sexta-feira, 15 de maio de 2009

Colisão com pássaros

Dia desses, minha irmã me perguntou se há no Brasil muitos casos de colisões com pássaros em voo. Sim há, e muitos, sobretudo em certos aeroportos onde há lixões por perto. Salvador e Galeão são localidades com vários registros. Em Londrina, há um depósito de lixo nas proximidades da pista de pouso, e em Guarulhos também é comum colisões com pássaros logo após a decolagem. As chances de encontrar e bater com um pássaro, porém, são pequenas. No meu caso, nesses 24 anos de aviação comercial, ou ainda, nesses quase 27 anos (contando desde o período de aeroclube), nunca tive problemas desse tipo. Já atropelei pequenos pássaros, tipo corujinhas que adoram ficar sobre a pista no período noturno, aproveitando o calor do asfalto. Sendo a vítima de pequeno porte, o motor simplesmente ignora o coitado, fazendo picadinho dele. Se o pássaro é grande (urubus são as maiores ameaças no Brasil), então o motor pode sofrer danos maiores, e por isso muitas vezes devem ser desligados em voo para se evitar maiores problemas. Nos aviões comerciais, há sempre 2 motores no mínimo, então desligar um não é problema. Quando pássaro é engolido pelo motor, seja qual for o tamanho, o cheiro vem para dentro do avião, pois o ar proveniente do ar condicionado é extraido de uma parte do compressor de ar da turbina. Mesmo se isolamos o ar condicionado do motor afetado, o cheiro entra, e é um cheiro realmente ruim. Certa vez atropelei um urubu quando estava na aproximação para pouso em Manaus. A cerca de 10 segundos para o impacto, avistamos um bando de urubus vindo em nossa direção (na verdade eles estavam ali voando em círculos, nós é que fomos em direção a eles), parecia que ia bater de frente com a janela da cabine, e cheguei a abaixar a cabeça, num reflexo para me proteger. Passou perto, bateu na janela lateral esquerda, no limite entre o painel de vidro e a fuselagem, deixando uma sujeira danada no avião. Aliás, as janelas da cabine de comando são contruidas com vários painéis de vidro e acrílico/vinil, sendo que para dar maior resistência ao impacto, elas são aquecidas. O aquecimento dá ao conjunto uma certa flexibilidade. Além disso, abaixo de 10.000 pés (3.000 metros) há uma velocidade máxima para o voo, pois quanto menor a velocidade maior a resistência. Quando avistamos pássaros na rota, não há muito o que fazer, o radar meteorológico ligado, embora não haja uma confirmação técnica, é um recurso que parece ajudar, no sentido de afugentar os voadores. Em Porto Alegre, há muitos quero-queros, já em Guarulhos, é comum avistarmos gaviões nos gramados ao redor das pistas. Em Fernando de Noronha, a quantidade é ainda maior, pois lá a natureza é preservada com rigor. Nas chegadas e saídas de Noronha, há 2 procedimentos que podem ser adotados: O primeiro é na chegada, quando solicitamos aos Bombeiros, através de contato via torre de controle, para circular de caminhão sobre a pista, e afugentar as andorinhas, albatrozes, quero-queros e etc. O outro é antes da decolagem, nós mesmos taxiamos com o avião por toda extensão da pista, numa operação "xô-passarinho"! Pessoalmente, tenho minhas dúvidas quanto a eficácia destes procedimentos, pois se eles não estão parados sobre a pista, estão voando por perto, só aguardando alçarmos voo. Há outros bichos soltos por aí, que vou contar depois.

Um comentário:

  1. Primeiro você diz que há muitas colisões com pássaros e, logo depois, você diz que a chance de encontrar e bater com eles são pequenas. Favor decidir.
    Quanto ao texto propriamente dito, achei muito interessante porque também sempre ouvi falar de pássaros versus avião.

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