quinta-feira, 25 de março de 2010

A família e o trabalho

Uma pergunta frequente que é feita aos pilotos, é como eles conseguem conciliar profissão com vida familiar. As pessoas me perguntam se eu paro em casa, quantas folgas eu tenho por mês, e ao saberem que sou casado com uma comissária de bordo, aí então que que me olham como se eu fosse um ET, e meus filhos criados por terceiros! Se eu sou piloto e minha mulher comissária, com faço com as crianças? Eu vejo minha mulher de vez em quando?

Para falar a verdade, eu fico em casa muito mais do que as pessoas pensam, aliás, talvez eu consiga ter uma presença junto à minha família bem maior que muitos dos meus amigos que possuem outras profissões. O número mínimo de folgas por mês é de 8 dias, mas normalmente há 9 ou até 10 dias de folga dependendo da malha aérea prevista para o mês. Além disso, há aqueles dias em que o trabalho só começa à noite, ou então encerramos uma programação bem cedo pela manhã, então embora estes dias não sejam de folga, passo o dia em casa. Há também programações de ensino, e nestes dias o expediente é das 8:30 às 17:00 hs.

Quando minha filha nasceu em 95, eu viajava muito, mas quando meu segundo filho nasceu em 98, consegui ficar fixo no quadro da Ponte Aérea. Foram quatro anos e meio praticamente sem uma noite sequer fora de casa. Depois da Ponte fui para a aviação internacional, vivendo mais 3 anos e meio de escala mansa, com muitas folgas agrupadas. É bem verdade que em muitos fins de semana, quando normalmente os filhos tem mais tempo para passar com o pai, eu estive voando, mas em compensação, quando estou em casa nos dias de semana, consigo fazer as três refeições com a minha família. Levo filhos para escola, busco na saída, levo ao dentista, ao esporte e às aulas de música!

Minha mulher tem uma escala de voos bem tranquila, são poucas as ocasiões em que o casal está fora, mas as vezes acontece. Em 95, minha sogra nos deu uma grande ajuda quando veio do Rio de Janeiro para morar por 2 anos em São Paulo. Em 98 conhecemos a Fátima, que veio trabalhar conosco como babá do nosso caçula, e até hoje nos ajuda, sendo que quando precisamos ela dorme em casa com as crianças. Minha irmã dá uma força quando necessário e posso contar com o insuperável apoio da minha mãe, que nunca nega um pedido para pegar os netos e levá-los às atividades, festas e outros compromisssos. Assim trabalhamos tranquilos e os filhos ficam em boas mãos.

Minha filha mais velha está prestes a completar 15 anos e está cada vez mais independente, já volta sozinha de ônibus do colégio. O mais novo ainda não tem esta independência, mas não vai demorar muito para que ambos possam passar mais de um dia sem que algum adulto esteja vigiando-os. Aliás, esta é uma característica de filhos cujos pais são tripulantes: cedo aprendem a se virar e se organizar nas atividades diárias.

Outro aspecto favorável da aviação comercial para a minha vida familiar, é o fato de podermos programar as folgas, portanto sempre peço folga para o dia do aniversário dos meus filhos, minha esposa e de minha mãe. Não consigo me lembrar quando foi a última vez que trabalhei no dia do meu aniversário! Dia das mães, dia dos pais, apresentação de fim de ano no colégio das crianças...Pedindo com antecedência, costuma dar certo. A única restrição é no final do ano, quando folgamos ou no Natal, ou no Ano Novo, o que é muito justo.

Quando estou de folga, não há tarefas relacionadas ao trabalho para se fazer em casa. Não há relatórios, telefonemas nem nada a ser preparado para o próximo dia de trabalho. Em algumas ocasiões no ano, quando tenho treinamento em simulador, tenho que estudar em casa, mas de um modo geral, consigo deixar as leituras de manuais e atualizações para serem feitas durante as viagens. Quando chego em casa, guardo a mala no armário e me dedico ao meu papel de pai e marido, para só pensar em trabalho algumas horas antes de uma nova viagem.

Sendo assim, contra a crença popular, consigo ter uma vida familiar absolutamente normal e tenho certeza que no futuro meus filhos vão poder dizer que embora tenham sido filhos de pais tripulantes, tiveram a mim e minha mulher muito presentes no dia-a-dia.

9 comentários:

  1. Papaizuco fofo! Sou testemunha. Sempre presente, carinhoso, companheiríssimo dos filhos e esposa. Bj.

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  2. cmte. linda postagem !! quando eu crescer pretendo engressa em alguma cia. Aerea e sempre me perguntei essa coisa de passar tempo com a famili a e etc... Muito obrigado !

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  3. Parabéns pela postagem Comandante !!!

    Fica uma dica, Porque sua esposa também não faz um blog para contar as histórias da aviação como você ?

    Abraços

    Lisarb (Aeroblog).

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  4. Parabéns! Vou usar seu post como argumento de que posso ser um bom marido e pai um dia, apesar da carreira. =)

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  5. Grande Cmte.Beto,regularmente leios seus posts,e são de grande inspiração e motivação.

    Depois de uma passada no blog sobre o aeroporto de GYN,a qual faço parte.

    http://sbgo.blogspot.com

    Será uma grande honra um comentário seu.

    abraço

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  6. Caro Lisarb, já falei para ela fazer um Blog, mas ela diz que eu sou o Bloguer da casa. Quem sabe um dia ela se anima, mas de qualquer forma, vou insistir mais um pouco.

    Caro Matt Mendes, legal o Blog de sbgo. Já tinha visto um blog do pessoa do controle de tráfego aéreo de Fortaleza, mas este de Goiânia foi novidade. Parabéns pela iniciativa.
    Abç roberto.

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  7. Ola comandante.
    Quero fazer o curso de pp e pc no Canada e gostaria de poder falar com o senhor por msn pode me adicionar ?
    a.ramalho@hotmail.com

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  8. Super pai, hahah ;)
    Que bom que tem tempo pra família...

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  9. Muito bom o Post Cmte! Estou perseguindo a carreira de OLÁ. Ser piloto sempre foi meu sonho. Mas me dói muito saber que talvez eu estrague uma parte muito importante da minha vida que é o convívio familiar e meu relacionamento com minha noiva. Às vezes dá vontade de desistir. Poderia me dar algum conselho?

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