônico 911, haviam recebido uma denúncia de bomba a bordo. Denúncias anônimas deste tipo não são incomuns, e para cada ocorrência, um nível de alerta é gerado pelas empresas aéreas e principalmente pelas autoridades. Se a denúncia, ou a ameaça, não vier acompanhada de qualquer detalhe ou informação adicional, o nível de alerta será baixo, porém naquele dia havia algo a mais. Segundo a informação que nos foi dada, o telefonema que gerou e elevou o nível de alerta dizia que a bomba estaria em um voo para o Brasil que partiria às 20:30 hs. Era justamente o nosso destino e horário!
Ao desembarcar, passageiros e tripulantes foram submetidos novamente à uma inspeção de segurança, desta vez mais minuciosa e efetuada por policiais especializados. Passamos pelo detector de metais, por revista pessoal, e nossas bagagens de mão mais uma vez pelo Raio X. Além disso, os passageiros foram chamados individualmente para verificação de cartão de embarque e documentação. Àquela altura dos acontecimentos, a maioria dos passageiros já tinha entendido o que estava acontecendo, porém outros buscavam esclarecimentos junto ao pessoal de terra da empresa.
À polícia cabia efetuar uma varredura completa na aeronave, não só na cabine de passageiros, mas também em todo e qualquer lugar onde fosse possível esconder um artefato explosivo. Para isso, nosso avião foi rebocado para uma posição afastada do terminal e de outras aeronaves com a finalidade de reduzir os danos no caso de realmente ser encontrada a bomba. Com a ajuda de um técnico da manutenção e de cães farejadores, o avião foi minuciosamente revistado. Porão eletrônico e de carga, compartimento do ar condicionado e do trem de pouso, atrás de certas divisórias e acabamentos ao longo do avião, lixeiras, material de comissaria, cabine de comando e até a área dentro do motor foi inspecionada. Por fim, todas as bagagens e cargas que estavam no porão tiveram que passar pelo Raio X.
Enquanto isso, no saguão de embarque, os passageiros pareciam aflitos com a situação. Nestas situações de atrasos, os tripulantes não gostam de ficar por perto dos passageiros, pois sabem que muitas perguntas surgirão, assim a maioria se esconde. Eu penso diferente e sempre que posso, nestas ocasiões, fico por perto, presente, junto aos passageiros. Procuro passar tranquilidade e segurança, informando àqueles que me abordam sobre os acontecimentos, dizendo a verdade sempre que possível. Assim, enquanto os demais tripulantes do voo foram fazer um lanche, pois a demora seria grande, eu passei um bom tempo no saguão de embarque, junto ao pessoal de terra da companhia, informando e esclarecendo aos passageiros quanto aos acontecimentos. Alguns queriam saber se poderiam embarcar no dia seguinte, em um outro voo. Acontece que enquanto a polícia não terminasse a varredura e liberasse a aeronave, nenhum passageiro estava autorizado a deixar o aeroporto, pois até então, éramos todos suspeitos!
Passada uma hora e meia desde que tivemos que desembarcar, finalmente o avião foi trazido de volta à posição original. O embarque foi realizado, ninguém desistiu da viagem. Conversei com um dos policiais e com o técnico da manutenção que acompanhou a inspeção da aeronave, e ambos me asseguraram que a procura havia sido rigorosa, nada fora encontrado e que estava tudo em ordem, poderíamos voar com segurança. Antes de iniciarmos a nossa viagem, me dirigi aos passageiros pelo sistema de som, procurando tranquilizar a todos quanto aos procedimentos adotados e a segurança do voo.
Sei que havia uma certa tensão a bordo, e confesso que enquanto a polícia fazia a varredura na aeronave, pensamentos catastróficos passaram pela minha cabeça por um ou dos minutos. Procurei confiar no trabalho da polícia, já que este tipo de situação, apesar de incomum, não é novidade na aviação.
O voo foi tranquilo e com o atraso acabei chegando em casa às três da manhã, com mais uma estória para contar.
E acabou não vindo à BH...
ResponderExcluirFicou devendo.
Rapaz, eu lembro de uma vez na ponte aérea ainda com os Electras, eu era novinho e teve uma dessas ameaças. E queriam me escalar para acompanhar a busca junto dos PFs... e quem disse que eu tinha coragem? Vai que era verdade?...rs.. tive os mesmos pensamentos catastróficos que você.
ResponderExcluirGrande abraço
Comandante Beto, na hora em que o avião foi retirado do pátio de embarque e levado para outra área no intuito de ser realizado a verificação e investigação da possível bomba em algum dos compartimentos, a aeronave foi verificada o tempo todo com os tanques de combustível cheios? Grande abraço, Arcoverde
ResponderExcluirSim, já faz um bom tempo, mas me lembro que estávamos abastecibos para fazer o voo, portanto devia haver pelo menos 9.000 quilos de querosene nos tanques. Abç, Roberto
ResponderExcluirNuma situação como essas o senhor não acha que seria correto afastar a aeronave do pátio principal e esvaziar os tanques da aeronave? Poderia se tornar uma medida de segurança? Já imaginou, bomba + querosene por demais até acumulada = fogo. A querosene de aviaçõ é a mesma que encontramos nas prateleiras dos supermercados? Tarcov
ResponderExcluirHá tempos estou aguardando um momento propicio para dizer o que penso - e sinto - cada vez que v. passa por situações como esta e outras piores ainda que v. já nos contou. Impossível. Tenho certeza que iria ocupar um espaço muito maior que o permitido nesta área de comentários. De qualquer forma, pode saber, um dia destes v. vai receber uma carta enorme, via correio, dizendo dos meus sentimentos de medo, de orgulho, de amor e de admiração por você. Beijos da sua mãe.
ResponderExcluirComandante, vc poderia escrever sobre a maior pane e problema que já passou a bordo em voô, o que acha ?
ResponderExcluir(se é que isso já aconteceu com vc e tomara que nunca aconteça!)
Comandante, que situação! É aí que se nota uma diferença gritante em uma pessoa experiente, e uma inexperiente... com certeza, um PAX que estivesse ouvindo tuas explicações ficaria calmo, sereno e tranquilo! Ainda tenho o sonho de voar com o senhor, rsrs!
ResponderExcluirForte abraço,
Danilo.
Ola comandante! É muito bom ver que o senhor gosta de lidar com os passageiros, e tranquilizar os mesmos! :) Bom, sou entusiasta e spotter meu hobby é fotografar aviões tenho fotos publicadas em sites como Airliners e Jetphotos, conheçe? Sou de SSA e apaixonado pelo T7 da TAM que durante este verão fez muitos voos aqui na rota GRU/SSA/GRU! Ai surge minha pergunta, o senhor é comandante de T7? Se sim, gostaria de te fazer umas perguntas sobre o mesmo e outras coisas, poderiamos trocar email (esta parte independenti de vc comandar um T7 :)) , etc! No aguardo da resposta e um forte abraço e bons voos!
ResponderExcluirCaro Tarcov, o querozene de aviação certamente não é igual ao que encontramos nos supermercados. Quanto a destanquear o avião no caso de suspeita de bomba, acho que não seria um bom procedimento, pois além de se perder tempo, envolveria mais pessoas ao redor do avião, além do fato de que ao destanquear, o combustível à bordo estaria de alguma maneira conectado a mais combustível que é armazenado em grandes reservatórios abaixo do piso dos pátios de estacionamento nos aeroportos, aumentando o risco em caso de explosão. Além do mais, a polícia não está preocupada em preservar o avião.
ResponderExcluirAlê, vou esCrever sobre as "panes nossas de cada dia", mas são tão raras que o texto vai ficar sem graça.
Roberto Jesus, quando vc falou em T7, achei que fosse um "primo do T6"! Não, não voei o B777, quando voava na Varig estava no MD-11. Também acho lindo o T7, e quem sabe um dia eu tenha a chance de comandar um desses.
Mais um dia de trabalho, tá difícil me dedicar a escrever para o Blog. Quem sabe na quarta eu consigo postar algo.
Abraços, Roberto.
cmte. poderia me tirar uma duvida que está me consumindo? por exemplo na hora do toque e acionamento dos reverso no md-11, pode-se abrir o reverso do motor 2 antes do trem dianteiro tocar o solo? poderia me explicar?
ResponderExcluirNa aviação todo cuidado é pouco...
ResponderExcluirPortal Meio Aéreo