quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Caleidoscópio de gente


Uma das coisas bacanas ao se trabalhar na aviação comercial é que a cada nova viagem, temos a chance de conhecer novas pessoas. Entre os tripulantes de um voo há quase sempre alguém que já conhecemos a também alguém com quem nunca voamos. Quanto maior for a programação do vôo, seja ela de dois, três e até 5 dias voando com a mesma tripulação, maior será o entrosamento entre os tripulantes. Se a tripulação é bacana, a programação fica ainda mais legal, com o pessoal se reunindo nos pernoites, saindo para jantar e passear. Claro que uma tripulação com homens e mulheres é melhor que uma tripulação só de homens, mas é bom que se diga, que mais vale uma rapazeada legal do que umas mulheres enjoadas! E por falar em mulheres, quando a programação é longa, a saudade de casa aperta, e pode acontecer a síndrome da "Creuza; Neuza; Deusa"; onde no primeiro dia, mal se nota a presença de uma das comissárias. No segundo dia, já se percebe que ela faz parte da tripulação. No terceiro dia já se presta atenção no mome dela: chama-se Creuza! Mais um dia e ela já foi promovida a Neuza, e a partir do quinto dia ela passa a ser chamada de Deusa! O grupo de pilotos de um modo geral é mais homogêneo, pois a maioria tem uma história parecida de paixão pela aviação desde muito cedo, porém no grupo dos comissários(as) as origens e histórias são mais diversas. Isso me lembra de um colega comissário que conheci numa programação de 5 dias voando por Cuiabá, Manaus e Belém. Em vôo, ele parecia um rapaz absolutamente normal, igual aos demais colegas, porém quando chegava no hotel ele passava por uma metamorfose. Usando pulseiras e colares de couro, num estilo Hippie dos anos 90 e com adereços indígenas, ele até mudava o jeito de falar. Muitos comissários "cairam de para-quedas na profissão", nunca haviam pensado na possibilidade, quando então por algum motivo se inscreveram na seleção de admissão de uma empresa, foram contratados, receberam o curso e começaram a voar. Uns trabalham por alguns anos somente, outros estão voando até hoje...Antigamente as empresas aéreas exigiam apenas o 2º grau completo para admissão de comissários, mas já a algum tempo elas exigem que o candidato já tenha feito um curso de comissário de bordo em uma das dezenas de escolas de aviação civil, e sido aprovado em provas da ANAC. Assim, antes mesmo de entrar na profissão, o candidato já tem que desembolsar uma grana. Mas voltando ao assunto, este colega ao ser indagado sobre a quantidade de adereços indígenas, contou que durante as férias , em vez de pegar uma passagem para fazer turismo no Nordeste, EUA, ou Europa, teve um momento de inspiração e resolveu passar um mês isolado em uma tribo indígena no Acre! Levou pouca roupa e o violão. Após desembarcar no aeroporto de Rio Branco, pegou um ônibus, mais uma boa caminhada e um barco para finalmente chegar ao destino final. Na tribo havia somente 3 pessoas que falavam português, mesmo assim com certa dificuldade. Viveu como eles, comeu como eles, pouco se vestiu, dormiu no chão ou em redes. Das coisas que ele contou de sua experiência com os índios, uma me chamou a atenção: Apesar da tribo viver isolada, sem televisão, ou rádio, todos conheciam e gostavam de futebol. Então 2 times foram organizados para os jovens e crianças da tribo disputarem não só o jogo, mas também qual dos times iria contar com a presença ilustre do nosso amigo comissário. Lá pelas tantas o time em que ele jogava tomou um gol! Ato contínuo, todos correram e gritaram comemorando o gol, inclusive o time dele e o prório goleiro que sofreu o gol! Ele nada entendeu na hora, afinal o razoável seria comemorar gol efetuado, e não gol sofrido. E a situação se repetia a cada gol, quando todos comemoravam e pulavam felizes. Depois ele compreendeu que na lógica da tribo, o futebol é para se divertir e fazer gol, assim, independente de quem fizesse o ponto, todos comemoravam. Bacana, né?

14 comentários:

  1. Pessoas assim que temos prazer em conhecer. Sabem absorver e transmitir coisas boas.
    Abs.

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  2. Enquanto isso no mundo civilizado, tomar um gol é um ótimo motivo pra depredar o que encontrar pelas ruas e promover guerra civil entre torcidas...

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  3. Bela postagem! Filosofei.

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  4. Que legal, gostei do futebol dos indios.

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  5. Comandante em que ano foi tirada esta foto, qual posição na foto o sr esta?

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  6. Sou o 1º Índio ao lado esquerdo da foto, e quando criança sou o indiozinho à direita. Brincadeira.... A foto dos tripulantes, são de uma turma de comissários e comissárias que deve ter sido tirada em 91 ou 92. Não consegui identificar ninguém embora eu possivelmente tenha voado com todos eles. Se alguém conseguir reconhecer um deles, me indique quem é. Abç Roberto

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  7. Enquanto uns comemoram um Gol sofrido, outros choram pelo Brasileirão... eu nem me empolgo tanto... meu time nunca ganha hahaha! Parabéns pelo POST Amigo! Novamente, inspirador!

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  8. Achei que vc. fosse o segundo, da esquerda para a direita, na segunda fila dos homens...

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  9. Talvez devessemos trazer alguns indios para a
    CBF, eles ajudariam a organizar o campeonato e
    ensinariam os torcedores a se comportar!!
    Muito bom o post,pois alem de falar do mundo
    da aviação nos dá dicas de outras culturas!!
    Walmir

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  10. Achei interessante pelo fato dos comissarios usarem paleto e kepe, parecem comandantes hehhe, diferença para os uniformes atuais... falando em uniforme eu não gostei muito dos uniformes da azul, as faixas dos comandantes na manga do paleto são brancas.

    Ederson

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  11. Comandante, boa noite! Encontrei o seu blog, digamos, por acaso e estou gostando muito dos seus relatos... Muito interessante esse texto sobre o comissário ''quase indígena'' hehehe. Gostaria de saber como faço para entrar em contato com o sr, via e-mail. O meu é: salomao.diniz@terra.com.br

    Forte abraço e bons vôos!

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  12. Lembro de vários rostos, mas não dos nomes :(
    E a foto foi tirada em cima das escadas que usávamos pra por óleo na hélice e nos motores Allison 501-D13

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  13. Carvalhinho!
    A foto de comissários é da turma 11/1990. Conheço algumas e com certeza uma delas voou muito contigo na Ponte Aérea! Na fileira de cima, a segunda da direita pra esquerda é a Cristiane Fonseca! Acredite se quiser, tá bem diferente...Ao lado esquerdo dela, Debora Scwartz, a japonesa é Lina Miazaki e a primeira da fileira de baixo, na direita, é a Gilian! Só conheço esses, não são do meu tempo, entrei muito depois disso!!! kkk! Será que tu adivinha quem sou eu??? Bjs!

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  14. Difícil advinhar, muito difícil....Bj Carvalho

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