terça-feira, 21 de abril de 2009

Quem não se comunica, se estrumbica. parte I

Desde as primeiras aulas de vôo, ainda no aeroclube, o piloto já tem que lidar com o microfone, aprendendo a se comunicar pelo rádio. Ainda que seja em um local afastado, uma pista quase sem movimento e sem torre de controle, a comunicação é feita às cegas, ou seja, para quem possa estar ouvindo ter conhecimento das intenções daquela aeronave. No processo da comunicação há 4 elementos básicos: compreensão; fala; leitura e escrita. Precisamos falar e compreender, por isso as mensagens, para serem eficientes, devem ser claras, concisas e assertivas, sem riscos de parecerem ambíguas. Nos grandes aeroportos, onde operam empresas estrangeiras, o ideal seria se toda a fonia fosse feita somente na língua inglesa, assim, as instruções dadas às aeronaves locais seriam entendidas também pelos estrangeiros. É assim em alguns países lá fora, tal como a Alemanha. Aqui no Brasil, estamos longe disso, se é que algum dia chegaremos lá. Na Europa, os controles de tráfego aéreo parecem possuir uma certa unidade de um pais para o outro. Seguem as normas e recomendações da ICAO (Organização Internacional da Aviação Civil), então não é tão difícil a compreensão, até porque, na cabine ficamos ultra ligados, com o fone de ouvido colocado, e de um modo geral, as instruções são quase sempre as mesmas, já sabemos o que esperar do controladores. Nos EUA, é um pouco diferente, pois lá eles não seguem a ICAO, mas sim o FAA (Agência Federal de Aviação), que tem suas particularidades. Lá eles usam muitas gírias e expressões locais. No solo, se a torre instrui para seguir o “BIG A”, é pra seguir o avião da American Airlines. “THE CLIMBER”, é o Boeing 737. E quando na aproximação para pouso em Nova Iorque, o controlador autoriza o procedimento para chegada, terminando a frase com: “AND THEN, KILL THE RABITT”? Matar o coelho? Que coelho, não sou assassino!! Significa que, ao avistar aquelas luzes que piscam sequenciadamente em direção a cabeceira da pista, devemos segui-las e pousar. Simples, quando se sabe o significado. É como se aqui em São Paulo, o controlador instruísse o United Airlines a voar na proa do Ibira (puera) ou solicitar ao Air France que informe quando estiver na lateral do Jaraguá! Voando lá fora, a menos que todos na cabine dominem a língua local, devemos falar inglês. Portunhol não é recomendado aqui na América do Sul, apesar de não raro apelarmos para esta mistura. Algumas palavras ou expressões podem ter significados diferentes em países vizinhos. Houve um caso aqui em Guarulhos, em que um vôo de uma empresa estrangeira vinha para o pouso, e o piloto estava fazendo a comunicação com a torre de controle em português. Falava bem, se esforçando no sotaque brasileiro. Acontece que por uma série de fatores (inoperância de equipamentos em solo, uma pista fechada devido a obras, e o sol na cara, entre outros) o avião alinhou para a “taxiway”, que é paralela a pista principal. O controlador, quando o avião já estava já bem próximo para o pouso, ao perceber que aquele avião iria pousar na pista de taxi, prontamente instruiu-o para arremeter, ou seja, descontinuar a aproximação, subindo para novo procedimento. Mas os pilotos não entenderam a palavra ARREMETA, pois no pais deles, o termo para esta manobra é ABORREGUE. O avião, que era dos grandes, acabou pousando na pista de taxi sem maiores conseqüências. Há outros casos, que posso contar depois.
  • A primeira foto é do Rio de Janeiro, e a segunda é sobrevoando Lisboa, com o Rio Tejo e o Atlãntico, a 41.000 pés de altitude.

3 comentários:

  1. E os urubus, ainda são problema em Guarulhos?
    Qq. hora coloca uma foto do canal de São Sebastião?

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  2. Puxa, estou curtindo este blog. Histórias interessantes (nas alturas) e bem escritas. Parabéns.

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  3. Betão, não te conheço muito, mas estou gostando muito e espero um dia conversar sobre esses fatos em um desses encontros de familia.

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