Eu disse a ela que aquilo deveria ser uma brincadeira de algum amigo que por coincidência estava no vôo, ou então um grande engano onde o suposto professor de balé estava me confundindo com outra pessoa. De qualquer forma, visitas não são permitidas, então que dissesse a ele que seria um prazer recebê-lo na cabine após o pouso. A comissária disse que iria transmitir o recado, mas disse que havia uma terceira possibilidade. A de que ele realmente era meu ex-professor de balé, e eu estava com vergonha de admitir.
No desembarque, qual não foi a minha satisfação em encontrar o Crivellaro, que aguardou todos passageiros desembarcarem para me cumprimentar.
Ele havia sido Comandante na Varig, e eu fui seu co-piloto nos anos 86/87 quando voamos o Electra na Ponte Aérea. Lembro-me de um vôo de avaliação que fizemos juntos, quando ele, além de avaliar meus conhecimentos e pilotagem, ainda me ensinou algumas coisas naquelas 4 etapas RJ/SP. Este é o tipo de vôo de avaliação legal, quando além de mostrar o que você sabe, ainda tem a chance de aprender.
O Cmt. Crivellaro foi instrutor e checador em todos equipamentos em que voou na Varig, além de ter ocupado cargos junto à Diretoria de Operações. Um excelente piloto e muito querido por todos. Quando em 2003 eu fui voar o MD-11, ele já estava no Boeing-777. Com a crise da Varig, muitos pilotos foram voar no exterior, principalmente na Europa, Oriente Médio e Ásia. Alguns esperaram a “velha” Varig encerrar as operações para seguir a carreira lá fora, outros saíram antes disso. O Cmt. Crivellaro atualmente voa em uma grande empresa na Ásia.
Ele contou que a vida lá não é fácil, mas que está bem adaptado e feliz voando o B-777 para o mundo todo. Contou que a empresa é boa de se trabalhar, e que é incrível a falta de flexibilidade dos asiáticos. Para exemplificar, ele comentou um caso em que ainda durante o embarque, percebeu-se que o sistema de vídeo de um passageiro sentado na classe executiva não estava funcionando. Solução simples, pensou ele! Se a classe executiva não está lotada, e há vários assentos disponíveis, basta que o passageiro mude de assento. Mas não, não é assim que eles fazem por lá. O passageiro fica onde está e o vídeo deve ser consertado. Para isso, o pessoal da manutenção embarca com os devidos equipamentos e ferramentas e conserta o vídeo, ainda que isso represente um atraso no vôo!
Contou também que após o período de instrução, ele foi submetido ao vôo de avaliação por um comandante da empresa. Ele já havia voado na aviação internacional por muitos anos na Varig, e também já possuía experiência no B-777, portanto foi só uma questão de se adaptar à rotina operacional daquela empresa.
Neste voo de cheque, durante o “joint-briefing”, com toda a tripulação reunida antes mesmo de seguiram para o avião, ele fez os comentários de rotina a respeito do vôo. Sempre observado pelo comandante checador, falou sobre os procedimentos a serem adotados em caso de encontrarem turbulência durante a viagem. Comentou que conforme o procedimento da empresa, caso ele ligasse o luminoso de “apertar os cintos” (com apenas um aviso sonoro, ou seja, um “chime”, que é aquele “plim” que se ouve quando o luminoso é aceso) o aviso valeria somente para os passageiros, mas que se o luminoso fosse ligado duas vezes (uma logo após a outra, com dois “chimes” seguidos), então além dos passageiros, toda a tripulação de cabine também deveria permanecer sentada.
O vôo transcorreu sem problemas, sendo que em determinado momento em que eles iam enfrentar uma turbulência moderada, o Cmt. Crivellaro efetuou o tal procedimento, ligando o luminoso duas vezes seguidas para que todos se sentassem. Após o desembarque no destino final, o Crivellaro e o comandante checador se reuniram em uma salinha para o “de-briefing” e o veredicto sobre o vôo de avaliação. O checador parecia aflito, levando constantemente as mãos à cabeça, e disse que o vôo havia sido bom, mas que ele, Crivellaro, havia cometido um erro gravíssimo, e não sabia o que fazer! Disse que havia um procedimento especial com relação ao luminoso de apertar os cintos, em que em caso de turbulência moderada, além de ligar duas vezes o luminoso de atar os cintos, ele deveria ter feito um anúncio pelo sistema de som, confirmando a todos os passageiros e tripulantes da necessidade de retornar aos assentos. Que situação! Mas ele foi aprovado, tendo prometido que jamais repetiria aquele "grave" erro.
Na semana seguinte, já aprovado e voando para Nova Iorque, ele percebeu que iriam passar por uma área com turbulência moderada, e além de ligar o luminoso por 2 vezes seguidas, também efetuou o anúncio aos passageiros. Horas depois, ao encontrar novas áreas de turbulência, o procedimento foi repetido. Foi então que o co-piloto olhou para ele com cara de quem não está entendendo, e perguntou qual era o motivo dele fazer tantos anúncios aos passageiros ao entrar em turbulência. Ele contou o caso, dizendo inclusive que havia sido repreendido no vôo de avaliação! Pois não é que o co-piloto disse que aquele procedimento era meramente usado em voos de cheques, quando em avaliação para mostrar serviço, e que ninguém usava este procedimento??? Coisas da aviação.
Quanto às aulas de balé? Nada contra, mas não, eu nunca dancei balé em minha vida.
Comandante, nos conte um pouco de como é feita a escala de vocês. O que define o piloto ser diurno ou noturno? Ou o piloto é obrigado a cumprir as escalas tanto de dia quanto de madrugada. Como vocês preparam o relógio biológicos de vocês para realizarem vôos de madrugada? Abração, Antonio Arcoverde
ResponderExcluirAcredito que e o mesmo esquema do tipo: Voce fazendo a prova pratica para tirar CNH, onde voce tem que dar uma mexida nos retrovisores do veiculo mesmo que nao haja necessidade!
ResponderExcluirCoisas pra complicar a vida!!
Grande abraço Comando!
Comandante, que prazer é nos dado a cada vez que lemos um "post" seu... tenho uma dúvida: esse seu amigo era CMD da Varig, como vc disse... se ele tivesse se identificado como tal, vc teria deixado ele visitar a cabine? Eu estou para começar meu PP... após a conclusão do mesmo, se eu me indentificar como um PP, poderei visistar algumas cabines em voo, se for o caso? Muito obrigado por mais um post que nos leva a olhar para o futuro, que nos alimenta da nossa sede de ares! Forte Abraço.
ResponderExcluirCaro Antônio Arcoverde, a nossa escala de voos é bem variada, sendo que voamos tanto de manhã, quanto no período da tarde e na madrugada. Vale tudo! O que pode ocorrer, é escala fixa nos voos da Ponte Aérea, ou solicitação para priorizar escalas com voos bate-volta, ou então com vários pernoites. Em ambos os casos, há muitas programações com voos de madrugada. Quando eu tenho um voo destes, eu me programo para dar uma boa dormida durante a tarde antes do voo, e no dia sequinte, ao chegar em casa ou em algum hotel, tenho que dormir para repor o sono. De qualquer forma, sempre que voo na madrugada o dia seguinte é meio esquisito. À noite durmo feito um pedra.
ResponderExcluirCaro Danilo, no caso deste meu amigo, sendo ele Tripulante, ainda que de outra empresa, ele poderia ter ido na cabine. A regra diz que tripulantes podem entrar na cabine. Não diz se é tripulante desta ou daquela empresa, também não diz se o tripulante deve ou ñão estar uniformizado ou a serviço. Veja que o meu colega se identificou mas nem era a intenção dele ir na cabine, pois não estando uniformizado, ou com um crachá no peito que o identifique como tripulante, ele sabe que pode não ser legal, pois aos olhos de um passageiro, ele é apenas outro passageiro. Infeizmente hoje em dia, para evitar aborrecimento com possíveis autoridads aeronauticas que podem estar a bordo, e também para evitar reportes de passageiros que resultem em termos que nos explicar para a chefia de pilotos, a maioria nega sistematicamente qualquer visita na cabine, mesmo que o passageiro se identifique como piloto e etc... Coisas da aviação comercial de hj em dia. Mas não desista, há sempre alguém que poderá deixar, não custa tentar e pedir.
Abç Roberto..
Tenho uma pergunta
ResponderExcluirPq a asa dos 777 nao tem winglet, como nos 737s ???
Olá Alê! É uma boa pergunta, e só tenho uma resposta: É poque os projetistas e engenheiros da Boeing preferiram assim! Quem talvez possa te dar uma resposta mais técnica é o Lito, que foi mecânico da Varig por muitos anos, e atualmente trabalha em uma grande empresa americana de aviação. Ele tem um Blog bem bacana chamado Aviões & Músicas. Acesse e mande sua pergunta para ele. http://www.avioesemusicas.com/ Abç, Roberto.
ResponderExcluirOlá Alê, não sou perito em Aviação, mas li algumas matérias sobre o Boeing 777 na época em que ele foi lançado e vi que a Boeing optou por integrar "Wingtips" na ponta de suas asas, uma leve inclinação da ponta de sua asa a qual também traria benefício bem próximos a uma "Winglet". Pode verificar que o o Triple 7 possui uma leve inclinação na ponta de sua asa. Grande abraço, Arcoverde
ResponderExcluirOlá Comandante. Trabalho em um aeroporto e vejo diversos comandantes ex- Varig embarcando para voar na asiática Eva Air, ou na européia Ryanair. É triste ver pessoas que tem o dom de voar nessas condições. O dono da Rayanair disse que os pilotos eram "Chaufer de Avião". Que insolência com pessoas que tem tamanha importância como os aviadores.
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