O segundo semestre de 84, quando morei no Sul, foi um período muito legal na minha vida. O curso (3º CAA, curso de atualização e aperfeiçoamento para piloto comercial) era das 8 as 17 hs, com almoço no bandejão da Varig. No intervalo das aulas, saíamos correndo da sala para um terraço com vista para a pista do aeroporto, onde curtíamos os pousos e decolagens dos aviões. Tínhamos livre acesso aos hangares de manutenção da Varig, podendo entrar nos aviões e ver de perto o trabalho dos mecânicos. Motores, asas, flapes e trens de pouso ao alcance das mãos! Aulas de navegação aérea com o Cmt Bordini, que era uma “lenda” na Varig, tendo voado dos anos 40 ao início da década de 60. Regulamentos com o Mestre Cabral, que no passado tinha sido radiotelegrafista à bordo dos aviões. Ele nos fez decorar o código Morse, que é claro, não durou mais que uma semana na minha cabeça. Tínhamos aulas de meteorologia com o Capitão Lima, que era meteorologista da FAB, e se auto-intitulava o Papa da meteorologia. Realmente ele sabia muito e as aulas eram bem legais apesar da falta de modéstia dele. Também havia o Mestre Pícolli que dava aula de tráfego aéreo. Ele era um “expert” na área, com vários cursos e estágios nos EUA como controlador de vôo. A turma era muito legal, tinha o carioca típico que não perdia uma roda de chope, o gaúcho da fronteira, o paulista do interior e o da Mooca, entre outros. Fora do ambiente de sala de aula, saíamos para curtir as noites, e nos encontrávamos nos finais de semana. Nunca comi tanto churrasco com chimarrão na minha vida! Conheci algumas cidades do interior, Gramado e Canela na serra, a região do Parque Nacional dos Aparados da Serra, onde fica o Itaimbezinho, que é um dos maiores cânions do Brasil, e algumas das praias gaúchas. Nesta época meu irmão cursava a Faculdade de Hotelaria em Atlântida, que é uma praia badalada a cerca de 110 quilômetros de Porto Alegre, então de vez em quando eu passava o fim de semana com ele. Era ótimo, pois eu dava um tempo naquele ambiente de aeroporto, pilotos e aviões para encontrar ele, seus amigos, e principalmente suas amigas. Um dos colegas da minha turma foi o Paulo Brasil, gaúcho de P. Alegre, e que me acolheu super bem. Eu ia muito à casa dele, conheci seus amigos e seus pais, que por sinal também me acolheram muito bem, tanto que no ano seguinte, quando estava me preparando para o exame de seleção da Varig e precisava de um ambiente tranqüilo e sossegado, longe do agito de São Paulo, passei 15 dias hospedado na casa deles. Sou muito agradecido ao Paulo Brasil e a seus pais. Quando em setembro de 84 a Varig realizou a primeira prova para seleção e admissão de co-pilotos, eu ainda não tinha as horas de vôos nem as licenças necessárias, então continuei no curso que terminou em dezembro daquele ano. De volta a São Paulo, conclui o treinamento de vôo e obtive as licenças que faltavam para, em abril de 85, prestar e ser aprovado na segunda prova de seleção. A formação das turmas foi baseada na classificação na prova, com um acréscimo na posição em função do total de horas de vôo do candidato. Como eu possuía pouquíssimas horas de vôo (250 aproximadamente), fui designado para a 3ª turma, com data prevista para admissão em outubro de 85. Convenci meu pai a me pagar uma viagem à Europa, de um mês e meio, mochila nas costas, dormindo em albergues da juventude, sem roteiro definido e custo mínimo. Seria um presente, pois a partir de outubro estaria atingindo minha independência financeira. Foi mesmo, e foi ótimo, talvez a melhor viagem da minha vida. Na volta iniciei um novo curso, também em Porto Alegre, só que desta vez admitido na Rio Sul. Como a necessidade da empresa era grande, o curso não durou mais que 2 meses, e em dezembro iniciava o treinamento para voar de co-piloto de Bandeirantes na Rio Sul, e em seguida na Varig. Incrível, com 20 anos de idade já tinha um emprego na Varig, felicidade total!
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