A experiência exigida pelas empresas aéreas para a contratação de novos copilotos pode variar. Alguns podem vir com mais horas de vôo, portanto, com mais experiência. Outros podem ter pouquíssima experiência, sem ter sequer trabalhado como piloto, com somente 300 horas de voo. Para quem já possui experiência, a adaptação em uma empresa aérea será certamente mais fácil, embora na fase de instrução o importante seja a vontade de aprender e a dedicacão aos estudos. Não raro os mais jovens possuem mais facilidade para assimilar ensinamentos. Independente do “background” do piloto, o seu primeiro voo em uma companhia aérea é sempre um grande acontecimento.
Antes deste primeiro voo, já admitido na empresa, ele tem pelo menos dois meses de curso com aulas teóricas e em seguida um programa de treinamento em simulador de vôos. Assim, embora a expectativa seja grande, ao chegar ao aeroporto nem tudo será novidade. A tripulação se apresenta para o voo uma hora antes da decolagem, mas nosso amigo que vestiu pela primeira vez o uniforme de copiloto da empresa, certamente chegará com uma antecedência maior. Terá olhado todos os boletins meteorológicos, lido os informativos referentes ao voo a ser realizado e estará ansioso à procura da tripulação do voo. O comandante do voo, com quem voará por cerca de três ou quatro meses, será seu instrutor e por isso há uma torcida mútua para que ambos se dêem bem.
Neste primeiro voo o aluno compõe a tripulação na condição de "observador", ou seja, há um copiloto titular do voo para que o aluno não precise ocupar o assento de pilotagem. Ele irá apenas acompanhar o voo na cabine de comando, observando e se familiarizando com a rotina do dia-a-dia. Ele está ávido por aprender e quer receber o máximo de informações e dicas. Alguns aspectos da rotina ele percebe que é bem mais fácil de serem realizadas, pois em sala de aula há sempre certo mistério. Mas também ele descobre que em voo o relógio está correndo, não há tempo a perder! O copiloto titular do voo quer ajudar e bombardeia o jovem aprendiz com tantas informações que neste momento chega a atrapalhar.
O período de “observador” leva em média 15 dias, ou 30 horas de voo. Na primeira etapa o aluno vai ajudar nos preparativos pré-voo, acompanhando o copiloto na inspeção externa e executando tarefas simples. Na etapa seguinte ele poderá ocupar o assento do copiloto durante o voo de cruzeiro. Na próxima ele ainda estará observando durante a decolagem, mas ao cruzar 10.000 pés na subida ele vai assumir o assento da direita até pouco antes do pouso, quando volta a ser um observador. Se o instrutor sentir firmeza, a próxima etapa terá o aluno assumindo o lugar do copiloto, enquanto que o titular fica sentado no assento do observador, atento e pronto para alertar e ajudar se necessário. O comandante é quem decola e pousa, enquanto seu aluno, sentado ao seu lado, o assessora ao mesmo tempo em que se familiariza com a “mecânica” de decolagem e pouso específicas daquela aeronave.
Até o fim da instrução, bons e maus pousos virão. Pistas longas e pistas curtas, decolagens com sol na cara e pousos na madrugada. O instrutor acompanha o progresso do aluno efetuando briefings e debriefings relativos aos diversos tipos de operações. A parte teórica também é importante e todos os sistemas do avião serão discutidos com o aluno. Regulamentos, performance, técnicas de pilotagem, voo em condições adversas e situações de emergência serão abordados ao longo do treinamento.
Ao final da instrução o copiloto-aluno já deve ser capaz de assumir plenamente o voo no caso de uma incapacitação do comandante. Para se certificar que o aluno está “safo” e que pode dar conta do recado, na última fase da instrução haverá alguns voos em que o comandante fará o mínimo necessário, deixando que seu aluno se vire! Este tipo de treinamento é conhecido por “pilot incapacitation”, e é um momento de verdadeira gloria para o aluno que se sente capaz e pronto. Estando o aluno afiado ele estará liberado para os vôos de avaliação.
Tanto o instrutor quanto o aluno estão contentes. O aluno, ainda que tenha gostado de seu instrutor, quer se livrar dele para poder conhecer outros comandantes, e seguir em frente em sua carreira, aprendendo e se aprimorando. O instrutor também está contente, pois acompanhou a evolução do seu aluno e voltará a voar com copilotos mais antigos e tarimbados. Até que um dia, em um futuro não muito distante, aquele comandante-instrutor, ao se apresentar para voar, vai se reencontrar com seu ex-aluno, agora um experiente e competente piloto. E ambos vão descobrir que naquela programação há dois copilotos escalados para o mesmo voo! É um novo aluno, que chegou cedo ao aeroporto e está ansioso para o primeiro voo.
- Nestas fotos eu ainda era aluno, voando o Embraer Bandeirante em 1985, e o Airbus A-300 em 1988
O senhor é comandante instrutor na empresa que trabalha?
ResponderExcluirQue novinho... Vc. começou com 14 anos?
ResponderExcluirCaro Metal, não sou instrutor nem checador. Geralmente as empresas seguem a lista de "senioridade" na empresa, ou seja, vai convidando para estes cargos os mais antigos, caso eles tenham, na opinião ca Chefia, o "perfil" para o cargo. Onde trabalho, ainda não sou antigo o suficiente para ser instrutor. Na "velha Varig" eu dei instrução e fui checador no 737-200 e instrutor no 737-300. Mas de certa forma, todo o comandante é um instrutor, ainda que o copiloto eventualmente aprenda a como NÃO ser, como NÃO agir em determinadas situações.
ResponderExcluirLuc Saldanha, no Bandeirante da Rio Sul eu tina 20 anos e no A-300, 22 anos. Realmente comecei cedo.
Parabéns pela carreira, Beto !!
ResponderExcluirÉ sempre muito bom lembrarmos de quando, como e onde começamos.
Grande abraço!!
Cestaro
Comandante, muito interessante a matéria. Já ouvi dizer que a antiga VASP gostava de realizar a instrução de seus pilotos no aeroporto Salgado Filho em Porto Alegre por ser um aeroporto pouco movimentado e que a aeronave ficava realizando toques e arremetidas. É verdade que empresas possam realizar seus treinamentos dessa forma sem ser em vôos padrões? Grande abraço, Antonio Arcoverde
ResponderExcluirMuito legal o post
ResponderExcluirParabéns
Emocionante seu relato. Pena que em 1988, não tinha ao meu lado alguém que me levasse ao rumo certo.
ResponderExcluirCara Cmte,
ResponderExcluiroutro dia estava em um 37 da gol chegando em guarulhos e ao estacionarmos no finger, o Cmte do voo soltou o seguinte speech, "gostaríamos de informar que esse foi o último voo do Fulano ( não lembro o nome) como aluno e que a partir de hoje ele faz parte da família gol". O pouso foi uma maravilha, mas na hora de frear parecia quando pegamos um carro novo, o cara deu uma brecada daquelas hehehe. Nesse dia o Cmte citou que era o 5º e último voo de check do individuo lá. Existe algo assim? Se o cara não for bem nesse "5 voos" ele volta para simulador?
Abraço
Roberto Ellery
Realmente muito emocionante esse seu relato Cmte, muito importante pra quem está começando a carreira agora como eu e sonha em um dia estar na cadeira de Co-piloto e posteriormente na de Cmte, seus relatos nos motiva e encoraja, eu ainda estou no PP, tenho muito a percorrer ainda mas estou lutando para isso acontecer o mais breve possível e quem sabe um dia ter a honra de pilotar ao seu lado. Conto com cada vez mais relatos emocionantes, inspiradores e motivadores.
ResponderExcluirGrande abraço
Vinicius
Muito interessante!
ResponderExcluirA única vêz que voei num A300 foi nesse mesmo PP-VNE no dia 30/09/88 SSA-GIG!
E o livro Cmte? Vai lançar um? Dava pra vc e o Lito fazerem uma parceria, não?
ResponderExcluir;D
Meu deus, tirem essa criança dos controles!
ResponderExcluirAgora falando sério, muito bom o post! Espero conseguir seguir esses passos e realizar meu sonho um dia.
Olhando essas fotos, faço um esforço para lembrar com quais palavras você conseguiu me convencer a te deixar voar tão criança! Ou eu fui aquele tipo de mãe relapsa e inconsequente que não estava nem aí?
ResponderExcluirBjs
Isa
Deve ser uma grande emoção este dia do 1º voo como coopiloto,ver a carreira seguindo,tendo bons instrutores e ver o sonho de muitos anos quase totalmente realizado!!
ResponderExcluirMuito bom post!
walmir
No seu caso qual aeroporto foi seu primeiro pouso como co piloto da varig, comandante e o instrutor largou na sua mão a aeronave sem estar arisco rsrsrs, eu imagino a sua transição para os jatos....
ResponderExcluirEsqueci de dizer tem novidades no meu projeto cockpit 737ng
ResponderExcluirhttp://projeto737ng.blogspot.com/
um abraço e obrigado aqueles que me visitarem no meu blog.
Caro Antônio Arcoverde, realmente Porto Alegre era um aeroporto bom para a realização do chamado "voo local" pois no passado era uma área de pouco movimento. Mas hoje em dia seria impossível devido ao grande número de voos. Antigamente os voos locais eram realizados no próprio avião, mas há anos que os simuladores de voo adiquiriram tamanho realizmo que este voo é feito no simulador. Eu fiz o meu voo local de Bandeirantes em Porto Alegre, e também era o copiloto de um 737-200 que em treinamento de voo local (1990) para 5 novos copilotos que estavam ingressando na Varig, efetuou 25 pousos seguidos na pista de Porto Alegre. Imagine o custo, e o risco para as empresas...Fora o desgaste para o comandante. Já escrevi em set/2009 sobre os voos locais em (http://projeto737ng.blogspot.com )
ResponderExcluirCaro Roberto Ellery, do primeiro ao último voo de chek de um copiloto em treinamento inicial, pode realmente chegar a 5. Na fase de simulador são 2, o chek da empresa e o chek da Anac. Depois em voo ele pode ter sua instrução dividida em duas fases, com dois instrutores, sendo que entre uma fase e a outra há um novo voo de chek. Ao terminar a segunda fase, mais um chek e finalmente o último que é o chek Anac! Haja saco! Quando encerra esta fase o copiloto não quer olhar para os manuais por um bom tempo, e com razão. Em caso de reprovação ele volta para a instgrução. Sabe aqueles jogos de dados com pecinhas avançando sobre o tabuleiro? É mais ou menos isso, pode voltar algumas "casas" e até ficar algumas rodadas sem "jogar". E muita dedicação para não "sair do jogo".
Vinícius, estou te esperando para um voo!
Luciano Semprebom, o livro vai sair, só não sei quando, acho que no segundo semestre do ano que vem. Tenho que ter paciência para conseguir o melhor esquema para mim.
Mãezinha querida, você foi ótima, e do jeito que eu sempre gostei de aviação, vocêm seria louca se não me permitísse seguir com meus sonho.
Ederson, meu primeiro voo na Varig foi no Electra, e foi ótimo. Logo nos primeiro dia o Cmt Grosman Filho deixou eu sentar no assento da esquerda e, junto com ele, pousar o Electra. Claro que ele estava arisco, mas como eu disse, a garotada de 20 anos (eu tinha 21 naquela época) tem uma capacidade incrível para aprender, e uma coordenação acima do normal que ajuda na hora da pilotagem. Do Electra para o jato foi ainda mais tranquilo. Parabéns pelo seu projeto, está ficando muito show!
É isso, abraço a todos, Roberto.
Errata no meu comentário: O Cmt Grosmann Filho de deixou ocupar o assendo da DIREITA, e não esquerda como eu escrevi. O assento da direita é o do copiloto.
ResponderExcluirFantástico post comando! excelente como sempre! meus parabéns!
ResponderExcluirCmte, tudo bom? Uma Dúvida grande: hoje, dia 8, os avioes aqui em curitiba estão decolando em um rota meio diferente da normal e, aproximando para pouso, numa rota que eu nao via avião fazer desde 2003-2004(a que vem de pinhais pra ingressar na 15)O senhor sabe se está acontecendo algo de errado?
ResponderExcluirLuciano, não sei o que aconteceu. Será que havia um nuvem muito "pesada" na reta final de aproximação e o controle de tráfego aéreo optou por uma rota sobre o Bacacheri para desviar os aviões do mau tempo? Não sei, estive de folga ontem. Abçs, Roberto.
ResponderExcluirNão sei....não vi nuvem pesada nesse dia...mas acho que nao devia ser nada de muito grave(ou importante) pois não ouvi ninguém falando nada! Vlw Cmte!
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