sábado, 24 de outubro de 2009

Tripulação de jovens

Há uns anos atrás, quando estava voando o MD-11, a idade média dos tripulantes a bordo era maior, de 40 anos para cima. Na cabine de comando dificilmente se encontrava alguém com menos de 35 anos e pelo menos 12 anos de aviação comercial. Atualmente tenho trabalhado com tripulantes bastante jovens, co-pilotos e comissários na faixa dos 26 anos de idade, e algumas vezes menos ainda. Até pouco tempo atrás quando o co-piloto me chamava de senhor, chegava a doer no ouvido, hoje já me parece mais natural, afinal para ele com 25 anos de idade, eu com 44 estou mesmo meio velhinho! 

Outro dia, um co-piloto estava me contando suas aventuras amorosas. Contou-me que estava saindo com uma coroa que conheceu na net. Saíram juntos, foram para um motel e foi legal, pois a coroa até que estava inteira. Perguntei qual era a idade desta coroa? Trinta e cinco anos, ele respondeu! É, o tempo está passando...Já fui jovem também. 

Quando voei o Bandeirante na Rio-Sul com vinte anos de idade e ficava do lado de fora do avião para recepcionar os passageiros, volta e meia um deles se espantava ao ver que eu era o co-piloto mal tendo barba na cara. Pouco tempo depois o mesmo se repetia no Electra da Ponte Aérea quando estava com 21 anos. Certa vez durante o embarque um passageiro me abordou perguntando se eu era realmente o co-piloto do avião. Respondi com orgulho que sim, e ele então me questionou se eu tinha autorização e se meus pais sabiam que eu estava ali. Em abril de 91, com 26 anos recém completados, eu fui promovido à função de comandante. Aí sim a tripulação era jovem! Voava Brasil a fora acompanhado de um co-piloto que podia ter 23 anos, e comissários também com idade entre 21 e 24 anos. O que você acharia de voar sob a responsabilidade de pessoas tão jovens? Os passageiros ao me verem ficavam um pouco ressabiados, mas como já estavam embarcando, e afinal se a empresa aérea nos colocou naquela função, deve ser porque tínhamos a competência necessária. Assim como eu, outros colegas foram promovidos com pouca idade, pois entramos na Varig numa época de crescimento acelerado, portanto as promoções vinham rápidas.

 Na época em que fui promovido, entrou na Varig um grupo de comandantes oriundos da Vasp e Transbrasil. Fiz vários vôos com eles, e quando nós voávamos juntos, dois comandantes ao invés de comandante e co-piloto, eu era o responsável pelo vôo, e é claro, sentia o “peso” da diferença entre nossas experiências. Eu recém promovido, e eles com 35 ou mais anos de idade, com 7 a 12 anos de prática na função de comandante. Eu me virei bem! Estudava bastante, pois acredito que na falta de experiência prática, um bom recurso é preencher esta lacuna com conhecimento teórico. Na hora do “vamos ver”, se faltar de um lado, compensa-se com o outro. A experiência é muito boa, e só se adquire com o tempo, enquanto isso, prudência, saber ouvir, saber dizer não, não sei, me deixe pensar um pouco, e finalmente reconhecer limitações é fundamental.

Se hoje a diferença de 20 anos entre eu e o co-piloto faz com que eu os ache jovens para a função, eu fico imaginando o que deveriam pensar os comandantes com quem voei o Airbus A-300, (avião para 232 passageiros) em 1988? Eles tinham entre 50 e 60 anos e eu com apenas 22 quando iniciei a instrução para co-piloto. Quando eu estava nascendo, eles já eram comandantes há algum tempo. Havia um comandante, o Mateus, que na época devia estar com 40 anos de idade, e que quando se ausentava da cabine para ir ao toalete, ou apenas para esticar as pernas, antes me perguntava o que eu deveria fazer em sua ausência, caso ocorresse uma despressurização da cabine, uma falha de motor ou outra pane qualquer. Dizia a ele toda a sequência de ações e procedimentos, sempre me lembrando das sessões de treinamento em simulador. Então ele se virava para mim com uma expressão entre o sério e a brincadeira e dizia: - Nada disso menino! Não mexe em nada, me chama que eu venho rapidinho, não mexe em nada!



  • Jovem em dois momentos: com 21 anos no Electra e com 22 em instrução no Airbus A-300.

13 comentários:

  1. É isso, Roberto...

    Eu, que entrei na FAB lá pelos 16 sei bem o que é isso... eheh

    Aproveito pra convidá-lo a escrever algumas crônicas também pro nosso Blog, o Pensando Aviação (http://pensandoaviacao.blogspot.com). Todos os dias semeio algumas reflexões por lá... e já temos alguns colaboradores esporádicos. Fique aa vontade e pode mandar matériaS pro email joaomad2003@hotmail.com

    Fraterno Abraço,

    João MADRUGA

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  2. Haha, nao faz nada menino!
    Quando eu virei inspetor de manutencao na Varig tinha apenas 22 anos e lembro a primeira vez em que "solei" na ponte aerea. O inspetor chefe me disse: pega a motorola e vai la, se precisar de ajuda me chame, mas NAO PRECISE! haha.
    Aquela foto ali no Electra por acaso era naquele simulador a valvula? Eu fiz ground school la pra fazer check de runup.. varias madrugadas por ali...
    Grande abraco.

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  3. OK João, se vou acessar seu Blog e qq. coisa eu te dou um alô. Lito, a foto foi tirada no avião mesmo. Estou para escrever sobre o simulador do Electra e o período que eu voei nele. Outro que era bem jovem, não sei se vc lembra dele, era o Marcelo que era mecânico no SDU. Ele está em Goiânia há anos, e hoje trabalha nos Airbus. Abç Roberto.

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  4. Olá, sou o professor Jonas do blog Cultura Aeronáutica, gostei do teu blog e dos casos. Obrigado pela visita e agora, retribuindo.

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  5. Excelente o blog! Comandante, gostaríamos de convidá-lo a escrever para nosso blog também. O que acha? entre em contato conosco!!

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  6. É isso aí comando, ótimo post. Tenho reparado também que a tripulação é muito jovem, porém se está lá é porquê está ápta a exercer a profissão. Tenho vinte anos, e ainda não comecei o curso por não prover de certa condição financeira. Estou entrando pra PM-PR, pois terei desconto aqui na faculdade em Londrina-PR, aí se Deus quiser em breve estarei mais perto Dele.
    A propósito, você tinha uma cara de uns 16 anos ein!? Nem tinha cara de copila, show de bola meu!! Parabéns pelo blog e pela carreira.
    Deus abençoe

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  7. O sorriso e o cabelinho não mudam. Iguais em todas as fotos.

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  8. Roberto,
    Parabéns pelas matérias, sempre muito interessantes. tive conhecimento de seu blog aqui na Apub, onde voamos. Tomei a liberdade de inclui link na rede social sobre experimentais http://papauniforme.ning.com

    Grande abraço

    Dênis

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  9. Comandante carvalho na sua época os comandantes eram rigorosos? nossa eu pensei que o sr. tinha colocado um uniforme somente para tirar a foto em um cockpit, hehehe, depois li a materia e vi que era real, o sr parecia mesmo ter uns 15 anos hehehe, comandante como o sr interage com os seus copilotos? quando um copiloto é contratado e cai na sua mão o sr. começa a deixa-lo pousar em que estagio, como funciona esse processo, parabens por presentar-mos por mais este post em seu blog, continue alimentando nós pilotos de terra (simulador hehehehe) um abraço comandante.

    O SR CONHEÇE CO CO-PILOTO DE 737-800 GOL DENIS BIANCHINI.

    Estou me preparando para prestar a prova da anac para piloto privado, acho que vou conseguir sair do solo e largar um pouco o simuldor hehe.

    Um abraço forte comandante e quando vir para navegantes da um toque
    Ederson - Blumenau - SC

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  10. heheehehe boa muito boa "NÃO MEXE EM NADA", Os comandantes eram caxias ao extremo.

    Ederson

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  11. Valeu Ederson. Vou pensar e escrever sobre o assunto proposto, que é interessante. Já tive vários alunos, dá para escrever algo interessante. Aguarde. Abç Roberto.

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  12. Legal comandante poste algo sobre sua experiencia com seus alunos, o sr já percebeu temos 5728 visualizações em seu blog, o sr poderia nos presentear com um video de alguma aproximação sua no 737-800 o sr esta dando a mao e logo quero o braço heehehe valeu comandante fica com deus e bons pousos

    Edersom

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  13. Caro Ederson, não quero ficar filmando em voo, a menos que tenha um terçeiro tripulante na cabine para poder filmar. Tem um vídeo em que filmei a aproximação em Noronha há uns anos atras: http://www.youtube.com/watch?v=bbbxrgNnvJ4 Abç Roberto.

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