Em 1987, quando a Varig iniciou a operação do 737 serie 300, a Rede Globo exibia no horário das 19 hs a novela Brega e Chique. Neste folhetim, o ator Jorge Doria interpretava um personagem que era casado com duas mulheres, uma brega e a outra chique. Gloria Menezes interpretava a esposa que habitava o núcleo pobre e brega da trama, enquanto Marilia Pera era a esposa nobre, rica e chique. Fez muito sucesso a novela, com o padrão Global!
Foi uma questão de capítulos para que os tripulantes apelidassem a frota de 737 que voava no Brasil.
O 737-2oo que voava na Varig desde 1974, já era uma evolução da série 100, e por isso era chamado pela própria Boeing de Super Advanced. O 200 não possuía sistemas autônomos de navegação (GPS, inercial ou sistema Doppler), e por isso os pilotos tinham que estar atentos aos métodos básicos de navegação em rota. Carregávamos e frequentemente usávamos réguas de calculo especificas para aviação, bem como transferidor que eram úteis ao efetuar desvios em rotas desprovidas de cobertura radar. O Brega também não possuía qualquer instrumento ou indicador digital na cabine de comando, era tudo analógico, com ponteiros e sem computadores de bordo. O piloto automático era pouco eficiente nas fases de decolagem/subida e aproximação /pouso, por isso, muitas vezes voávamos “na mão”, ou seja, com o piloto automático desligado. Este grande avião foi uma grande “escola” para nós pilotos.
O 300 foi uma grande evolução do 200! Era dotado de sistemas modernos de navegação, mais informações nos painéis da cabine, motores mais silenciosos e econômicos.
Carregava 134 passageiros, ou um pouco menos quando possuíam a classe executiva. Aos poucos o Chique foi assumindo as rotas mais nobres da Varig. Destinos que antes eram servidos pelo obsoletos 727, passaram a ser voados de 737-300. Lugares como Santiago do Chile, Buenos Aires, Lima e outra localidades começaram a ser visitados pelo chique 300.
Enquanto isso o Breguinha voava cada vez mais para Cruzeiro do Sul, Rio Branco, Tefé, Tabatinga e outros destinos considerados menos nobres. Que me perdoen os moradores dessas localidades... Havia inclusive uma suposta diferença entre os grupos de pilotos. Parece que os que voavam o 200, incorporavam uma personalidade brega, enquanto os colegas do 300 se achavam o máximo! Alguns diziam em tom de brincadeira, mas no fundo realmente se achavam os TIGERS da aviação.
Voei o Brega por 8 anos seguidos. Inicialmente como co-piloto, para em 91 ser promovido a Comandante. Tive a oportunidade de ser Comandante-Instrutor, e mais tarde Comandante-Checador, sendo responsável por vôos de avaliação e cheque dentro do grupo. Tanto no avião como em simulador, aprendi muita coisa neste período.
Em 97 passei a voar o chique. Os vôos eram mais longos (menos pinga-pinga) e pude conhecer outros destinos na America Latina. Além disso, ao voar o 300, poderia concorrer a uma vaga na Ponte Aérea. Em 99, iniciei um período de quatro anos e meio voando na Ponte Aérea. Sem duvida, uma das melhores épocas da minha carreira! O trabalho era um prazer, dormir todas as noites em casa era excelente não só para mim, como para a minha família. Minha mulher, sendo comissária de bordo, viajava com tranqüilidade, e meus filhos, que na época tinham 1 e 4 anos de idade estavam sempre com o pai por perto.
A minha idéia era ficar no Chique, voando na Ponte até o ano de 2010, quando então ao completar 45 anos de idade, e 21 anos de 737, iria para os vôos internacionais.
Mas a crise na Varig entrou em mais um capítulo “sinistro”. Havia rumores de parada de alguns 737 por falta de peças, além disso a Varig possuía um acordo operacional com a TAM. Eu temi que com isso a TAM assumisse todos os vôos da Ponte e eu tivesse que voltar ao vôos com muitas escalas e afastado de casa. Por outro lado a Varig estava aumentando a frota de aviões para as rotas internacionais, recebendo os MD-11 da falida Swissair.
Assim decidi que era hora de ir para a internacional, antes que esta chance deixasse de existir. No dia seguinte eu estava iniciando o curso para voar MD-11!
Sábia decisão! O 737, e em especial, a Ponte Aérea foi uma época maravilhosa, mas o que estava por vir seria ainda melhor.
História: O dia que um bombardeiro B-25 colidiu com o Empire State
Building, na cidade de Nova Iorque
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*Ative a legenda em português nas configurações do vídeo*
Em 28 de julho de 1945, o bombardeiro *North American B-25D-20 Mitchell*,
número de cauda *41-30...
Há 12 horas
E vc esta voando em qual empresa agora ?
ResponderExcluirquem sabe um dia tenho a sorte de pegar um voo com vc, e ir no jumpseat! :D
Oi Alê, vc é capaz de sacar em que empresa eu trabalho, se eu disser que estou voando o 737 NG?
ResponderExcluirClaro! :D
ResponderExcluirContinue com seu BLOG! Ele é ótimo!!
Moro em toulouse, depois te mando as fotos que andei tirando da fábrica da airbus... quer ?
Parabéns comandante, excelente blog! :)
ResponderExcluiratualmente o senhor faz SBGR-SBCT?
abraço!
Muito bom que o comandante tenha voltado com os posts,gostei de saber que o pessoal da aviação dá uma olhada nas novelas e adapta o que pode para seu dia a dia!!
ResponderExcluirComo disse o Alê acima eu tambem gostaria muito de um dia viajar no jumpseat,penso que deve ser uma experiencia unica!!
Essa questão do brega e chique deve rolar agora entre TAM e Pantanal...
ResponderExcluirEu já pedi jumpseat várias vezes, mas nunca deixaram, parece que é regra da companhia. No máximo aceitam uma visita à cabine já no solo. Coitado do Beto se o acharmos, vamos insistir até ele deixar!
Caro Beto,
ResponderExcluirMuito bom saber que além de excelente piloto, pai, marido e cunhado, você também escreve muito bem.
Do seu cunhado e fã.
Gerard
Olá Cmte. Beto, gostaria que postasse mais informações osbr eo MD-11, fantástica aeronave. Já ouvi dizer que é uma das mais difíceis de pilotar, é verdade? Gostaria que mostrasse um pouco sobre seus segredos e peculiaridades. Grande abraço, Antonio Arcoverde
ResponderExcluirComandante quando o sr efatizou que o piloto automatico era muito pouco usado nas aproximações devido a sua pouca eficiencia me gerou uma duvida que eu e um amigo discutimos quando executamos uma aproximação vor dme, o meu amigo sergio ele sempre executa as aproximações vor dme e por ndb através do fmc do 737-700ng e acoplado o piloto automatico, eu particularmente desacoplo o piloto automatico e executo tudo na mão as aproximações vor dme e ndb ou seja bloqueia, afasta gira base e pronto alinhado na longa final, na vida real o sr executa tudo pelo fmc estas aproximações conforme descritas acima ou no visual com aerodromo o sr desacopla o pl e leva a aeronave na mão mesmo. como são feitas estas aproximações na vida real?
ResponderExcluirEderson
Caro Antônio Arcoverde, vou escrever sobre o MD-11, um avião fabuloso, e em breve postarei. Aguarde!
ResponderExcluirCaro Ederson, o piloto automático do Brega era realmente ruim nas aproximações, principalmente na captura e manutenção do glide slope. Já no Chique, e principalmente nos NGs, o piloto automático é ótimo, preciso e confiável. O ideal é utiliza-lo nas aproximações por instrumentos, pois vc fica mais livre para monitorar os demais parãmetros do procedimento. Quando na final, em condições visuais e bem estabilizado, aí sim eu costumo desligar o A/P e levar na mão. Mas lembre-se: o automatismo está ali para te ajudar, ou seja se por qualquer motivo o automatismo estiver te atrapalhando ou gerando dúvidas quanto ao desempenho dele, não exite em desacoplar o A/P e voar na mão! Back to basic! Um abraço, Roberto..
Cte Carvalho, boa noite!!! estou aproveitando um tempinho aqui em GIG e lendo as histórias... Interessante, voei o "Brega" durante 4 anos (98-02) na Vasp...e nao sabia da origem do apelido...muito legal...estou achando muito interessante as histórias, está numa linguagem acessível, acho que dá pra virar livro hein!!!
ResponderExcluirUm abraço!, Bons voos, em céus de Brigadeiro!
Roberto, estou de volta, agora comentando novamente, rsrs...
ResponderExcluirAgora que você deu a dica do 737 NG, descobri enfim pra qual companhia você trabalha rsrs... Atualmente, vc voa para que destinos, e saindo de onde? Vou me programar, vou conseguir e vou voar um dia com vc, rsrs!
Abraços, continue assim!
PS: O que vc me diria da Azul Linhas Aéreas Brasileiras? Abraços!
Olá Roberto, muito bom o seu blog, visito todos os dias para ver as matericas sobre suas historias na ETERNA Varig, estou começando o PPA no RIO de Janeiro, como ainda nao tenho 100% de conhecimento no ramo, recomenda que eu faça a FACUL de Ciencias Aeronauticas antes de fazer o PC ou melhor proseguir nos cursos dos Aeroclubes até o PLA?
ResponderExcluirGrato e Bons Voos nos NG's
Caro Carvalhinho. Seu blog já chegou ao meu enteado e seus colegas. Todos pilotos, começando suas carreiras, como nós há anos atrás só que em máquinas mais modernas, com GPS e FMS. Já pensou se na época dos Electras tivéssemos tudo isso? Com certeza não seria tão glamoroso como foi. Bons tempos aqueles!Chegadas visuais pelo litoral, pelo Cristo, Boca da Barra...os passageiros tinham um "happy hour" a bordo depois das 17:00 hs. Ainda bem que temos boas lembranças, não é? É o que fica dessa vida.
ResponderExcluirParabéns pelo blog e pode contar com meus comentários de vez em quando.
Abraços.