Uma das coisas que primeiro chama a atenção dos passageiros ao embarcar num avião é a limpeza da cabine. Um interior limpo, sem que o tecido das poltronas esteja manchado, cabeçotes no lugar, cintos de segurança cruzados sobre o assento e sem restos da viagem anterior dão ao avião um aspecto de um ambiente seguro. Antigamente, na "velha Varig", a limpeza interna dos aviões era tão importante que frequentemente o embarque ficava retido até que a cabine de passageiros estivesse de fato limpa e arrumada. Nos voos internacionais o capricho era maior ainda e dava gosto entrar num daqueles aviões e ver tudo arrumadinho, cada assento com uma manta e um travesseiro.
Infelizmente o atual modelo de baixo custo e máxima utilização dos aviões fez com que a limpeza e organização do interior das aeronaves perdessem a importância. É cada vez mais comum que os passageiros ao embarcar encontrem restos de alimentos espalhados pelo chão e sobre os assentos, tecidos manchados, restos de papeis e embalagens nos bolsões dos assentos e os cabeçotes (que um dia já foram de tecido), amassados. Durante o curto tempo de solo o máximo que é feito é um "tapa" na sujeira maior, deixando o capricho para quando o avião fica parado mais de três horas. Aí sim a limpeza é para valer! Uma equipe entra munida de vassouras, panos e produtos para faxinar o interior do avião. De tempos em tempos o exterior do avião também recebe uma boa lavada, assim como a cabine de comando, que ao longo de dias de operação, acaba acumulando muita sujeira: papeizinhos, restos de alimentos, café e chimarrão, clipes e tampas de canetas que se perdem no assoalho e nas pequenas frestas junto aos diversos painéis.
Uma das preocupações dos pilotos é quanto a limpeza dos equipamentos de comunicação e máscaras de oxigênio. Fones de ouvido, microfones e máscaras de oxigênio sujas podem ser transmissores de bactérias. Por isso recebíamos na cabine (mais uma vez eu me refiro ao passado, à "velha Varig") a famosa celeste! São lenços umedecidos concebidos para a limpeza e higienização dos equipamentos de oxigênio e comunicação. Este lencinho era item obrigatório no bolso da calça dos pilotos. Para o Boom-Mike (fone de ouvido com microfone acoplado) havia além de espumas para reposição, pequenas touquinhas descartáveis. Atualmente a celeste está desaparecida, nunca mais a vi. O jeito é improvisar com álcool em gel e guardanapos para enrolar nos fones de ouvidos.
Num grupo tão grande de pilotos há aqueles que quando saem da cabine deixam para trás uma verdadeira bagunça e há os que, mais que deixar a cabine limpa e organizada, possuem uma verdadeira loucura por limpeza.
OS BAGUNCEIROS: Não se incomodam em deixar a cabine bagunçada. São jornais espalhados, copo com líquido, cartas de pousos e navegação fora de ordem e antigamente, quando era permitido o fumo a bordo, ainda tinha a chance de se encontrar cinzeiros cheios ou um copo com bitucas imersas em água. Felizmente o cigarro foi abolido. Certa vez, quando voava na Ponte Aérea, recebi o avião do meu querido colega Bajinsky. Um cara fantástico, excelente profissional, mas que tinha a capacidade de deixar a cabine muito bagunçada, com jornais espalhados e outros tipos de sujeira. Pois bem, passado alguns dias ele foi meu passageiro até Congonhas, sendo que a partir de lá, eu desembarcaria e ele assumiria o comando do Boeing. Era a oportunidade da "vingança" e em 40 minutos de voo eu espalhei os jornais Folha de São Paulo, "Estadão" e um Globo por onde houvesse espaço. Deixei cascas de mexirica, copo com restos de refrigerante, manuais fora do lugar e uma bagunça nas cartas de navegação. Ao desembarcar em Congonhas passei a ele as informações de praxe e me mandei deixando para trás uma cabine que mal dava para entrar. Dias depois (havendo um grupo fixo na Ponte Aérea, nos encontávamos semanalmente) nos encontramos novamente e ele comentou que apenas estranhou um pouco o fato, pois me julgava um cara organizado, talvez eu estivesse estressado, mas que o pessoal da limpeza quase caiu para trás ao ver aquela zona!
OS ARRUMADINHOS: São obcecados pela limpeza e organização e para isso não medem esforços e recursos. Alguns carregam um pequeno pincel e assim que sentam no assento da cabine se poem a limpar cuidadosamente os painéis. Outro recurso muito utilizado são os "wipes", aquelas toalhinhas umedecidas e descartáveis. E aí não posso deixar de recordar o meu amigo Oppermann que ao voar com um destes comandantes que possuem um verdadeiro conjunto de pinceis para limpeza, não perdeu a oportunidade para aprontar mais uma das suas. Depois que o comandante já tinha pincelado todo o painel, ele pegava um sanduiche e oferecia ao comandante. Só que antes de oferecer ele embrulhava em um guardanapo e amassava bastante de forma que ao abrir era inevitável que as migalhas se espalhassem pelo painel. O comandante ficava louco, e o Oppermann dava risada! Havia um outro colega que também era obcecado pela organização. Ele limpava tudo que pudesse ser limpo, desde os diversos seletores e painéis, até os vidros das janelas. Limpava meticulosamente de forma que não ficasse qualquer sujeirinha ou mancha de dedos ou mãos nos vidros. A mulher dele, que é comissária, já sabe: ele é sempre o último a sair do avião, não sai da cabine até que tudo esteja perfeitamente limpo e organizado, com cada coisa no seu devido lugar.
Infelizmente o atual modelo de baixo custo e máxima utilização dos aviões fez com que a limpeza e organização do interior das aeronaves perdessem a importância. É cada vez mais comum que os passageiros ao embarcar encontrem restos de alimentos espalhados pelo chão e sobre os assentos, tecidos manchados, restos de papeis e embalagens nos bolsões dos assentos e os cabeçotes (que um dia já foram de tecido), amassados. Durante o curto tempo de solo o máximo que é feito é um "tapa" na sujeira maior, deixando o capricho para quando o avião fica parado mais de três horas. Aí sim a limpeza é para valer! Uma equipe entra munida de vassouras, panos e produtos para faxinar o interior do avião. De tempos em tempos o exterior do avião também recebe uma boa lavada, assim como a cabine de comando, que ao longo de dias de operação, acaba acumulando muita sujeira: papeizinhos, restos de alimentos, café e chimarrão, clipes e tampas de canetas que se perdem no assoalho e nas pequenas frestas junto aos diversos painéis.
Uma das preocupações dos pilotos é quanto a limpeza dos equipamentos de comunicação e máscaras de oxigênio. Fones de ouvido, microfones e máscaras de oxigênio sujas podem ser transmissores de bactérias. Por isso recebíamos na cabine (mais uma vez eu me refiro ao passado, à "velha Varig") a famosa celeste! São lenços umedecidos concebidos para a limpeza e higienização dos equipamentos de oxigênio e comunicação. Este lencinho era item obrigatório no bolso da calça dos pilotos. Para o Boom-Mike (fone de ouvido com microfone acoplado) havia além de espumas para reposição, pequenas touquinhas descartáveis. Atualmente a celeste está desaparecida, nunca mais a vi. O jeito é improvisar com álcool em gel e guardanapos para enrolar nos fones de ouvidos.
Num grupo tão grande de pilotos há aqueles que quando saem da cabine deixam para trás uma verdadeira bagunça e há os que, mais que deixar a cabine limpa e organizada, possuem uma verdadeira loucura por limpeza.
OS BAGUNCEIROS: Não se incomodam em deixar a cabine bagunçada. São jornais espalhados, copo com líquido, cartas de pousos e navegação fora de ordem e antigamente, quando era permitido o fumo a bordo, ainda tinha a chance de se encontrar cinzeiros cheios ou um copo com bitucas imersas em água. Felizmente o cigarro foi abolido. Certa vez, quando voava na Ponte Aérea, recebi o avião do meu querido colega Bajinsky. Um cara fantástico, excelente profissional, mas que tinha a capacidade de deixar a cabine muito bagunçada, com jornais espalhados e outros tipos de sujeira. Pois bem, passado alguns dias ele foi meu passageiro até Congonhas, sendo que a partir de lá, eu desembarcaria e ele assumiria o comando do Boeing. Era a oportunidade da "vingança" e em 40 minutos de voo eu espalhei os jornais Folha de São Paulo, "Estadão" e um Globo por onde houvesse espaço. Deixei cascas de mexirica, copo com restos de refrigerante, manuais fora do lugar e uma bagunça nas cartas de navegação. Ao desembarcar em Congonhas passei a ele as informações de praxe e me mandei deixando para trás uma cabine que mal dava para entrar. Dias depois (havendo um grupo fixo na Ponte Aérea, nos encontávamos semanalmente) nos encontramos novamente e ele comentou que apenas estranhou um pouco o fato, pois me julgava um cara organizado, talvez eu estivesse estressado, mas que o pessoal da limpeza quase caiu para trás ao ver aquela zona!
OS ARRUMADINHOS: São obcecados pela limpeza e organização e para isso não medem esforços e recursos. Alguns carregam um pequeno pincel e assim que sentam no assento da cabine se poem a limpar cuidadosamente os painéis. Outro recurso muito utilizado são os "wipes", aquelas toalhinhas umedecidas e descartáveis. E aí não posso deixar de recordar o meu amigo Oppermann que ao voar com um destes comandantes que possuem um verdadeiro conjunto de pinceis para limpeza, não perdeu a oportunidade para aprontar mais uma das suas. Depois que o comandante já tinha pincelado todo o painel, ele pegava um sanduiche e oferecia ao comandante. Só que antes de oferecer ele embrulhava em um guardanapo e amassava bastante de forma que ao abrir era inevitável que as migalhas se espalhassem pelo painel. O comandante ficava louco, e o Oppermann dava risada! Havia um outro colega que também era obcecado pela organização. Ele limpava tudo que pudesse ser limpo, desde os diversos seletores e painéis, até os vidros das janelas. Limpava meticulosamente de forma que não ficasse qualquer sujeirinha ou mancha de dedos ou mãos nos vidros. A mulher dele, que é comissária, já sabe: ele é sempre o último a sair do avião, não sai da cabine até que tudo esteja perfeitamente limpo e organizado, com cada coisa no seu devido lugar.
Não sou pilot profissional ainda, mas me surpreendi com este post, pois adivinha, eu tenho um pincel na minha mesa do escritório, embora eu ache que não sou nenhum maníaco, só não gosto de ver pó nas coisa, coisas espalhadas, sugeirinhas, dedos nos vidros, marcas em móveis espelhados, migalhas, etc...
ResponderExcluirBrincadeira, só me incomodo mesmo é com o pó, não custa dar uma limpadinha...
E aí já leu o livro (O jogo, a bíblia da sedução)
Abraço!
Muito bom post comandante,queria dizer que leio o seu blog há muito tempo e que a principal inspiração para a criação do meu foram suas historia fantásticas da aviação,continue sempre nos contando sobre o mundo da aviação,abraço
ResponderExcluirDiz o ditado que a ferramenta sempre guarda as marcas do trabalho,agora sujeira e bagunça aí já vai uma grande distância,e não custa nada tentar deixar as coisas um pouco organizadas,pois até cartas de navegação jogadas ao léo é um pouco demais!!
ResponderExcluirQuanto a cabine de passageiros já vai longe o tempo em que as aeronaves eram bem diferentes de onibus,hoje alias é possivel se encontrar onibus com a cabine de passageiros bem mais limpa do que muitas aeronaves de algumas companias por aí,sinal dos tempos em que o lucro vem em primeiro lugar!!!
Muito bom post nos mostrando uma faceta não tão glamurosa da aviação e de seus "personagens" principais!!!
E eu que pensava que exagerava com meu carro, onde sou arrumadinho. Tapetes se eu vi areia já bato logo. Os do banco de trás, terminou a viagem eu já bato. Nos vidros, nada de adesivos. Nos porta trecos, só trecos temporários (carteira, celular, chave de casa), terminou a viagem, retira. Comer dentro do carro é terminantemente proibido. Fumar pior ainda. Também limpo o painel, o console, nada de pó.
ResponderExcluirParabéns pelo seu blog, muito bem elaborado, confesso que lia alguns só artigos e mesmo não sendo da área achei muito interassantes.Não sei se vc chegou a ver, fiz um comentário(na verdade fora mais uma indagação), em post seu de 2011,(sobre ter duas profissões):
ResponderExcluirAos 31 anos ainda é possível sonhar com a carreira na aviação,ou melhor, sonhar é mas como fica a realização para quem quer perseguir este sonho? Não necessariamente piloto, de repente mecânico, é muito complicado?
Caro Edmar, nunca é tarde para correr atrás de seus sonhos. Recentemente voei com um copiloto que está há apenas um ano na empresa e ele contou que entrou pela primeira vez num avião aos 27 anos de idade. Foi quando ele iniciou o treinamento para tirar o Brevet. Ele hoje tem 42 anos de idade. Para ser mecânico também não é tarder. Vc conhece o blog do Lito? Procure por "avioes e musicas" no Google, o Lito é mecânico de aviões, um expert nesta área, sabe tudo de manutenção de aeronaves.
ResponderExcluirCaro Boss, vou navegar em seu Blog, e despues deixo un comentário.
Abçs, Roberto.
Olá Beto, beleza?
ResponderExcluirNão sabia que era proibido fumar na cabine de comando!
Você como comandante, já teve um companheiro de viagem que insistiu em praticar o vício?
Em um comentário do post sobre o 1000º T7, o colaborador Goytá,do blog do Lito, falou sobre à perda total de dois T7, um deles 777-200 da Egyptair. Segue o trecho: "Parece que foi um vazamento do sistema de oxigênio dos pilotos combinado com um curto-circuito que iniciou a combustão de material plástico em volta, mas a Boeing está achando a história mal contada e ainda não se sabe ao certo o que aconteceu."
http://www.avioesemusicas.com/1000o-triple-seven-boeing-777.html
Te pergunto: Será que foi um cigarro aceso?
Um abraço.
Caro Alexandre, não conhecia esta estória. é como dizem, onde há fumaça há fogo!
ExcluirAbç, Roberto.
Comandante a decolagem em condições como esta não deveria ser proibida não:
ResponderExcluirhttp://www.youtube.com/watch?v=i9IhQxmt08U
Veja as condições em que o 767 do vídeo acima decola. Achei absurdo pelo risco que se correu.
Realmente as condições estavam muito ruins. Acredito que hoje em dia, na maioria das empresas aéreas sérias, esta decolagem não seria permitida. Os riscos aumentam muito: aquaplanagem, raios, visibilidade restrita e dependendo do caso, windshear! Haja adrenalina! Abç, Roberto.
ExcluirBeto, e eu pensando que só eu era extremamente organizado. Eu voo no Aeroclube de MG, as vezes pegos os aviões num estado de lascar. Uma sujeira, bagunçada, principalmente depois de navegações longas, é muito comum encontrar pedaços de biscoitos e outros alimentos espalhados. Não consigo voar deste jeito, limpo o avião antes do voo e entrego limpo e organizado novamente! Parabéns pelo blog, bons ventos!
ResponderExcluirSeja organizado, mas não seja neurótico! Abç, Roberto.
ExcluirMariel, Decolagem show essa do 767 video, vento de traves, spoilers e tudo mais.
ResponderExcluirDecolagem normal..
Já ví Comandante que leva lysoform pra passar no sidestick! pronto, já denunciei aonde trabalho!rs.
ResponderExcluirMas realmente, eu acho um ambiente muito sujo pra trabalhar, uma pena.